Capítulo 1

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Eu nunca pensei que teria que lidar com tantas coisas em minha vida. A morte do meu pai, me ver mergulhada em dívidas feitas por ele e ver que minha família, a família que era por parte do meu pai, não quisesse me ajudar. Os familiares da minha falecida mãe não estavam na Europa, infelizmente. Todos nos Estados Unidos. Eu recorri a eles, mas não obtive ajuda. Ninguém queria na verdade que meu pai tivesse se casado com ela, afinal, ele era um simples professor de filosofia e que não ganhava tão bem assim. Então, eu estava completamente...não, não tão sozinha. Eu tinha Kitty. Katherine, na verdade. Mas, Kitty é um apelido carinhoso que veio com ela desde que a conheci no jardim de infância. Sempre fomos inseparáveis. E Kitty e sua família me acolheram no momento mais difícil da minha vida.

Mas, eu não estou reclamado. Juro que não, mas eu acreditava que tinha uma família. E eu não tinha ninguém. Fora que tive problemas sérios com meus ex namorados. Todos eles me usaram, me roubaram (é claro que não literalmente, apenas me faziam pagar tudo e me deixaram dividas também. Será que é um padrão?), entre outras as coisas, como trair, mentir e serem egocêntricos. Se eu sou mais perfeita que eles? Eu não sei, mas eu estou com tanta raiva que queria gritar. Eu só queria um relacionamento normal, mas parece que nunca vou ter. Então, resolvi ficar solteira por um longo, longo tempo.

Ao menos minha vida profissional está melhor do que nunca. Eu tenho um emprego estável. Trabalho no RH de uma empresa multinacional que vende produtos cosméticos. E o melhor é que estou me formando em Psicologia, algo que eu nunca imaginei que faria. E tenho meu próprio apartamento agora. Isso é um avanço para quem não tinha nada.

Kitty às vezes dorme aqui, traz seus namorados e às vezes, tenta me fazer ter encontros às cegas. Eu detesto isso demais, porque todos os homens que conheço são incompatíveis. Eles simplesmente só falam de si mesmos, ou tem alguma coisa que me deixa receosa, como são inseguros demais, não saíram de casa ainda e dependem dos pais, nem ao menos trabalham ou são mulherengos, enfim, uma infinidade de defeitos que me deixam com medo de confiar em alguém. Se eu tenho problemas com relacionamentos? Muito, muito mesmo. Eu faço terapia uma vez por semana, mas ainda não consigo confiar em ninguém. Kitty é a única que consigo confiar, pelo fato de que ela nunca me decepcionou ou me traiu. Ela estava ali no meu pior momento e talvez, eu tenha apego emocional demais por ela. Algo que eu sei que não é bom. Mas, não consegui trabalhar isso.

Aquela noite, eu cheguei em casa cansada e exausta. Mas, Kitty me implorou para sair com ela. Esse seria seu terceiro encontro depois de três meses. Nenhum homem parecia ficar muito tempo com Kitty. E eu nunca perguntei o motivo e ela nunca me disse, mas sempre a vejo chorando. Já tentei fazer ela se abrir, mas é muito difícil. Ela não confia seus segredos mais íntimos, mas eu também não confio, então, finjo que tudo está bem.

- Vai, se arruma logo – ela pediu.

Bufei, cansada, porque meu trabalho é cansativo. Fazer entrevistas, demitir funcionários, fazer relatórios, tudo isso me consome.

- Está bem, mas quem paga hoje às bebidas é você.

- Só vai se arrumar. Você está horrível.

- Obrigada por sua sinceridade. Ela é tocante.

Kitty riu e dei de ombros. Nossa relação era assim e sempre seria. Depois que me arrumei, saímos com o carro dela para a boate que ela havia dito que encontraria Elliot. Ela dançou com o cara a noite toda e eu fiquei perto do bar, tomando um martini, solitária. Não era como se eu não quisesse ninguém, mas sempre que um cara se aproximava, eu fingia não ver ou ignorava.

Depois de voltar para casa, eu coloquei um filme para assistir. Eu sempre via o Fantasma da Ópera, uma vez por mês. Era meu ritual. Assim como ver filmes de época. Eu simplesmente amo. E fiquei ali no sofá, sozinha, pois Kitty e Elliot estavam no meu quarto de hospedes. Como minha amiga morava com a mãe dela ainda, era difícil trazer algum cara para casa dela. Então, ela escolhia a minha casa para seus encontros. Era irritante, mas eu devia isso a ela, depois de ela me ajudar tanto.

E se fosse real? - O fantasma da óperaOnde histórias criam vida. Descubra agora