Sete

380 26 2
                                    


Manhattan, New York, EUA
Sina Deinert's point of view

No carro, passamos os quinze minutos mais longos da minha vida em silêncio, até que decidi que eu não aguentava mais.

Eu não estava a fim de jogar conversa fora e sabia que esperar que Noah  dissesse alguma coisa seria como esperar que uma parede de tijolos se abrisse e revelasse um portal para um mundo mágico. Mas, se eu não dissesse nada para preencher o silêncio, seria obrigada a saltar do carro em movimento.

— Então, um evento beneficente...

No espaço reduzido e silencioso, as palavras soaram altas demais.

Noah assentiu, mantendo o olhar à frente e as mãos no volante.

— Por uma boa causa, imagino.

Ele assentiu mais uma vez.

— É um evento anual?

Um grunhido afirmativo.

Se ele não começasse a falar, se não dissesse qualquer coisa, eu não saltaria do carro em movimento, eu jogaria ele do carro.

Eu precisava de alguma pergunta que não exigisse apenas sim ou não como resposta.

— E qual é a modalidade de arrecadação?

Ele pareceu pensar por um instante, quase me fazendo acreditar que teria mesmo que jogá-lo do carro.

— Leilão.

Finalmente.

— O que vai ser leiloado? – perguntei, remexendo na pulseira simples de ouro que eu havia colocado, esperando uma resposta que não veio.

— Arte? Aulas de golfe? Um iate?

Nada. Nenhuma resposta.

— A cueca do Elvis?

Isso arrancou uma reação, que foi ele me olhar confuso, mas logo voltou a atenção ao tráfego.

— Quê? – retruquei, dando de ombros. — Fiquei sabendo que leiloaram uma cueca que ele usou em um show nos anos setenta.

Noah balançou a cabeça. O Sr. Certinho provavelmente estava escandalizado, mas continuou sem falar nada, então continuei preenchendo o silêncio.

— Calma. Ninguém comprou.

Analisei seu perfil em busca de alguma reação. Nada.

— Ninguém nem deu lance. Não entendo muito de leilões. Quase nada, na verdade, mas pelo visto ninguém queria a cueca usada do Elvis – falei, contendo uma risada. — O que, para falar a verdade, meio que fortaleceu minha fé na humanidade. Nem tudo está perdido, né?

Uma mínima reação em um músculo da mandíbula.

— Afinal, quem ia querer uma coisa dessa? E o que é ainda mais assustador: para quê? Colocar em um quadro? Imagina, você vai na casa de alguém e dá de cara com uma cueca usada emoldurada em cima do sofá. Ou no banheiro.

The german love deception | noartOnde histórias criam vida. Descubra agora