Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 6

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A construção antiga de concreto, com duchas enfileiradas e sem divisórias, ecoava com o som da água gélida caindo sobre os corpos exaustos dos recrutas. No alto, as lâmpadas penduradas projetavam sombras dançantes nas paredes úmidas.

Enquanto se esfregava rapidamente, tentando escapar do frio cortante, Park não pôde evitar o sorriso fraco no rosto ao se lembrar de quão adorável o irmão mais novo parecera ao chamá-lo de "hyung".
Apesar disso, com toda a sua sensatez, não seria ingênuo a ponto de não acreditar que o moleque poderia decepcioná-lo com a mesma facilidade com que o fazia ceder.
Incriminava-se por esquecer as malcriações de Jungkook toda vez que este se visse em apuros ou lhe mostrasse o mínimo de gentileza, como naquela hora. Suas expressões não refletiam a própria autocrítica; o mesmo sorriso bobo permanecia em seu rosto, como se tivesse se tornado refém de algo tão insignificante.

O refeitório apresentava um ambiente sóbrio, com o teto baixo, paredes revestidas em madeira escura e longas mesas de metal cobertas com toalhas acinzentadas.
O cheiro pungente de coentro e salsa fazia o estômago de Jimin formigar de forma pouco atrativa, enquanto ele checava a primeira refeição no balcão de serviços. O café da manhã consistia em uma sopa rala de miso e um prato de peixe grelhado, cuja aparência não era particularmente convidativa.
O rapaz pegou a bandeja com resignação e atravessou o refeitório, seus olhos perscrutadores procurando pelo irmão em meio ao mar de rostos pouco familiares. Em vez de encontrá-lo, no entanto, avistou Sunoo, sozinho em uma mesa afastada, com a luz suave do candelabro refletindo em seu rosto. O jovem ergueu o braço, chamando-o, e, mesmo que Jimin se sentisse inibido em se sentar à mesa com alguém de classe tão distinta, não sentiu que pudesse recusar.

Durante a refeição, reparava na expressão desgostosa de Sunoo, que fazia o prato diante de si parecer uma mera formalidade.

— A comida pode parecer sem sabor quando os pensamentos estão longe. — Jimin comentou, partindo o peixe com as mãos.

O outro levantou o olhar, presumivelmente entediado.

— Onde está seu irmão? — Finalmente se manifestou.

— Jungkook? Eu estava procurando por ele quando me chamou.

Sunoo batia os dedos na mesa, com ansiedade, como se a questão de Jungkook fosse o único assunto de seu interesse. A comida no prato permanecia intocada.

— Jungkook costuma ser pontual, mas também tem uma alma inquieta — Jimin explicou, sacudindo a cabeça com uma expressão de desaprovação — Regras não são o forte dele, mas tenho certeza que ele está por perto.

— Espero que não demore. Não que a companhia dele me importe particularmente, mas... — Sunoo fez uma pausa, lançando um olhar para o prato, como se esperasse que ele se transformasse em algo mais apetitoso. — A refeição se torna ainda mais insossa quando se está sem seu único amigo.

Jimin estreitou os olhos.

Amigo?

Tentou se lembrar de quando seu irmão se tornara tão próximo de Sunoo, mas concluiu que o rapaz não poderia estar falando sério, e sim criando alguma fantasia ilusória. Jungkook, reservado como era, jamais construiria uma amizade tão rapidamente. Ainda assim, decidiu não insistir na questão, reconhecendo a possibilidade de haver detalhes que lhe escapavam.

— Eu não sou Jungkook, mas ainda estou aqui — completou. — Você considerou que eu poderia ouvi-lo, pelo menos por um momento, quando me chamou, não foi?

Sunoo, embora já conhecesse a gentileza do jovem, sentiu-se tocado, suavizando o próprio tom em resposta.

— Agradeço por me ouvir. Honestamente, estou apenas tentando me adaptar a este lugar, que, confesso, é bem diferente do que estou acostumado.

JIkook - Meu doce irmão adotivo Onde histórias criam vida. Descubra agora