Capítulo 4

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Naquelas circunstâncias, uma dor nas têmporas era inevitável. A Torres sentia seu corpo estremecer fortemente, respirando de forma descompassada na maca daquela sala mórbida. Podia sentir a agulha de um soro recente fincada em sua pele, e evitava abrir os olhos, pois sabia que, se os abrisse, teria que lidar com a realidade.

Ainda não tinha notícias de Paulo. Estava, pela primeira vez em muito tempo, com medo. Medo do que teria acontecido com o homem, medo da reação de seus filhos, medo de um futuro em que Rafael e Lila cresceriam sem a figura paterna que tanto os guiou...

A história estava se repetindo, e a escrivã queria que tudo aquilo fosse apenas mais um de seus sonhos ruins, que a ligação de Prata fosse mentira, algum tipo de brincadeira idiota.

Sabia que não era.

Cerrou os dentes, sentindo lágrimas se acumularem em cheio nos olhos. Um soluço sofrido as fizera escapar, seu coração palpitando rapidamente em um aperto frio. Sentia-se impotente, fraca.

Uma mão suave em sua testa a fizera, finalmente, abrir as pálpebras. Suas íris tão marejadas que mal conseguia enxergar quem estava ali.

Mas conhecia aquele toque.

Uma sensação ainda pior viera ao perceber que era a Berlinger quem a observava naquele estado. Tratou de limpar suas bochechas imediatamente com a mão livre, que não repousava, fungando.

Que merda!

Mesmo tentando, não conseguia parar de soluçar: A angústia em não estar sabendo sobre coisa alguma. Depois que desmaiara, só se recordava do olhar preocupado e do colo de Anita. Não se lembra dos primeiros socorros, muito menos do caminho para o hospital.

A mão da loira se afastou devagar, dando lugar a um suspiro incômodo. Sua voz surgindo para tranquilizar Verônica:

— O que você tá sentindo? — Antes de irem para a emergência, a delegada ficou desesperada quando presenciara o desequilíbrio da mulher ao seu lado, em um dos corredores da delegacia. Chamou Glória rapidamente, ambas tentando fazer os primeiros socorros, mas nada estava adiantando. A escrivã respirava de forma rápida, colocando uma de suas mãos involuntariamente no peito enquanto Anita tentava manter a calma para ajudá-la, não sabendo que tipo de ligação havia provocado aquela crise.

— Dor... — Não mentira. Porém, isso não era nem um terço do que realmente estava a fazendo permanecer naquela forma deplorável. Comprimiu os lábios ao sentir uma pontada forte na cabeça.

— Precisa tentar comer alguma coisa depois, você regurgitou muito. — Disso a escrivã não se lembrava. Queria sair correndo dali pelo vexame. Não conseguia acreditar que a loira houvesse presenciado tudo aquilo.

Acenou com a cabeça, em concordância. Ela tinha que tentar saber mais informações sobre a ligação de Prata.

— O que houve com o Paulo? — Seu tom era suplicante, desesperado. Se pudesse e tivesse forças, arrancaria aquele soro e procuraria as respostas por conta própria.

Anita arqueou uma sobrancelha, em dúvida. Porém, foram necessários apenas alguns segundos para que tal compreendesse o porquê do estado de Verônica.

"Tem algo ou alguém que você ame muito? É o que vão atacar se vacilar."

Ouvira essa frase desde nova: As consequências do rompimento com a tríplice "unha, carne e sangue". Ela se encaixava perfeitamente com a situação da Torres: Apagaram seu marido de alguma forma para apunhalá-la, abalar seu emocional.

Love & Redemption - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora