Capítulo 5

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Verônica

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— Encontrei o carro.

A certeza na voz de Glória era indiscutível.

Estávamos nós quatro, rodeando aquela sala. Após a situação toda, Ângela e Carol ficaram mais contentes ao saber que os problemas seriam resolvidos em breve, e a Volp parecia extremamente confiante.

Novamente, eu estava ansiosa. Andava de um lado para o outro, esperando por mais informações sobre o sujeito que teria machucado o pai dos meus filhos, e Anita apenas me observava, sendo ela a única parada, no mesmo lugar, por mais de cinco minutos, com os braços cruzados. Parecia pensar em algo, seus olhos às vezes focavam, prontamente, na minha inquietação.

— Por sorte, o filho da puta provavelmente resolveu dar uma de ingênuo e levar seu marido, Verônica, para um matagal. Porém, ele não sabia que alguns vizinhos estavam à espreita. — E fizera uma pausa, apenas para direcionar sua feição séria na Berlinger, que retribuiu, cúmplice. É impressão minha ou essas duas estão se dando bem? — Um homem anotou a placa. Nesse momento, já estão rastreando. Os moradores estavam de olho pois, no mesmo bairro, havia acontecido um assalto há algum tempo. Eles foram alertados a permanecer atentos a quaisquer movimentos incomuns.

Foi a vez de Anita se pronunciar, finalmente:

— Isso não me é estranho... Eu só espero que, diferentemente do Guilherme de Pádua, esse ou esses aí fiquem bastante tempo atrás das grades. — Quase sorri, ela estava cada vez mais próxima de fortalecer sua sensatez e empatia. — Mas, se não foi exatamente um homicídio, um longo mandado vai ser complicado...

— É como dizem: A justiça brasileira é cega, surda, e muda também. — A indignação na minha voz era notável, e logo fiquei cabisbaixa. Apertei um pouco os lábios e suspirei, exibindo a minha frustração.

Glória colocou uma das mãos em meu ombro e, em um gesto carinhoso, acolhedor, sorriu de canto.

— Não se preocupe. Vamos fazer de tudo e mais um pouco pra caçar os babacas. Se for só um, vai ser mais fácil ainda. — Seu olhar se direcionou a loira, que caminhou até nós. Uma postura calma, seus passos eram lentos... Apenas o barulho dos saltos contra o chão se fez presente por alguns segundos.

Céus, essa mulher consegue se manter elegante em qualquer momento.

— E, pra deixar a situação ainda melhor, eu já tenho um certo suspeito. — Fizera uma pausa dramática, apenas para ligar a cafeteira e pegar um copo pequeno. Desde quando a delegada ficou tão viciada em café? — Lima.

Caralho.

Como eu não pensei nisso antes? O maior aliado de Anita por vários anos, quase um capacho...

Que, com certeza, ficou muito puto ao descobrir que tal saiu do "lado negro da força".

Sorri com gosto. Se foi ele mesmo, estava pronta para arrancar seu pescoço com meus próprios dentes.

— É a cara dele fazer esse tipo de coisa. Pra deixar tão óbvio assim, só sendo um imbecil. — Meu olhar estava fixado nas jades da Berlinger, que não se atreveu a desviá-las. — Não sei como você, inteligente e perspicaz, conseguiu trabalhar ao lado de um bosta como aquele.

Nossa tensão era perceptível.

Ela colocou uma das mãos em meu ombro mas, diferente do carinho da Volp, aquele gesto fora provocante, feroz, quase como um ataque ao pouco ego que minha mente ainda mantinha.

— Eu trabalhei por alguns anos com uma certa escrivã incompetente... Dar ordens a ele foi fichinha. — Nossos rostos estavam tão próximos, que senti seu hálito quente e doce me consumir. Por um momento, me senti embriagada, até retomar a consciência.

Love & Redemption - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora