Capítulo 06 - Sentença

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Há dezoito anos ...

Minha cabeça estava prensada entre o vidro da janela, da sala de TV, e o braço do meu pai. Não sei por que ele fez aquilo, mas doeu.

"O que fiz de errado?"

Meu coração bateu disparado dentro do meu peito. Dos meus olhos arregalados, saíram lágrimas de desespero.

"Por que papai estava me machucando?"

"Foi por gritar assustada quando quase pisei na barata, atrás do sofá?"

— Mauro! — ouvi mamãe ralhar de longe.

Seus passos se apressaram até nós. Podia ouvir.

— Larga ela! — exigiu. — Amor, é a Beta — completou com tom compassivo.

Seu braço, apertado contra mim, afrouxou, soltando-me. Com medo, não me mexia.

Tremia, de um jeito estranho. Algo quente começava a escorrer por minhas pernas.

— Filha! — Minha mãe me acudia, virando-me para ela.

Encontrei dor em seus olhos. Eles se enchiam de lágrimas, encarando-me de um jeito triste.

"Por que mamãe estaria triste também? O que eu fiz?"

Puxei o ar, tentando falar, mas todo meu corpo travou. O ar não vinha e me desesperei. Senti uma câimbra gelada atrás do pescoço, meus olhos desfocavam, fazendo-me perder o equilíbrio.

— Amor, calma — pediu mamãe. Ela fez massagem sobre meu peito magro. — Beta, amor — chamou-me de volta. — A mamãe está com você.

Respire... vamos.

Fez com a boca como eu deveria fazer. Imitei-a.

— Isso! Perfeito! — incentivou-me. — De novo.

Obedeci-lhe. Aquela sensação estranha aos poucos foi sumindo. Mamãe era ótima em ajudar. Ela trabalhava em um hospital. Fazia as pessoas conversarem sobre o que sentiam.

E... não é que ela era boa mesmo.

Sorri com meu pensamento. Ela sorriu de volta.

— Olha nos meus olhos, Beta — pediu. Eu fiz. — Ninguém nunca vai destruir você, porque eu vou lhe ensinar a ter superpoderes.

Sorri animada. Superpoderes?! Seria possível?!

— Sério, mamãe?! — perguntei.

Seu sorriso lindo apareceu.

— Sim! O primeiro aprendeu hoje — disse. — Respire, Beta!

— Mulher maravilha! — gritei para ela.

Começamos a rir juntas.

— Vem, minha mulher maravilha. Você precisa de um banho — disse, dando-me a mão.

Aceitei, dando um passo à frente. Assustei-me ao pisar na água gelada.

Olhei para o chão. Vi que tinha uma poça embaixo de mim.

— Mãe ... fiz xixi?

— Fez? — perguntou, sem dar muita atenção. — Vem no colo da mamãe.

Baixou para me pegar no colo. Encaixei-me ao redor da sua cintura.

Subimos para o meu quarto. Mamãe me ajudou com o banho e o pijama novo.

— Mamãe, por que o papai ficou bravo comigo? — indaguei enquanto ela colocava as meias nos meus pés compridos.

"Será que ficaria igual ao Pernalonga?"

Ela me encarou um pouco preocupada.

— Filha, seu pai está com problemas.

Entre o Desejo e o Risco (( DEGUSTAÇÂO))Onde histórias criam vida. Descubra agora