Capítulo 20 - O Preço da Perfeição!

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UM MÊS ATRÁS:

Quinta-Feira, dia 26 de Outubro, 4:45 da tarde

Escola Pública de Carten.

Amy não tinha saído da sala apenas para ir pegar um livro na biblioteca, havia um motivo a mais. Ela se lembrava de ter ouvido Drake comentar a respeito da forma como o Diretor da escola estava, não demorou muito para associar uma coisa com a outra, ele provavelmente tinha ficado chateado por conta dos comentários de Mei e Jimmy naquele momento na escada.

Ela já tinha visto diversas vezes livros de autoajuda na sala do Diretor, o que só podia significar que ele tinha problemas de autoestima e de se firmar, e essas pessoas não costumam gostar de pessoas sendo elogiadas perto delas.

Ela caminhava pelo corredor dos 2ºs anos, quando virou na bifurcação do fim do corredor para ir até a biblioteca. Viu um velho conhecido, seu Professor Dennis, subindo as escadas com vários papeis nas mãos, provavelmente, ele aplicaria uma avaliação, lançou um olhar na direção dela, talvez uma forma de dizer para ela se apressar e voltar logo para a sala.

A visita a sala do Diretor ficaria para o fim do dia, ela não podia arriscar perder muito tempo da prova. Continuou seguindo reto até o fim do corredor, chegando à biblioteca onde tinha estado no dia anterior, mas com a grande diferença de que o silêncio na escola agora era bem menor.

— Com licença, — disse ela, se aproximando da mulher que estava atrás do balcão que ficava perto da entrada da biblioteca e entregando um papel com um nome. — você tem esse livro aqui na biblioteca?

A mulher analisou o papel e em seguida, digitou o nome do livro no computador, checando no catálogo da biblioteca.

— Lamento, — respondeu ela, devolvendo o papel para Amy. — mas esse livro já foi emprestado.

— Tudo bem então, — respondeu Amy, educada e gentilmente. — obrigada!

— Não há de que!

Amy saiu da biblioteca em passos lentos, estava pensando em alguma outra forma de conseguir o livro em questão, ela queria estar por dentro do assunto quando ele fosse abordado. Talvez quando voltasse para casa, o comprasse pela internet ou algo do tipo.

Quando saiu da biblioteca, Amy seguiu pelo corredor que estava à sua frente, ao invés de voltar por onde veio, ela daria o contorno, passando pelas janelas da escola e depois, viraria na bifurcação para chegar ao corredor das salas de aula.

Enquanto andava pelo corredor, Amy parou em uma das janelas e olhou para fora, continuava chovendo, aquela chuva duraria pelo menos mais duas horas e meia. Cogitou a hipótese de ligar para sua mãe quando saísse da escola para vir buscá-la, assim, ela poderia dar uma carona para Jimmy e Mei, e retribuir o favor que eles tinham feito a ela mais cedo.

Voltou a caminhar pelo corredor, e mais uma vez parou, dessa vez, para beber água no bebedouro. Parou e se inclinou, mas antes de conseguir tomar o primeiro gole, levou um grande susto e se virou para trás rapidamente. Ela podia jurar que ouviu passos vindos na direção dela, e passos sorrateiros! Quem quer que fosse, não queria ser ouvido por ela, e isso era um problema!

Se a pessoa estava no corredor atrás dela, não seria bom ela dar o contorno e virar para o corredor dos 2ºs anos, ela poderia acabar dando de cara com seja lá quem fosse. Ao invés disso, Amy virou à esquerda no fim do corredor e desceu as escadas para o primeiro andar. Desceu rápido, praticamente correndo!

Ao chegar no primeiro andar, como esperado, o som das pessoas na quadra somado ao barulho que todos os alunos no primeiro andar fizeram ela se sentir melhor. Convenceu a si mesma que podia ser tudo coisa de sua cabeça, provavelmente resultado da vinda ao velório no dia anterior, ela pensaria nisso com mais calma depois, por hora ela tinha que voltar para a sala.

Antes de dar meia-volta e subir novamente as escadas, Amy entrou no banheiro feminino do primeiro andar, encostou a porta, foi até as torneiras e lavou seu rosto, esperando com isso, cessar seus pensamentos paranoicos. Uma, duas, três vezes ela jogou a água em sua face, mas quando fez a posição de concha com as mãos para pegar a água e jogá-la pela quarta vez, não viu suas mãos ou seu rosto no espelho. Toda a luz do banheiro e de fora do corredor tinha se apagado, o susto foi grande, tanto que, a água que estava em suas mãos se espalhou por toda a pia.

Os gritos dos alunos soavam por toda a escola, todos vaiavam, isso era típico de dias em que a luz acabava, mas ela se lembrava de, em todas as vezes, todos os alunos já esperavam o momento em que as luzes se apagariam, aquilo era estranho, Amy pensou em sair de dentro do banheiro, mas um pensamento lhe veio à mente: se alguém a estivesse seguindo, naquela escuridão ela não saberia qualquer direção de para onde fugir ou onde a pessoa estaria, e com aquela gritaria, ouvir passos seria impossível.

Correu para dentro de um dos boxes do banheiro, virou-se e trancou a porta, fechou a tampa do vaso e subiu nela para que não vissem seus pés, realmente não esperava que isso fizesse grande diferença, mas não custava a precaução. Pegou rapidamente seu celular de seu bolso, ligou para Mei... em vão...ligou para Jimmy... em vão... Tomy, Drake, Professor Dennis... todos em vão, nenhuma das ligações sequer chamou.

— Claro! Eles estão fazendo prova, os celulares estão em plásticos na secretaria! — pensou ela, decidindo que aquela sequência de coisas, não podia ter sido coincidência, ela tinha caído em uma armadilha... não tinha certeza se conseguiria sair dali mas...

Amy ligou o gravador de voz de seu celular, e em voz baixa, ainda em meio ao som de vaias por toda a escola, começou a gravar uma mensagem.

— Enquanto eu voltava para sala, senti que tinha alguém me seguindo, pensei ser algum aluno fazendo uma brincadeira sem graça, — disse ela, com a voz demonstrando certo medo. — desci pelas escadas mais próximas, achei que era apenas a minha imaginação e vim para o banheiro lavar meu rosto...

Ouviu algo que parecia ter sido o som da porta do banheiro abrindo, sentiu um gelo repentino percorrer todo seu corpo, ela sabia o que aquilo confirmava, respirou fundo e continuou a gravação, tomando cuidado para não ser ouvida.

— As luzes se apagaram de repente, ouvi gritos por toda a escola, olhei para o espelho, mal consegui ver a minha imagem nele, — continuou ela. — aquilo estava me assustando, corri e entrei em um dos boxes e o tranquei em seguida, foi quando comecei essa gravação, tenho a impressão de que cometi um erro... um erro que pode me custar caro...

Olhou para baixo, pelo espaço que havia entre a porta do box e piso, viu uma silhueta na frente dela, sentiu uma repentina vontade de chorar... ela nunca foi o tipo que esconde seus sentimentos e ela realmente estava triste por saber o que iria acontecer, mas conteve o choro... precisava terminar a gravação.

— Não consegui fazer contato com Mei, Jimmy, Tomy ou Drake, o celular de nenhum deles está dentro do alcance, o celular de Dennis está desligado... não sei o número de nenhuma outra pessoa da escola, — concluiu ela, respirando fundo e mudando seu tom de voz, falando de uma forma que ficava claro que era os últimos momentos da gravação. — sinto que os próximos minutos serão os mais intensos, mesmo em meio a escuridão, posso ver uma sombra adulta familiar parada bem na frente do box onde estou escondida... a sombra do Diretor da escola... não era minha impressão... não sei qual será o resultado da atitude que estou prestes a tomar, mas... aqui vou eu...

Amy encerrou a gravação, guardou seu celular no bolso, e pegou em sua meia um pequeno objeto vermelho, era um pequeno e afiado estilete. Não se orgulhava de carregá-lo mas sabia que poderia precisar dele. Estava satisfeita por não estar tremendo como da última vez que precisou usá-lo. De qualquer forma, nada de bom poderia resultar daquilo... ela morreria ou se tornaria uma assassina, mas não era a hora de se importar com sua moral ou sentimentos, era sua vida que estava em jogo.

Fechou seus olhos, deixou que sua mente fosse inundada de lembranças e bons sentimentos, não foi necessário muito tempo para se convencer de que não tinha arrependimentos, algumas pequenas lágrimas escorreram de seus olhos, ela não sabia ao certo se eram de felicidade, tristeza ou por qualquer outro motivo...

Abriu seus olhos, dessa vez, esvaziando sua mente e se concentrando, com todas as suas forças, abriu a porta do box e correu para fora dele, vendo um velho conhecido lá fora esperando por ela, com uma faca nas mãos e um cínico sorriso. Aquele que ela pretendia ver no fim do dia... com quem ela tinha ficado preocupada... com quem ela, um dia se importou.

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