Capítulo 2 - Eu topo. E você?

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Alguém pigarreia, quebrando nossa conexão, fazendo nossas mãos e olhos se afastarem. A ausência do seu toque revira algo dentro de mim. "O que era aquilo?" Respiro fundo, encarando meu colo, recompondo-me antes de olhar para a Camila, sinto minhas bochechas arderem. Ela leva o copo na boca para esconder o sorriso.

— O que acham de se sentarem à nossa mesa? — convida Lucas, enquanto Raul observa a tela do seu celular.

Eu e a Camila nos entreolhamos, meu coração marcha dentro do peito.

— Por mim, tudo bem — respondo. Ela sorri, levantando-se da mesa com seu copo de caipirinha em mãos, sentando-se na cadeira livre ao lado de Lucas. Levanto, pego minha bolsa pendurada no encosto da cadeira.

— Vem, Beta — chama-me Camila.

— Calma — respondo, pegando, com a mão livre, meu celular e minha caixinha de balas em cima da mesa.

O copo! Puta merda! Ainda tem o copo.

"Porra, Roberta! Não fode com tudo."

Encaixo a alça da bolsa no antebraço e me inclino para apanhá-lo. Sou surpreendida por uma rajada de vento. A maneira como sopra, por debaixo de meu vestido de verão esvoaçante, não tão curto, mas curto, dá-me a sensação de não sentir o toque do tecido contra a minha pele. Então, um corpo bruto bate contra o meu, antes que eu faça alguma coisa por mim. Perco o equilíbrio e a metade da caipirinha. Suas mãos seguram o tecido para baixo com brutalidade. Olho para trás assustada, encontrando o Raul, que me encara de volta com um olhar duro.

— O vestido, estava levantando — justificasse. — Me dá aqui — diz ele sem paciência, tirando o copo da minha mão.

Engulo a seco, afetada. Ele volta para a mesa, deixa o meu copo sobre ela, pula a cadeira, antes sua, para me dar lugar. Senta-se ao lado.

— Obrigada — agradeço-lhe, tímida, ainda mexida com a sua atitude. Olho para Camila, já entretida em uma conversa com Lucas. Deus! Que facilidade era aquela em parecerem se conhecer há anos?

— Senhor Cortez, o chefe disse que é por conta da casa — avisa o garçom ao Raul, assim que aparece na nossa frente. Deixa sobre a mesa um copo cheio de gelo e um líquido transparente até a boca. Em seguida, um igual para o Lucas, acompanhado de uma lata de energético. Os lábios do Raul se erguem na lateral da boca, esboçando um sorriso.

— Fala para o Mário que não precisa — responde ao garçom, com sua voz grossa, sexy.

— Agora eu gostei de ver, senhor Cortez! — fala Lucas brincando com o amigo e pegando o copo da mesa. — Quem tem amigo importante é outra coisa — completa, levantando-o para brindar. Raul balança a cabeça em negação, sorrindo. Tira seu copo da mesa e bate de leve, brindando com o Lucas. Rindo, os dois bebem.

— Agora, com vocês, meninas, vamos lá — incentiva Lucas.

Assim, fazemos.

— Vodca pura? — pergunta Camila a Raul.

— É, eu não posso tomar energético — confirma.

— Por quê? — questiona.

Que mal-educada! Sua curiosidade não tem limites.

— Fico acelerado — responde, nitidamente, acabando com a conversa.

— Relaxa, gata, o senhor Cortez tem muitas manias — afirma Lucas para a Camila.

"Tem?" — penso olhando para ele, que me encara de volta, com seus olhos negros, brilhando.

— E essa caipirinha, com adoçante, é boa? — me pergunta Raul em particular.

Eu seguro a risada.

— Eu prefiro com açúcar — confesso.

— Então? — cobra.

Levanto uma sobrancelha, mordo o canto do meu lábio inferior e encaro a Camila conversando com o Lucas.

— A Mila é cheia de manias — respondo ao olhar de volta para ele e seu olhar intenso.

— Eu gosto de você — afirma, bebendo mais o seu drinque.

Eu não quero reagir a cada palavra que diz, mas é praticamente impossível. Estou sendo óbvia? O sorriso grande que aparece no seu rosto, dá-me a entender que sim. Aliás, seus dentes são perfeitos. Sorrio sem graça, incomodada, viro-me para frente, ficando ereta.

Raul avança no pouco espaço entre ele e a mesa. Pega um saquinho de açúcar de dentro da cestinha, disposta ao centro. Rasga a parte de cima e verte dentro do meu copo. Mistura com o canudo, tira-o da mesa e me oferece.

— Que se foda a mania dos outros — fala para mim em particular.

Engulo a seco, respirando mais ofegante do que gostaria. Seus olhos negros me fitam de volta deixando-me estática.

— Posso dar na sua boca se quiser — afio meu olhar para ele e tomo o copo da sua mão.

— Tin Tin? — pergunta, pegando o seu copo, parando com ele à nossa frente.

— Tin Tin — respondo, batendo o meu de leve no seu. Ele concorda com a cabeça antes de levar à boca. Bebemos.

— A nós — diz com um olhar quente, antes de se levantar, avisando que já volta.

— Beta — A Mila me chama, rindo de algo, completamente entretida com os papos do Lucas. — Estava me lembrando aqui de como ganhei essa marca no joelho.

Eu balanço a cabeça concordando.

— Quando descemos a rua da minha avó, com o carrinho de rolimã — lembro e ela começa a rir sem parar.

Raul volta para mesa. Ótimo, ele ia ouvir a merda de história que ela contaria. "Porra, Camila!" Senta-se ao meu lado.

— Meu! A rua da vó da Beta é muito descida. O vizinho deixou o carrinho de rolimã de lado. Ela pegou escondido, porque ele não deixava a gente brincar.

Ela para a fim de rir. Eu para cobrir o rosto parcialmente com a mão.

— Então? — cobra Raul, interessado. O Lucas ri.

— Subimos até o topo da rua, a Beta sentou atrás por conta das pernas grandes, me sentei na frente dela e descemos. No meio do caminho, ela testou o freio, mas nada. Estava quebrado.

— Puta merda! — diz Lucas.

— Sim, foi desesperador — lembra Camila.

— Como pararam? — Raul se interessa.

— Fui parando com os pés e as mãos. Até que nos atacamos do carrinho — conto.

— Sim! E ele acabou espatifado por um caminhão que passou na rua de baixo —completa Mila.

— É e você berrava sem parar — comento.

— Claro! Perdi o tampão do joelho!

— E você? Chorou muito? — pergunta-me Raul.

— Não! A Beta dificilmente chora — responde Mila com inocência.

O cenho do Raul franze. Ele a encara e depois me avalia. Desvio dos seus olhos, tomando mais um gole da minha bebida, agora deliciosa.

— Vamos sair para dançar? — convida Lucas, ganhando nossa atenção.

— Eu topo — confirma Raul. — E você, Beta? Vem? — pergunta.

Entre o Desejo e o Risco (( DEGUSTAÇÂO))Onde histórias criam vida. Descubra agora