Vinte e seis

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Manhattan, New York, EUA

Sina Deinert's point of view

Yoon foi para casa comigo naquela noite.

Nos enrolamos embaixo de um cobertor na minha cama e assistimos a Moulin Rouge. Mais uma vez, no meu notebook. Que trágico — encontrar o amor e vê-lo escapar por entre os dedos diante dos seus olhos. Sempre me perguntei o que Ewan McGregor teria feito se soubesse desde o instante em que conheceu o amor de sua vida que a história não ia durar mais que cento e trinta minutos. Será que ele pegaria a mão dela e pularia? Será que ele se agarraria ao tempo que lhe restava, ainda que fosse pouco? Será que ele se deitaria ao lado dela sabendo que aquele espaço nunca mais seria preenchido depois que ela se fosse?

Yoon nem pensou antes de responder.

— Com certeza — sussurrou. — Quando você encontra um amor como esse, o tempo não importa. Aconteça o que acontecer, Sina, ele a amaria mesmo se eles tivessem pouco tempo.

Então, nós duas nos acabamos de chorar. Yoon porque ela nunca conseguia se segurar quando começava "Come What May", e eu... bom, principalmente porque aproveitei a desculpa.

Então, chorei. Deixei que as lágrimas caíssem em cima do celular que eu estava segurando. À espera de uma ligação, uma mensagem, um sinal que eu sabia que não merecia. Mas é isso o que covardes como eu fazem. Dão para trás, se escondem embaixo do cobertor e choram ao som de "El Tango de Roxanne".

Argh. Eu não estava gostando nem um pouco de mim mesma.

Mas, aconteça o que acontecer, eu teria que conviver comigo mesma pelo resto da vida. E encontrar consolo nos poucos e bons momentos que tive com Noah. Tive. Passado. Porque quando ele me pediu para correr na direção dele, eu não tinha conseguido e me afastei. Quando ele me pediu que eu confiasse nele — em nós —, eu não tinha sido capaz, embora eu achasse que seria.

Eu havia afastado Noah. Eu era a única responsável por isso.

Merda. Eu queria ele comigo. Queria que remendássemos os cacos daquela bagunça juntos. Queria que ele me dissesse que acreditava que ainda tínhamos jeito. Que, colados os pedaços, ficaríamos novinhos em folha.

Mas pensar assim era muito egoísta e ingênuo da minha parte. E burro. Às vezes, por mais que desejemos uma coisa, não estamos destinados a tê-la, a ficar com ela. Não quando isso vai complicar todo o resto. E aquela coisa — amor, porque era isso o que era — entre nós fazia exatamente isso. Complicava nossa vida, o futuro das duas carreiras.

Estávamos tropeçando um no outro, fazendo o outro cair, exatamente como Joel me disse anos antes. Acabaríamos nos ressentindo um do outro. Porque é isso que o veneno que sai de bocas maliciosas faz. Corrompe tudo. E eu sabia muito bem o quanto.

Então, depois do chororô causado por Moulin Rouge, o dia seguinte foi obviamente uma merda. Talvez tenha sido um dos mais tristes da minha vida, e olha que eu já tinha passado por alguns. Passei o dia me arrastando e sabe-se lá como dera um jeito de sobreviver ao Open Day, de oito à meia- noite, com um bando de engravatados sem rosto. Nomes e feições me escapavam completamente, e apresentei todos os tópicos como se cada palavra estivesse sendo arrancada de mim. Se Jeff estivesse lá para testemunhar aquela tentativa fracassada de ser acolhedora, simpática e acessível, ele teria me demitido na mesma hora.

E eu nem teria me importado.

Às vezes a vida era irônica assim.

Quando entrei no prédio pelo segundo dia sem Noah — percebi que era como eu contava o tempo agora —, esperei que os sussurros dos meus colegas chegassem a meus ouvidos e seus dedos estivessem apontados para mim por nenhum outro motivo que não as acusações públicas de Gerald. Quando o relógio bateu cinco da tarde — depois de eu ter passado o dia querendo e temendo ver Noah, tudo ao mesmo tempo —, nada tinha acontecido. Nenhum dos meus colegas sequer havia piscado para mim. Nenhum boato

The german love deception | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora