10

61 9 0
                                    

Segunda - feira, 11 da manhã

Norma segurava o telefone com tanta força que era possível ver suas articulações. Os olhos azuis estavam transtornados, sua maquiagem escorrendo por sua face, pintava um triste quadro.

Mariana atendeu o telefone, surpresa ao reconhecer o número de Norma Hawkins.

Mariana: " Norma?"

Elas haviam trocado números pois Mariana se colocou à disposição da família caso outros eventos se repetissem na casa.

Norma: " Ma- Mariana... oi..." - Ela falou num fio de voz - " Mariana me responda por favor... você tem absoluta certeza de que o, como digo, o demônio, ele foi realmente selado novamente na caixa?"

Mariana arqueou uma sobrancelha, surpresa.

Mariana: " Eu tenho mil por cento de certeza, Norma. Você voltou a presenciar novas atividades?"

A ligação caiu.

Mariana: " Norma?"

Sem resposta. Mariana voltou aos seus afazeres, mas decidida a retornar à casa da família Hawkins no final do dia.

Mariana: " Eu tenho certeza de que prendi o demônio" - Disse, tomando um gole de café, olhando para sua gatinha.

Mariana: " Você está duvidando de mim, Lady?" - Perguntou. Em resposta, a gata espreguiçou-se, abrindo a boca, alongando-se e sentando de costas para sua dona.

Mariana: " Desaforada!"

Norma discava apressadamente para sua mãe, mas seus dedos estavam escorregadios e a tela continha pequenas digitais carimbadas em sangue.

Anna: " Alô?"

Norma: " Mamãe!?"

Anna: " Norma! O que houve?" - A simpática senhora colocou seus óculos de leitura, olhando o horário: 11:15 da manhã.

Era incomum a Norma ligar naquele horário. Normalmente as ligações aconteciam no final da tarde, após a missa que Anna frequentava.

Norma: " Mamãe, eu preciso que me ouça com calma. Por favor. Eu... eu preciso deixar as crianças com você urgentemente"

Anna: " Oh meu Deus... o Jason agrediu as crianças novamente?"

O olhar de desespero de Norma correu até o corpo sem vida de Jason, estendido na sala. Em sua têmpora esquerda, uma perfuração certeira à bala. E em seu rosto, agora desfigurado, mais dois buracos de calibre 38. A arma ainda estava sobre o balcão da cozinha, ao lado de Norma.

Ela havia flagrado o Marido em uma ligação um tanto quanto indecente com sua secretária. Isso aconteceu às 9 da manhã.

Rapidamente, Norma arrumou Jessy e a deixou para brincar (e posteriormente ir a escolinha) na casa de uma amiguinha chamada Suzy. Jessy havia pedido alguns dias antes, mas Norma disse que Jason precisaria autorizar.

" Onde está indo com a Jessy?" - Perguntou ele, fechando as calças. Norma armou seu melhor sorriso.

" Vamos ao mercado e já voltamos" - Disse, empurrando Jessy porta a fora " Hoje farei seu prato favorito" - Disse. Jason deu um leve sorriso.

Norma colocou Jessy no carro, e durante todo o caminho até a casa de Suzy foi arquitetado seu plano: ela sabia onde ele escondia sua arma, então, antes de qualquer coisa, lhe daria uma cerveja geladinha, para ele "relaxar". Jason amava aquele tipo de mimo.

E foi assim, que ela o emboscou, distraído, relaxado em sua poltrona favorita, com três tiros. A queima roupa.

" Um para cada um de nós que você maltratou, filho da puta" - Disse.

Após o assassinato à queima roupa, Norma derrubou o corpo de Jason da poltrona, arrastando-o para o tapete da sala, onde tentou, em desespero, enrolar o cadáver. Foi quando se deu conta de que não haveria mais volta após o que havia feito. E então ligou para Mariana, e depois, para sua mãe.

Ela precisaria de ajuda.

Phil e Angela desceram do ônibus escolar ao meio dia e trinta. Antes mesmo de chegarem na varanda, os irmãos se depararam com a mãe, parada à porta.

Angela: " Mãe? Tá tudo bem? Por que tem sangue em seu rosto?"

Furioso, Phil entrou em casa, disposto a dizer algumas verdades para o pai de Jessy, mas bastaram alguns passos para que ele se acabasse por se deparar com o corpo sem vida de Jason.

Phil colocou as mãos na cabeça, em desespero. Angela correu para ver o que havia acontecido. Em silêncio, Norma fechou a porta da frente e trancou.

Angela: " O que você fez, mãe!?"

Norma: " Salvei a nossa família "

Angela: " Ele estava possuído?"

Norma parecia em um estranho transe. Quando perguntada novamente, respondeu que sim, que Jason estava possuído, a havia ameaçado e ela precisou se defender.

Norma: " Precisamos nos livrar do corpo" - Disse. Seus filhos a olharam com horror - " Vamos nos livrar do corpo do Jason, depois, preciso que vocês dois arrumem suas malas"

Phil: " Porquê!?"

Norma: " Porque vocês irão ficar um tempo com a avó de vocês em Duskwood"

Phil: " Espera aí! Você faz suas merdas e decide sem nos consultar que iremos para o cu do mundo!?"

Norma foi até Phil e pegou o filho pelo colarinho.

Norma: " Você. Vai. Arrumar. Suas. Malas. FUI CLARA?" - Ela estava fora de si e Angela precisou intervir.

Phil: " Você é louca..."

Norma: " Talvez eu seja... então, antes que eu enlouqueça e mate você e suas irmãs também, porque não VAI FAZER A PORRA DA SUA MALA MOLEQUE É FICA QUIETO?"

Angela puxou Phil para longe de Norma, em silêncio.

Angela: " Vai fazer as suas malas e da Jessy, enquanto eu ajudo a mamãe com o corpo" - Disse, tensa.

Phil: " Angela! Ela estragou a vida dela e agora vai estragar a nossa!"

Angela: " Confie em mim, Phil. Agora, por favor, faça o que estou te pedindo. Talvez, morar com a vovó seja uma boa coisa para nós três "

Angela e Norma enrolaram o corpo de Jason no tapete da sala. Então, Norma tirou as tábuas que selavam a porta do porão. Elas desceram, passando longe da caixa. Largaram o corpo enrolado no tapete caro e subiram depressa, sem olhar para trás. Selaram mais uma vez a porta do porão amaldiçoado, que agora, também era o túmulo de Jason.

Quando Norma chegou à escola para buscar Jessy, notava-se que algo estava muito errado. Jessy estava em sua roda de amiguinhos, quando viu sua mãe aproximar-se: a maquiagem estava completamente borrada nos olhos, como se ela tivesse chorado muito. Os olhos, aliás, estavam inchados e vermelhos, assim como seu nariz.

Jessy: " Mamãe?" - Perguntou, envergonhada, quando ouviu seus amiguinhos rindo do estado em que Norma se encontrava.

Norma: " Meu bem, hoje iremos ver alguém que você gosta muito" - Disse, acariciando o rosto de Jessy e chorando ao mesmo tempo - " Vovó Anna!" - Forçou um sorriso. Jessy se animou, deu tchau para suas amigas e amigos e correu até o carro. No banco do carona, estava Phil. Antes de abrir a porta para que ela entrasse, ele a olhou. E em seu olhar havia muito ódio, o que, aliás, deixou Jessy um tanto quanto assustada. No banco de trás, estava apenas sua irmã.

Jessy: " Onde está meu papai?"

Phil desceu do carro, abaixou o banco e deu licença para a caçula acomodar-se ao lado de Angela, que estava com os olhos vermelhos como os de sua mãe. Aliás, a impressão que Jessy teve foi que todos ali haviam chorado.

Norma: " O papai nos encontrará depois, meu bem "

Phil encarou Angela através do espelho retrovisor. Angela baixou os olhos. Jessy, sem saber da tragédia que havia recaído sobre sua família, contava animada sobre seu dia na escolinha e como amou passar algumas horas com Suzy.

O Porão Onde histórias criam vida. Descubra agora