Alguém pigarreia, quebrando nossa conexão, fazendo nossas mãos e olhos se afastarem. A ausência do seu toque revira algo dentro de mim. "O que era aquilo?" Respiro fundo, encarando meu colo, recompondo-me antes de olhar para a Camila, sinto minhas bochechas arderem. Ela leva o copo na boca para esconder o sorriso.
— O que acham de se sentarem à nossa mesa? — convida Lucas, enquanto Raul observa a tela do seu celular.
Eu e a Camila nos entreolhamos, meu coração marcha dentro do peito.
— Por mim, tudo bem — respondo. Ela sorri, levantando-se da mesa com seu copo de caipirinha em mãos, sentando-se na cadeira livre ao lado de Lucas. Levanto, pego minha bolsa pendurada no encosto da cadeira.
— Vem, Beta — chama-me Camila.
— Calma — respondo, pegando, com a mão livre, meu celular e minha caixinha de balas em cima da mesa.
O copo! Puta merda! Ainda tem o copo.
"Porra, Roberta! Não fode com tudo."
Encaixo a alça da bolsa no antebraço e me inclino para apanhá-lo. Sou surpreendida por uma rajada de vento. A maneira como sopra, por debaixo de meu vestido de verão esvoaçante, não tão curto, mas curto, dá-me a sensação de não sentir o toque do tecido contra a minha pele. Então, um corpo bruto bate contra o meu, antes que eu faça alguma coisa por mim. Perco o equilíbrio e a metade da caipirinha. Suas mãos seguram o tecido para baixo com brutalidade. Olho para trás assustada, encontrando o Raul, que me encara de volta com um olhar duro.
— O vestido, estava levantando — justificasse. — Me dá aqui — diz ele sem paciência, tirando o copo da minha mão.
Engulo a seco, afetada. Ele volta para a mesa, deixa o meu copo sobre ela, pula a cadeira, antes sua, para me dar lugar. Senta-se ao lado.
— Obrigada — agradeço-lhe, tímida, ainda mexida com a sua atitude. Olho para Camila, já entretida em uma conversa com Lucas. Deus! Que facilidade era aquela em parecerem se conhecer há anos?
— Senhor Cortez, o chefe disse que é por conta da casa — avisa o garçom ao Raul, assim que aparece na nossa frente. Deixa sobre a mesa um copo cheio de gelo e um líquido transparente até a boca. Em seguida, um igual para o Lucas, acompanhado de uma lata de energético. Os lábios do Raul se erguem na lateral da boca, esboçando um sorriso.
— Fala para o Mário que não precisa — responde ao garçom, com sua voz grossa, sexy.
— Agora eu gostei de ver, senhor Cortez! — fala Lucas brincando com o amigo e pegando o copo da mesa. — Quem tem amigo importante é outra coisa — completa, levantando-o para brindar. Raul balança a cabeça em negação, sorrindo. Tira seu copo da mesa e bate de leve, brindando com o Lucas. Rindo, os dois bebem.
— Agora, com vocês, meninas, vamos lá — incentiva Lucas.
Assim, fazemos.
— Vodca pura? — pergunta Camila a Raul.
— É, eu não posso tomar energético — confirma.
— Por quê? — questiona.
Que mal-educada! Sua curiosidade não tem limites.
— Fico acelerado — responde, nitidamente, acabando com a conversa.
— Relaxa, gata, o senhor Cortez tem muitas manias — afirma Lucas para a Camila.
"Tem?" — penso olhando para ele, que me encara de volta, com seus olhos negros, brilhando.
— E essa caipirinha, com adoçante, é boa? — me pergunta Raul em particular.
Eu seguro a risada.
— Eu prefiro com açúcar — confesso.
— Então? — cobra.
Levanto uma sobrancelha, mordo o canto do meu lábio inferior e encaro a Camila conversando com o Lucas.
— A Mila é cheia de manias — respondo ao olhar de volta para ele e seu olhar intenso.
— Eu gosto de você — afirma, bebendo mais o seu drinque.
Eu não quero reagir a cada palavra que diz, mas é praticamente impossível. Estou sendo óbvia? O sorriso grande que aparece no seu rosto, dá-me a entender que sim. Aliás, seus dentes são perfeitos. Sorrio sem graça, incomodada, viro-me para frente, ficando ereta.
Raul avança no pouco espaço entre ele e a mesa. Pega um saquinho de açúcar de dentro da cestinha, disposta ao centro. Rasga a parte de cima e verte dentro do meu copo. Mistura com o canudo, tira-o da mesa e me oferece.
— Que se foda a mania dos outros — fala para mim em particular.
Engulo a seco, respirando mais ofegante do que gostaria. Seus olhos negros me fitam de volta deixando-me estática.
— Posso dar na sua boca se quiser — afio meu olhar para ele e tomo o copo da sua mão.
— Tin Tin? — pergunta, pegando o seu copo, parando com ele à nossa frente.
— Tin Tin — respondo, batendo o meu de leve no seu. Ele concorda com a cabeça antes de levar à boca. Bebemos.
— A nós — diz com um olhar quente, antes de se levantar, avisando que já volta.
— Beta — A Mila me chama, rindo de algo, completamente entretida com os papos do Lucas. — Estava me lembrando aqui de como ganhei essa marca no joelho.
Eu balanço a cabeça concordando.
— Quando descemos a rua da minha avó, com o carrinho de rolimã — lembro e ela começa a rir sem parar.
Raul volta para mesa. Ótimo, ele ia ouvir a merda de história que ela contaria. "Porra, Camila!" Senta-se ao meu lado.
— Meu! A rua da vó da Beta é muito descida. O vizinho deixou o carrinho de rolimã de lado. Ela pegou escondido, porque ele não deixava a gente brincar.
Ela para a fim de rir. Eu para cobrir o rosto parcialmente com a mão.
— Então? — cobra Raul, interessado. O Lucas ri.
— Subimos até o topo da rua, a Beta sentou atrás por conta das pernas grandes, me sentei na frente dela e descemos. No meio do caminho, ela testou o freio, mas nada. Estava quebrado.
— Puta merda! — diz Lucas.
— Sim, foi desesperador — lembra Camila.
— Como pararam? — Raul se interessa.
— Fui parando com os pés e as mãos. Até que nos atacamos do carrinho — conto.
— Sim! E ele acabou espatifado por um caminhão que passou na rua de baixo —completa Mila.
— É e você berrava sem parar — comento.
— Claro! Perdi o tampão do joelho!
— E você? Chorou muito? — pergunta-me Raul.
— Não! A Beta dificilmente chora — responde Mila com inocência.
O cenho do Raul franze. Ele a encara e depois me avalia. Desvio dos seus olhos, tomando mais um gole da minha bebida, agora deliciosa.
— Vamos sair para dançar? — convida Lucas, ganhando nossa atenção.
— Eu topo — confirma Raul. — E você, Beta? Vem? — pergunta.
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Entre o Desejo e o Risco (( DEGUSTAÇÂO))
RomanceRoberta é designer de interiores, vive o melhor momento na carreira, com grandes clientes e uma infinidade de possibilidades. Há pouco tempo deixou a casa da mãe para ter sua própria casa. Um apartamento não muito longe. Após uma perda imensurável...