Capítulo 8

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O Natal chegou e passou rapidamente, assim como o Ano Novo. Erik passou conosco. Comigo, Elliot e Kitty. Ele estava tão feliz de estar em uma data comemorativa. E me comprou presentes, com certeza, com a ajuda de Kitty, pois como ele saberia meu perfume preferido.

- Eu amei Erik – agradeci, naquele dia, com um abraço.

Dessa vez, ele permitia abraços. E ficava mais tempo comigo, mais perto. Deixava-me tocar seus braços, seu rosto e beija-lo, mas não tive coragem de beija-lo nos lábios e ele não deu um passo para fazer isso. Então, eu teria que ir com calma.

- Como sabia que esse é meu perfume preferido? – perguntei, me afastando.

- Um passarinho me contou – ele piscou para mim, beijando minha testa – Eu quero lhe dar muitos presentes, Heloisa. E espero fazer isso em breve. Eu quero leva-la a Paris, para conhecer a ópera. Quero que veja muitas coisas comigo. Eu quero lhe dar o mundo.

- Sabe que sua presença basta para mim – garanti, mas emocionada por sua declaração. Nenhum de nós disse que se amava, mas eu já havia dito para ele uma vez. Não diria de novo, não se fosse para ouvir nada.

- Não é o bastante para mim – ele negou com a cabeça sorridente – Eu quero lhe dar mais.

- Era isso que eu queria – Kitty disse, dengosa – Está vendo como Erik é? É um doce.

Elliot gargalhou, sentado no sofá, com sua namorada.

- Erik, desse jeito eu vou ter problemas – ele disse, rindo. Então, vi Kitty dar um tapa no braço de Elliot – Ai, isso dor amor...não faz assim.

- Você merece. Quero que seja mais romântico – ela exigiu.

- Mas...eu faço tudo por você, poxa – ele parecia magoado.

- Kitty, cada pessoa tem um jeito de ser – Erik interveio – Com certeza, Elliot faz seu melhor para você. E ele pensa muito em você. Eu vi no escritório dele uma foto sua. Isso é muito importante para um homem. Aliás, eu preciso de uma sua, para carregar comigo. Como um relicário – ele disse, sorrindo para mim – E faz tanto tempo que não pinto. Acho que eu poderia fazer uma pintura sua. O que acha?

Eu fiquei encantada por ouvi-lo dizer aquilo.

- Verdade? Quer fazer um retrato meu?

- Sim, é claro que sim – ele me puxou para um abraço, beijando o topo da minha cabeça.

A discussão entre Elliot e Kitty parou, depois do argumento de Erik, quanto a ele ter uma foto dela no seu escritório. E aquela noite foi perfeita e mágica. Ainda estavam sendo, depois que passou essa data. É claro que Erik ainda estava muito devagar no contato físico.

Mas, dois meses depois do Natal, eu consegui um feito. Eu o beijei. Estava posando para ele, em meu apartamento. Sentado no meu sofá, enquanto ele estava com o cavalete, mais afastado de mim, sentado um banquinho. Ele fazia as pinceladas, com tinta aquarela. Fazia semanas que ele estava fazendo isso e não me deixava ver. Ele passou a pintar outras coisas e fazer vídeos também, o que só rendeu likes no seu canal. Os vídeos eram compartilhados em várias redes sociais. Erik era famoso no meio digital e estava conseguindo viver disso. Mas, ele queria mais. Queria uma estabilidade financeira e com um apartamento para morar.

- Como está ficando, meu pintor? – perguntei.

- Quase pronto – ele respondeu, sem tirar os olhos da pintura.

- Erik, estou cansada. É tedioso posar assim.

- Você está sentada – ele disse, sem desviar o olhar, movimentando o braço. Cada pincelada era algo fascinante de se ver – Está bem confortável, na verdade.

A lógica dele era imbatível. Mas, eu não era fácil.

- Tá, mas é meu tédio? Não quer vir aqui comigo? Assistir um filme...? – deixei a pausa para ver o que ele me diria.

- Não – ele negou.

Bufei irritada. Então, me levantei do sofá e caminhei até ele decidida. Peguei seu rosto, não vendo a pintura e o beijei. Ele ficou estático no inicio, mas depois, me puxou para sentar em seu colo. Escutei algumas coisas caindo no chão. Devia ser o pincel e sua paleta de cores.

Sentia suas mãos percorrerem meu corpo, de forma febril. Fiz o mesmo, tentando toca-lo o máximo que poderia. Senti seu desejo, senti sua língua buscar a minha, como se estivéssemos em uma dança. Sentia também que estava queimando por dentro, em combustão, como se estivesse queimando viva. Meu desejo por ele falava mais alto, pois esperei muito tempo para sentir seu gosto. Senti ele me puxar, para me levantar, contudo, ao tentar fazer isso e me afastar, me desequilibrei para trás e tentei agarrar a primeira coisa que meus dedos puxaram, e foi o cavalete, que caiu para trás. Eu só não fui ao chão, pois Erik me segurou pela cintura, me puxando para ele. O cavalete caiu em um estrépito. Mas, a pintura estava intacta. E pude ver ali, meus olhos cinzentos e meus cabelos encaracolados devido ao babyliss. Era a replica perfeita de mim mesma, olhando para mim, de forma vivaz. Meu olhar era forte e destemido. Eu não sorria, mas mesmo assim, a pintura era linda. Eu me senti perfeita, sem ranhuras. Fiquei estática, sem compreender o sentimento que me inundava.

- Você...você gostou? – ele perguntou, hesitante, em meu ouvido.

- Sim...eu...isso é maravilhoso Erik. Obrigada.

- É como vejo você. É como eu a vi pela primeira vez também. Seu olhar destemido, sem medo de mim...eu fui fisgado de repente, como se não pudesse me afastar de você, Heloisa. Então, me senti vivo, pois eu estava morto, morto há muito tempo.

Aquelas palavras me marcaram a ferro e fogo. Era como se cada pedacinho daquelas palavras pudesse me deixar eletrizada e ao mesmo tempo, manifestar um desejo intenso de que sentia por ele. Eu precisava demonstrar a ele que suas palavras tiveram um efeito forte sobre a minha pessoa. E tudo que fiz foi virar para ele e procurar seus lábios. Ele não hesitou, ele apenas me beijou de volta, dessa vez, mantendo um ritmo mais calmo, mantendo as mãos na base da minha cintura. E ali, finalmente, nós nos comunicamos de verdade, sem a barreira da timidez, da dor e do sofrimento pelos quais ele passou. Ele era apenas um homem. E eu era apenas uma mulher. E nós apenas nos entregamos ao desejo que sentíamos um pelo outro.

E se fosse real? - O fantasma da óperaOnde histórias criam vida. Descubra agora