Capítulo-66

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Tw:distúrbios alimentares

Pov Carol

O caminho para o restaurante foi, digamos, estranho. Nenhum de nós disse nada e o silêncio entre nós era avassalador, se alguém nos visse neste exato momento não acreditaria que éramos amigos, nem acreditaria que éramos conhecidos.

Quando chegamos ao restaurante, sentamo-nos numa mesa mais afastada para evitar chamar a atenção do resto dos consumidores do restaurante. Ambos pegamos na ementa e escolhemos os nossos pratos, eu já sabia o que iria pedir mas quis fingi demorar mais para poder evitar olhar para Kai, não queria falar com ele,eu sabia exatamente onde aquela conversa ia dar e eu não queria dar explicações sobre o que se tinha passado.

-Queres ajuda a escolher?-perguntou Kai.

-Não, já escolhi-disse pousando a ementa, chamei o funcionário e fizemos os pedidos.

-Então, como está a correr a tour por França?

-Está a correr bem, o meu grupo é divertido e damo-nos bem, e a maior parte deles já conhece Paris por isso, podemos estar a falar em vez de eu estar a mostrar os pontos turísticos. E tu, estás a gostar?

-Sim, gosto muito de Paris, é a minha 2 vez aqui mas é uma cidade que me fascina.

-Que bom-ficamos de novo em silêncio.

-Carol-olhei para ele, eu sabia o que ele ia dizer-Eu estou preocupado contigo.

-Não precisas, eu estou bem.

-Tu não parecias bem no outro dia.

-Mas estás enganado, eu estou perfeitamente bem-disse com lágrimas a formarem-se nos meus olhos.

-Carol, já comeste alguma coisa hoje?-perguntou olhando nos meus olhos. Concentra-te Carol, faz o que tu fazes melhor:mentir.

-Sim, eu já comi, não me vais ficar a controlar pois não?

-Porque é que eu não acredito em ti?

-Isso é problema teu-levantei-me da mesa-Perdi o apetite, podes ficar a comer sozinho.

-Car...

-E nem penses em vir atrás de mim, não te quero ver-disse com raiva nos olhos, automaticamente arrependi-me de dizer isto quando olhei nos olhos dele mas as palavras já tinham saído da minha boca, não havia nada que eu pudesse fazer. Apenas saí do estabelecimento a correr, queria gritar, chorar, vomitar, fazer isso tudo ao mesmo tempo. Corri o mais rápido que podia, queria chegar o mais rápido possível ao meu quarto de hotel, ao chegar ao meu quarto dirigi-me imediatamente à casa de banho e vomitei. Não sei exatamente o que vomitei, não comi nada hoje, nem ontem, ok, talvez eu esteja com um problema.

Pov Kai

Não consegui pensar em mais nada o dia todo, a não ser na Carol. Eu sei que ela tem um problema, ela anda a emagrecer muito e eu nunca a vejo a comer. Ela tem histórico com distúrbios alimentares, ela já me contou sobre isso, mas eu acho que eles voltaram.

Eu já havia reparado que ela estava a emagrecer, mas há formas saudáveis de o fazer, então não me preocupei mas, no outro dia em minha casa, assustei-me.

Eu e a Carol estávamos a atiçar-nos um ao outro, eu comecei a correr atrás dela, ela começou a fugir de mim, até aí estava tudo bem mas, do nada, ela desmaiou à minha frente. Eu não sabia o que fazer, peguei nela e comecei a abana-la, atirei-lhe água e passado pouco tempo ela acordou, nunca senti tanto medo.

Ela disse que não sabia porque aquilo tinha acontecido, ela disse que provavelmente foi porque ela anda muito cansada e não tem dormido bem mas eu não acreditei no que ela disse, depois de a deixar em casa fui pesquisar sobre o assunto, cheguei a uma conclusão. Vários sites referiam que desmaiar do nada podia ser causado por jejuns prolongados, ou seja, ficar sem comer durante muito tempo. E aí fez-se luz na minha cabeça.

Eu estava de tal modo concentrado na Carol que nem reparei que tínhamos chegado ao nosso hotel. Eu não conseguia ficar mais tempo sem saber o que se passava com a Carol. Fui ter à receção do hotel e perguntei qual era o quarto do Carol, demorou um bocado mas consegui obter essas informação do atendente.

Entrei no elevador e fui em direção ao quarto dela, bati à porta dela, ela não respondeu, o meu coração errou uma batida, bati de novo, não houve resposta, bati pela terceira vez e senti-me tão aliviado quando ouvi passos dentro do quarto dela.

-Tom, eu juro que...-ela parou ao ver-me na porta-Eu não acredito nisto-ela tentou fechar a porta mas eu pôs a minha mão impedindo-a.

-Carol, temos de falar!-disse ao entrar no quarto.

-Eu acho que deixei bem claro que não queria te ver nem falar contigo.

-Pois, mas eu quero falar contigo então vou falar-ela não disse nada, ficou parada a olhar para mim-Carol, eu só estou preocupado contigo, eu só te quero ajudar-aproximei-me dela e agarrei a mão dela.

-Ninguém me pode ajudar-uma lágrima caiu vindo dos olhos dela.

-Ao menos deixa-me saber o que se passa, eu só te quero ver feliz.

-Eu vou resolver-me, eu estou bem-ela está a tentar convencer-me ou a ela mesma?

-Carol, eu sei que tu não estás bem mas, eu estou aqui para ti-abracei-a, encostando-a ao meu peito, ela desabou-a chorar, agarrei-a a pousei-a na cama-Hey, podes chorar à vontade, deita tudo para fora, eu estou aqui para ti-pouco a pouco ela foi se acalmando-Queres falar sobre o que se passa, se não quiseres podemos ver um filme.

-Kai-ela disse com voz de choro-Eu tenho um problema, eu tentei controlar-me, eu tentei não me afetar mas é mais forte do que eu-ela fez uma pausa-Há pouco tempo, eu fui à sede da minha agência, falar sobre trabalhos futuros e castings, estava tudo bem, até o dono da minha agência, o Bob, chegar. Ele olhou-me com uma cara de frustação e...-as lágrimas voltaram-ele disse-me que estava gorda como uma baleia e que eu tinha de perder peso imediatamente porque se não, eu não iria arranjar mais trabalhos porque ninguém me iria querer se eu estivesse gorda. Eu tentei emagrecer de forma normal, eu juro que tentei Kai, mas eu não conseguia. Comecei a treinar mais, muito mais e aos poucos comecei a avançar certas refeições, primeiro foram os lanches, depois o pequeno-almoço, depois o almoço e o jantar. Tenho me sustentado à base de água, chicletes e bolachas de sementes. E agora não consigo parar, se eu comer outras coisas vomito, se eu não comer nada vomito. Eu não sei o que fazer.

-Não te preocupes, eu vou te ajudar.

-Eu sou um caso perdido-disse ela.

-Os casos perdidos são os que dão mais vontade de serem resolvidos.

Espero que tenham gostado deste capítulo...

Traced Destiny'sOnde histórias criam vida. Descubra agora