Dois

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Manhattan, New York, EUA
Sina Deinert's point of view

Não me atrasei para a reunião.

Desde aquele dia, há um ano e oito meses, eu nunca me atrasei.

Por quê?

Noah Urrea.

Uma vez. Bastou um único atraso para Noah jogar isso na minha cara sempre que podia.

Ele nunca relacionou isso ao fato de eu ser alemã ou mulher. Ambos estereótipos injustificados no que diz respeito à falta de pontualidade.

Noah não falava bobagem. Ele destacava fatos. Declarava verdades verificáveis. Fora disciplinado para isso, como qualquer outro engenheiro na empresa de consultoria onde trabalhávamos, incluindo eu. E, tecnicamente, eu tinha, sim, me atrasado. Naquela única vez meses antes. Era verdade que eu tinha perdido os primeiros quinze minutos de uma apresentação importante. Também era verdade que Noah era o responsável – aquela tinha sido a primeira semana dele na InTech –, e mais uma vez era verdade que minha entrada tinha sido um tanto escandalosa e envolvido uma garrafa de café derrubada sem querer.

Em cima da pilha de documentos que Noah tinha preparado para a apresentação. Ok, ok, e um pouco na calça dele também.

Não é a melhor maneira de causar uma boa impressão em um novo colega, mas fazer o quê? Coisas desse tipo acontecem o tempo todo. Acidentes ínfimos, não intencionais e inesperados como esse são coisas comuns. As pessoas superam e seguem em frente.

Mas Noah, não.

Em vez disso, todas as semanas e todos os meses desde então, ele soltava provocações como: "Tente não se atrasar para a reunião das dez. Já perdeu a graça."

Em vez disso, toda vez que ele entrava em uma sala de reuniões e me encontrava em meu assento, dolorosamente cedo, olhava para o relógio de pulso e erguia as sobrancelhas, surpreso.

Em vez disso, ele tirava jarras de café do meu raio de alcance, fazendo um gesto de cabeça de advertência na minha direção.

Era isso que Noah Urrea fazia em vez de deixar o incidente para lá.

— Bom dia, Sina.

A voz suave de Lucas veio da porta.

Eu sabia que ele estava sorrindo antes mesmo de olhar para seu rosto, como sempre.

Guten Morgen, Lucas. – respondi na língua materna que compartilhávamos.
(Bom dia)

O homem que eu considerava um tio após ter sido recebida em seu círculo familiar próximo colocou a mão em meu ombro e apertou levemente.

— Tudo bem, schatz?
(querida)

— Não posso reclamar – falei, retribuindo o sorriso.

— Você vai no próximo churrasco? Vai ser no mês que vem e a Melanie fica o tempo todo falando para lembrar você. Ela vai fazer weisswurst dessa vez, e você é a única que vai comer.

Ele riu.

Era verdade; ninguém da família Müller era fã do prato alemão à base de salsicha branca. O que eu não conseguia entender.

— Pare de fazer perguntas bobas, seu velho – falei, agitando a mão e sorrindo. — É claro que eu vou.

Lucas ocupava o lugar de costume à minha direita quando os três outros colegas invadiram a sala, murmurando seus bons-dias.

Deixando o riso fácil de Lucas, meu olhar foi até os homens que faziam a volta na mesa para se reunir na formação costumeira das dez horas.

Noah logo surgiu à minha frente, as sobrancelhas erguidas e o olhar encontrando o meu brevemente. Observei seus lábios virarem para baixo enquanto ele puxava uma cadeira.

The german love deception | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora