Capítulo 07 - O que parece certo?

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O olhar consternado, que me encara, é difícil de sustentar, mas faço, mantendo o que disse a pouco.

— Como assim? Não vai embora comigo? — pergunta, sem entender.

— Não indo — digo, fechando a porta do carro à frente.

"Seja objetiva!"

Ele me encara descrente do que ouve. Seus olhos negros estão perdidos.

— Obrigada pela noite — falo caminhando até ele.

Ajo com destreza ao beijar seu rosto de forma imparcial. Neste momento, deixo de respirar, para não sentir seu perfume, já que tudo dentro de mim arde e queima.

Afasto-me e o encontro bravo.

— O que está acontecendo?

— Estou indo embora — falo.

Uma ruga surge na sua testa. Indico que vou andar.

— Não, Roberta — pede, segurando meu braço.

Quero ceder, mas não posso. Quero ir com ele, mas não devo. Quero...mas... não.

— Não — pronuncio para mim.

Ele aperta o toque no meu braço. Encaro seus olhos.

— O que foi que mudou de lá dentro para aqui fora? — questiona, avaliando-me.

Agora, como profissional, procura respostas.

— Nada mudou — respondo. — Só acho que talvez eu tenha avançado demais.

Ele ri descrente. Aperta os lábios por dentro da boca e me olha. Balança a perna, como um tique nervoso, enquanto pensa.

— Foi porque tomei uma atitude inesperada? Quando os engradados caíram... te machuquei? — indaga.

— Não.

— Então... quando te toquei? — continua sem entender.

— Não.

— Caralho! — blasfema, mudando de posição. Gira em torno de si.

Para e me olha.

Engraçado... nada do que ele me disser vai me assustar. Sei como funciona, fala, age e não quero isso.

Não quero.

— Boa noite — despeço-me.

Para não vacilar, dou um passo para o lado, andando em direção aos táxis, parados do outro lado da rua. Deixo Raul para trás.

Ouço quando abre a porta do seu carro, para ir embora. Meu cerne estremece, desmoronando.

Atravesso a rua.

Como posso me sentir tão afetada? Acabei de conhecê-lo — julgo-me.

Aproximo da roda de colegas taxistas.

— Boa noite — cumprimento, chamando atenção.

Eles me olham de volta.

— Preciso de uma corrida — aviso, sorrindo.

— Claro, moça — concorda um deles que caminha em minha direção.

— Vamos. É o primeiro da fila — avisa-me.

Seguimos em direção ao carro. Evito olhar em volta. Não quero mostrar interesse a respeito de Raul. Pela minha visão periférica, sei que seu carro ainda permanece ali, parado.

Entramos no carro.

O taxista liga o taxímetro e dá a partida.

— Para onde, senhorita?

Entre o Desejo e o Risco (( DEGUSTAÇÂO))Onde histórias criam vida. Descubra agora