Capítulo 05 - Toalhinhas umedecidas

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O ambiente está quente e abafado, com pessoas aglomeradas à volta, oprimindo nossos corpos. Ainda assim, interagimos com facilidade, fazendo a nossa dança. Posso culpar o vinho. Sim! Esse meu mexer vai inteiramente para sua conta.

Nossos corpos estão próximos, mas não se tocam. Desde que descemos para a pista de dança, Raul impõe certo limite de proximidade, o qual está fodendo com minha cabeça. Ele sobe a mão para tocar meu cabelo e colocar uma mecha atrás da minha orelha. Sorri para mim, encarando-me com seus olhos negros.

Tento me policiar, mas o meu cerne, vibra e dói demais, fazendo-me ansiar e desejá-lo ardentemente. Pensando melhor, o conselho da Camila era sobre fazer uma merda colossal, não era? Ela é louca, mas... quem liga? Estou pronto a cumprir, à risca, um conselho furado.

Eu sei.

Tudo piora quando o DJ começa a tocar "Say Something" de Justin Timberlake. Outra armadilha do inferno.

"No, I can't help myself Não, eu não posso evitar

No, I can't help myself, no, no, no Não, eu não posso evitar, não, não, não

Caught up in the rhythm of it Preso nesse ritmo

Maybe I'm looking something that I can't have Talvez, eu procure algo que não possa ter

(talvez, eu procure algo que não possa ter)

(maybe I'm looking something that I can't have)

Maybe I'm looking something that I can't have Talvez, eu procure algo que não possa ter"

Sinto cada palavra cantada, o que causa um efeito terrível. O ritmo envolvente, com que as batidas saem das caixas de som, fazem as ondas sonoras caminharem pelo ambiente e me acertarem em cheio. Raul sabe dançar, o que me pega de surpresa. Quando ia parar de me surpreender?

Meu pai tinha opiniões excêntricas a respeito:

"Pessoas não são perfeitas, filha. Se um dia pensar isso, encare seus olhos e procure respostas."

Agora não. Policio-me.

— Preciso ir ao banheiro — digo, aproximando meu rosto do seu.

— O quê?! — pergunta, sem entender, devido ao som alto.

Com a boca, falo:

— Banheiro — e indico o lugar com a mão. Ele concorda, entendendo.

— Já volto! — grito para ele ouvir.

Dou dois passos, mas sou parada por sua mão na cintura. Olho para trás e o encontro, indicando que eu siga. Seus braços envolvem meu corpo, impossibilitando que qualquer pessoa à volta tenha contato comigo. Juntos, nos esgueiramos por entre as pessoas até chegar ao corredor dos banheiros.

Raul me solta. Sinto falta, mas se me resta alguma coisa ainda é a dignidade. Por isso, calo a boca.

Uma cara, que sai do corredor, olha-me dos pés à cabeça. Sorri para mim. Fico incomodada. Seu olhar vai para além, atrás de mim. Então sua postura muda, evitando-me. A mão de Raul fecha em volta do meu braço, parando-me, ao lado de engradados de cerveja, para que o homem passe.

— Palhaço — ouço Raul dizer.

— Eu já volto — aviso.

Ele parece não ter ouvido, ainda olha em direção ao homem que saiu há pouco.

Apertada demais para esperar, entro no banheiro, correndo para a cabine livre. Suspiro aliviada assim que começo a fazer xixi.

Tiro as sapatilhas e encaro meu pé magro. Adoraria usar salto, mas ficar maior era desnecessário. Então, além dos chinelos, das rasteirinhas e das sandálias, usava sapatos sociais, estilo sapatilha. Uns com pedrarias, outros básicos, de encaixar, de zíper, ou de elástico. Não importava, desde que fossem sapatilhas.

Entre o Desejo e o Risco (( DEGUSTAÇÂO))Onde histórias criam vida. Descubra agora