Capítulo 2

1.9K 190 172
                                    

Verônica

.

Eu estou em uma sala escura, rodeada por cadeiras. Várias pessoas estão a me julgar por não ser eficiente, por não ter sido rápida. Uma mesinha no centro, onde uma figura sem face parece observar a situação. Sua energia me consome, fazendo as minhas pernas perderem a força, cansadas, despencando em um abismo sem fim, direto pra escuridão, como uma toca de coelho.

Sinto algo me puxando para baixo cada vez mais rápido, e eu simplesmente não posso fazer algo para impedir, apenas sentir o impacto causado pela queda, minha estrutura totalmente fraca.

Com os olhos fechados, tenho flashs rápidos de Matias com Anita. Após aquela aproximação que ambos tiveram, a delegada parece hesitante em ir pegar alguma coisa, mas obedece o pedido do homem.

Outro flash.

Sua figura sombria se posicionando atrás da loira, a consumindo por completo e, em uma sagacidade e rapidez, quebrando seu pescoço.

Outro flash.

A imagem do corpo de Anita no chão, completamente sem vida, misturando-se, por um momento, ao sangue quente dos meus pais...

Eu não pude fazer nada para impedir suas mortes.

Abro os meus olhos.

— A culpa é sua. Se você tivesse chegado a tempo... Mas foi muito lenta e ignorante, como sempre. — A figura sem face se revela, Matias me olhando com um sorriso quase psicopata. Não consigo reagir, meu coração simplesmente vai a milhão enquanto sinto uma tontura indescritível, fazendo-me encostar minha cabeça no chão novamente. — Você não conseguiu salvá-los. Vingou Janete mas, mesmo assim, não a salvou. A culpa é sua, completamente sua! — Ele ria de escárnio, um som alto e apavorante enquanto tirava de seu cinto, uma arma. A mesma arma da qual ele não foi capaz de matar Anita, apontada para mim. E agora, vai se juntar a eles.

Sinto uma dor de cabeça insuportável, gritando em agonia. Eu estou cercada por corpos cadavéricos. O túmulo de minha família manchado de sangue.
Olho para o lado e vejo, também, Janete e Nelson, carbonizados, que pareciam me encarar com um misto de raiva e angústia.

ASSASSINA! — Ouço alguém gritar, mas sou incapaz de decifrar a voz, deixando que a escuridão me dominasse por completo enquanto não sentia mais minha presença pertencente àquele plano.

.

Acordo em um susto, levantando rapidamente a cintura e sentindo minha respiração descompassada se acalmar aos poucos, colocando ambas as mãos em meu rosto. Esses sonhos apavorantes estão começando a ficar cada vez mais frequentes, e eu não sei se devo me preocupar com isso.

Quando termino de me recompor, olho, quase que instintivamente, para o sofá onde a loira ainda repousava, serena. Percebendo que, por causa dessa merda de pesadelo, havia acordado muito cedo e, provavelmente, não conseguiria mais descansar direito, resolvo sair dali.

Após organizar tudo e trocar de roupa, me direciono, sedenta, até o saco de pancadas que se fazia presente sempre que eu precisava treinar ou descontar minha raiva em algo, mas paro quando penso no sono de Anita. Hoje talvez fosse um dia cheio de perguntas e eu precisava que ela tivesse energia reservada para responder todas e nos ajudar a quebrar o sistema.

"Dessa vez eu vou te deixar descansar."

Não sei se estava dizendo isso mentalmente para a delegada ou para o saco.

Meio insatisfeita com o meu excesso de bondade, ando até a mesa, onde aquela maleta se fazia presente.
Quando chegamos nesse lugar, após decidirmos que seria melhor, na verdade, virmos com minha moto, Anita não disse uma palavra a não ser para perguntar onde dormiria ou para me chamar de idiota por ter deixado o seu carro lá, o que apenas me fizera respondê-la com um "mal-agradecida" ou "babaca".

Love & Redemption - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora