Capítulo 1

3K 224 79
                                    

Verônica

.

"Na minha casa em meia hora, escrivã."

Assim que desligo o telefone, um calafrio me invade. Uma sensação estranha, como se eu estivesse prestes a passar mal. Começo a suar frio e só percebo quando, em um gesto involuntário, arrumo a minha franja, sentindo os cabelos colarem na minha testa.

"E agora?"

Essa era a pergunta que me perturbava. O aniversário de Lila era daqui a pouco e com certeza a pequena ficaria muito chateada se eu faltasse mais uma vez.

Outras questões que me vinham a mente eram: E se Anita, na verdade, estivesse mentindo? E se essa ligação não passasse de uma armadilha? Eu queria muito que a delegada não se deixasse levar pelos pensamentos que a guiaram desde muito nova. Por mais que fosse uma babaca sem tamanho, ela não merecia isso. Não merecia passar pelos mesmos abusos que aquelas outras mulheres inocentes. Matias é um canalha por, principalmente, usar a imagem de Deus para cometer diversos crimes graves. Não que eu seja ortodoxa, mas aproveitar-se da fé alheia para cometer esse tipo de ato é a mais pura e nítida covardia, além da estupidez e do mau-caratismo expostos bem na nossa cara.

Já sujei minhas mãos de sangue, e não me importaria em sujá-las novamente se fosse necessário. Brandão e o DG tinham sofrido pouco em minhas mãos, queria mesmo era que aquele tenente-coronel maluco tivesse sido castrado. Não vou deixar que Matias saia impune dessa situação de merda. Ele merece sofrer da mesma forma na qual tratou, durante a sua vida toda, suas fiéis, que apenas esperavam pela cura. Não deixarei que Ângela ou sua mãe terminem como Janete. Eu me condenaria pelo resto da vida se isso acontecesse.

Não tenho outra opção, preciso descobrir os objetivos e os planos da loira urgentemente. Lila e seu aniversário vão ter que esperar só um pouquinho. Depois eu tento compensar essa falta.

A caminhada até a minha moto tinha sido tensa, parecendo-me mais um passeio longo, perturbador e sem fim. Céus, eu não tenho medo da morte, mas se for hoje, não sei como vou aguentar o peso de não ter me despedido da minha família da forma correta. Anita, sejam lá quais forem os seus planos, espero que me ajudem.

Paro um pouco, tentando me acalmar e pensando na vantagem que eu tinha contra ela: Eu sou aliada de uma equipe investigativa inteira, e confio em Glória para me ajudar em qualquer situação. A relação que eu criei com essa delegada foi, de longe, uma das melhores e mais saudáveis que já construí nos últimos tempos mas, apesar de tudo, sinto falta de Nelson como o meu companheiro. Aquele homem tinha me virado do avesso. Ele conseguia ser prestativo, atencioso... Tudo ao mesmo tempo.

Eu estava abalada. Não conseguia deixar de pensar nele e no meu pai, que tinha sido um cretino... O velho realmente estava envolvido com tudo. Ele levou Anita para aquele inferno, aceitando-a de bandeja assim que viu que a mãe da menina não se importava em vendê-la em troca de uma boa vida para si.

E ainda acreditei que Júlio Torres fosse inocente...

Droga.

Finalmente subo na moto, se continuasse pensando por muito tempo poderia morrer de desgosto ali mesmo.

Dou a partida.

Com o passar dos minutos, aproximo-me cautelosamente, cada vez mais, daquela casa que, apesar de simples, tinha um certo luxo, tendo o cuidado de parar a uma distância considerável do portão. Apertei o cabo da minha arma, temendo o que estava por vir. Mordisquei o meu lábio inferior e, por fim, tirei o capacete.

Love & Redemption - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora