Vinte e sete

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Manhattan, New York, EUA

Sina Deinert's point of view

Tinha um programa que eu amava quando era adolescente. Um seriado americano que passava em um dos canais nacionais da Alemanha — dublado, é claro. Eu amava. Adolescentes com grandes sonhos e egos ainda maiores — ou corações, é uma questão de opinião —, reviravoltas angustiantes e um nível de drama que uma pessoa de dezesseis anos não deveria vivenciar, pelo menos não em uma cidadezinha da Carolina do Norte. Ou do sudoeste da Alemanha. E talvez fosse por isso que aquilo tudo me encantava tanto.

Um dos episódios por algum motivo me tocou mais que qualquer outro. Começava com uma narração em voice-over perguntando algo como "Qual é a menor quantidade de tempo que tem o poder de mudar sua vida? Um ano? Um dia? Alguns minutos?".

A resposta a essa pergunta era que, quando se é jovem, uma hora pode fazer a diferença. Pode mudar tudo.

E eu... discordava totalmente.

Não é preciso ser jovem para que a vida mude em uma hora, alguns minutos ou mesmo alguns segundos. A vida muda o tempo todo, incrivelmente rápido e terrivelmente devagar, quando menos se espera ou depois de um tempão correndo atrás da mudança. A vida pode virar de cabeça para baixo, do avesso, de trás para a frente ou até mesmo se transformar em outra coisa totalmente diferente. E isso acontece em qualquer idade, mas, mais importante, a qualquer tempo.

Momentos capazes de mudar o rumo da vida podem durar alguns segundos ou décadas.

Faz parte da mágica da vida. De viver.

Em meus vinte e oito anos de vida, eu tivera poucos momentos como esse, bem diferentes entre si. Alguns duraram segundos, não mais que um vislumbre ou um instante de tomada de consciência. Outros duraram minutos, horas, semanas até. De qualquer forma, dava para contar nos dedos. Eu lembrava deles de cor. A primeira vez que coloquei os pés no mar. A primeira equação que resolvi. Meu primeiro beijo. Me apaixonar por Joel e superá-lo. Todos aqueles meses terríveis depois do término. Embarcar para Nova York para começar uma vida nova. Testemunhar minha irmã entrar na igreja com o sorriso mais feliz que já vi em seu rosto.

E Noah.

Eu achava que não seria capaz de escolher um único momento no que dizia respeito a ele. Porque era ele o que fazia com que aquele momento fosse importante. Importante a ponto de mudar a minha vida.

Dormir em seus braços. Ver aquele sorriso que eu sabia que era só para mim. Acordar ao som de sua voz, sentindo o calor da pele dele. Ver seu rosto se fechar. Ele se afastar. Sua ausência.

Todos esses momentos deixaram marcas no meu coração. Em mim. Todos me mudaram, me transformaram em uma pessoa que se permitia se abrir, amar. Que se permitia precisar e que queria se entregar não a qualquer pessoa, mas a ele.

No entanto, por mais que eu jamais pudesse apagar todos aqueles momentos que fizeram com que eu me apaixonasse perdidamente por ele, por mais que achasse que aquelas marcas jamais desapareceriam, foi o instante em que percebi que eu precisava pegar um avião até Seattle e encontrá-lo que pareceu... transcendental. A percepção de que eu tinha aberto mão de Noah cedo demais, por descuido. Por bobeira. O momento em que percebi que nada mais importava. Que nada me impediria de correr para os braços dele, de estar lá para apoiá-lo quando ele mais precisava de alguém.

Seria tarde demais? Será que o relógio ainda estava registrando os minutos do momento que mudaria minha vida para que eu pudesse voltar atrás, ou eu tinha perdido a chance?

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