Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 5

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Ao primeiro sinal do amanhecer, um jipe e um ônibus militar arrastaram-se para a frente do alojamento, seus motores roncando no ar da manhã.
Jimin e Jungkook, envoltos pela velha construção desgastada, observavam em silêncio o lento fluxo dos recrutas do lado de fora.

Quando o comandante Hayden surgiu à porta, o som hostil das solas de ferro ecoando no chão, Jeon sentiu a pequena mão do irmão pousar em suas costas, numa tentativa silenciosa de oferecer apoio.

— Park, por que ainda estás aqui? Teu transporte te aguarda. Vai, imediatamente! — Hayden ordenou em tom áspero.

— Me perdoe, senhor. Já estou indo — Jimin respondeu, submisso, mas relutante em se retirar.

— Quanto a ti, Jungkook — A expressão indecifrável do homem pousou sobre o garoto — Precisaremos conversar.

Jimin lançou um olhar preocupado ao irmão antes de sair pela porta.

O militar imponente cruzou os braços lentamente. Seu rosto anguloso e quase inumano, girava de forma mecânica, varrendo o ambiente, até finalmente estagnar-se no mesmo ponto.

— Parece que tens perdido o controle, Jeon. Os recrutas estão com medo — Sua voz saiu tranquila, mas ainda assim, tinha algo hostil nela.

Jungkook tentou esconder as unhas, enfiando as mãos doloridas nos bolsos, notando que o odor daquele homem tornava-se perigosamente familiar.

—Expor-se à lua cheia... Ah, este é o erro mais divertido que um Jeon pode cometer. E, claro,  conseguiste falhar miseramente.

— Somos iguais, não somos? — Jungkook deu voz à sua desconfiança, pouco focado na reprimenda que recebia.

— Tens um pouco de esperteza ao menos — Hayden sorriu de canto, coçando o queixo com lentidão. — Digamos que existe um parentesco... — Deu três passos pelo salão — Distante o suficiente para que não me chames de família. Eu sou a de raça pura, enquanto o sangue que corre nessas tuas veias é sujo.— Suas últimas palavras saíram estranhamente melódicas.

— o que quer dizer com sangue sujo? — Jungkook repetiu em tom mais baixo, franzindo o cenho vagarosamente.

— Vais dizer que não sabias que teu pai engravidou uma humana insignificante? O sangue humano que corre nessas veias está contaminado por essa raça fracassada! — Hayden aproximou-se, fitando-o de perto com um olhar desinteressado. — E sabes o que é pior? Herdaste os sentimentos frágeis deles. Que tristeza... — concluiu com um sorriso malicioso, que não iluminava seus olhos.

Jungkook não possuía nem as mais básicas informações sobre sua família biológica. Quanto aos pais adotivos, estavam completamente alheios à sua verdadeira origem quando o adotaram. O jovem tentou recuperar as memórias quase desvanecidas da jovem doce que frequentemente surgia em seus sonhos.

— Não volte a falar assim da minha mãe. — ameaçou entre os dentes, deixando transparecer o desconforto que as palavras de Hayden lhe causaram.

— Tão previsível — murmurou o homem com desdém. — Tentar defender uma memória da qual nem mesmo tens recordação. Aposto que nem te lembras disso. — atirou um colar preto aos pés do jovem.

— Reconheces? É um pequeno troféu dos sonhos desfeitos da tua mãe.

Hayden voltou seu olhar para a janela, mantendo um sorriso desinteressado.

— Os humanos são assim, agarram-se a sonhos vazios e promessas quebradas — Fez uma pausa, examinando Jungkook com um olhar avaliador. — Meu tempo é valioso, portanto sejamos diretos. Manterás o que sabes sobre mim em segredo, para teu próprio bem. Além disso, deverás esconder o fato de que és um assassino.

JIkook - Meu doce irmão adotivo Onde histórias criam vida. Descubra agora