Anastásia Smirnova ainda estava com a perna roxa pelo tombo que levou em seu último serviço. Por sorte, com a confusão, ninguém viu a queda ridícula que havia levado, então, a vida continuava, enquanto ela se dedicava a fazer compressas geladas em seus hematomas.
O importante era que o serviço fora finalizado com sucesso.
— O que você tem pra mim hoje, velho escroto? — inquiriu Anastásia, assim que atendeu a chamada em seu telefone celular.
— Se continuar me chamando assim, não te darei mais trabalho.
— Se faz isso é porque sabe que vou executar sem falhas. Agora vamos, não tenho o dia todo.
— Temos um alvo quente. Vou te passar as informações de um celular pré-pago, mas é bom correr, porque em breve todo o esgoto estará sabendo.
— Como assim? — inquiriu, mastigando um pedaço de bolacha.
— O próprio Mago vai anunciar a recompensa e logo todo mundo vai atrás dele.
— Nossa — disse, com falsa admiração, fingindo que estava vomitando. — Passa logo as informações que ele será meu.
Finalizou a chamada e apoiou o celular na pia da cozinha, mas o aparelho escorregou e caiu. Quando foi pegá-lo, o pacote de bolacha também foi ao encontro do chão.
— Merda — bradou quando, ao se levantar, bater a cabeça no mármore.
Depois de colocar tudo em seu devido lugar, resolveu se sentar, pois somente assim não corria risco de acabar se matando.
Aguardou Anton enviar as informações e fez questão de anotar todos os detalhes em uma folha de papel.
Jamais se arriscaria colocando informações importantes em seu celular, não dava sorte ao azar, simplesmente porque não queria passar o restante de seus dias presa.
Após anotar tudo, apagou a mensagem e encarou a parede mofada de sua cozinha.
Há um ano, quando havia começado naquele caminho tortuoso, jamais imaginou chegar onde estava naquele momento.
Óbvio que havia diversos mercenários no mercado e com muito mais experiência e fama do que ela, porém, era muito boa no que fazia e estava em uma crescente significativa, de modo que logo não precisaria mais de Anton.
Anastásia o detestava, contudo, era através dele que sabia das recompensas que rolavam no submundo para diversos serviços.
Conheceu-o por intermédio de um colega e o escroto se tornou uma espécie de "cafetão" para ela. Uma vez que era ele quem, em primeira mão, lhe dava os nomes das cabeças mais quentes que estavam a prêmio, ficando com sessenta por cento do valor que ela recebia.
Era completamente injusto, mas para quem estava começando, era melhor que nada.
Quando decidiu iniciar nesta vida, Anastásia foi em busca dos melhores treinadores de tiro, luta, arremesso de faca, entre outras coisas. Ela queria se tornar excelente no que fazia e conseguiu, pois jamais perdeu um alvo.
No fundo, não se orgulhava disso, muito pelo contrário, pois não era esse o caminho que almejava para si.
Quando adolescente, era como qualquer outra menina que sonhava com um amor para chamar de seu, uma carreira sólida, viagens anuais com a família e dois cachorros correndo pelo quintal. No entanto, o destino a quis matando pessoas em troca de dinheiro e era o que tinha para aquele momento.
Ficar lamentando o que não havia saído como planejado não a ajudava, por isso não perdia seu tempo com lamúrias, até porque isso era algo que ela não tinha.
Durante o dia, mantinha um emprego em uma livraria, somente para sustentar a fachada de boa moça para, de noite, se transformar numa mercenária impetuosa. Se não fosse trágico, poderia até rir daquela vida dupla que levava, contudo, não fazia aquilo por capricho, Anastásia precisava de dinheiro, muito dinheiro.
Tinha sorte do seu emprego "normal" ter horário flexível e de sua patroa ser uma senhora de oitenta anos. A loja abria tarde, quase sempre fechava cedo e não funcionava aos fins de semana, resumindo, era o emprego ideal para qualquer pessoa, exceto pela miséria que ganhava, por isso ninguém parava por lá.
Por sorte, Anastásia precisava dele somente para disfarçar e, mesmo assim, ainda guardava o pouco que ganhava, afinal, dinheiro era dinheiro e ela ainda não estava louca em rasgá-lo.
Seus pais foram pessoas boas, que lhe ensinaram como ser responsável e correta, mas, obviamente, ela não conseguiu absorver tudo de forma certeira. Se eles não tivessem morrido, decerto não aprovariam a vida que levava, contudo, se estivessem vivos, ela provavelmente não estaria naquela situação.
Sua mãe havia morrido de câncer de pulmão, de tanto que fumava, já seu pai... Ficou depressivo com a morte da esposa e morreu meses depois do coração. Isso era o que Anastásia poderia chamar de sintonia amorosa.
Depois que eles se foram, seu mundo virou de pernas para o ar e ela direcionou suas energias para ganhar dinheiro, pois era a única coisa que importava no momento. Não tinha tempo nem disposição para relacionamentos, e apesar de não ser nenhuma puritana, não poderia dizer que seu catálogo de homens era superior ao que suas mãos poderiam contar – simplesmente porque fugia de todos os pretendentes –. Havia prioridades em sua vida, de modo que não cabia nenhum relacionamento em sua rotina maluca.
Anastásia chamava bastante atenção por sua aparência. Era uma mulher alta, com 1,78m de altura, tinha a pele bronzeada e cabelos compridos e escuros. Apesar de se considerar magra demais, os peitos e a bunda eram generosos, nem pareciam fazer parte de seu corpo.
Era uma mulher bonita, mas nunca permitiu que isso determinasse suas decisões, já que acreditava ser muito mais que aparência. Reconhecia seus atributos, bem como seus defeitos.
Um deles era o fato de não se cuidar tanto quanto deveria.
Mantinha treinos constantes devido ao trabalho que executava, mas nunca teve ânimo para passar cremes, hidratar os cabelos ou esfoliar o corpo. Essas coisas ela deixava para mocinhas normais que ainda sonhavam com o príncipe em um cavalo branco, porque para Anastásia havia restado somente uma boa dose de determinação e um ótimo senso de humor.
Quem diria que aquela menina doce se daria tão bem com uma arma? A vida era mesmo muito louca, no entanto, mesmo tendo se tornado uma mulher letal, ainda possuía dentro de si parte daquela garotinha que conseguia transformar a dificuldade em algo mais leve.
— Caralho! — xingou, após derrubar um pouco do suco que bebia na folha com as informações que havia acabado de anotar. — Você é a porra de um desastre ambulante — falou consigo mesma, tentando secar com a manga da camisa que usava.
Era a porra de uma mercenária, mas também um desastre ambulante. Uma combinação perigosa, pensou ao ver que tudo havia virado um aglomerado de tinta azul. A única coisa que ainda conseguia enxergar era o nome do seu alvo, Maksim Vasiliev, pois o restante ficou completamente ilegível.
Merda! Teria queligar para o velho escroto e pegar as informações mais uma vez.
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DEGUSTAÇÃO - Dominando a Fúria - Livro 02
RomanceSe havia alguém que sentia prazer em arrancar o sangue de seus inimigos, essa pessoa era Maksim Vasiliev. Após o assassinato brutal de sua esposa e filho, ele se fechou em seu próprio mundo, não permitindo a aproximação de mais ninguém, e se afundo...