Cap. 017 ⎯⎯ uns dias de ferias

7.7K 836 457
                                    

Any G.
09.05.2019
Rio de Janeiro

Minha cabeça estava encostada na janela aberta do carro, meus cachos voavam livres por causa do vento, eu encarava o meu reflexo pelo retrovisor, mas não pensava em nada, apenas me encarava sem pensar em absolutamente nada.

Escutava o barulho do vento se misturando com o barulho do mar em que nos aproximavamos, escutava também o som baixo do carro que Joshua está à dirigir. Escutava também seus dedos batendo contra o volante no ritmo da música.

Vez ou outra sentia seus olhar me queimar, e de todo o modo não pronunciava nenhuma palavra desde a pequena discussão que tivemos assim que desembarcamos aqui, no Rio de Janeiro, nossa cidade Natal.

A discussão foi boba, ⎯⎯ como sempre ⎯⎯ começou com nós praticando o último exercícios que a psicóloga nos passou, durante esses cinco dias, por pelo menos dois minutos, praticamos um pouquinho, mas nunca dura muito tempo, justamente porque nenhum dos dois consegue segurar a língua dentro da boca.

Rolei meus olhos para longe do retrovisor e apoei meu queixo na janela, e encarei a imensidão do mar a minha frente. Foi automático, respirei fundo e fechei meus olhos, sentindo cheiro gostosinho de lar.

E logo meus pensamentos tomaram conta de mim, minha adolescência passou como flashs em minha memória. ⎯⎯ e me forcei a ignorar meus piores momentos que vivi nesse mesmo lugar que eu chamo ou chamava de lar ⎯⎯ Um pequeno sorriso tomou conta dos meus lábios, enquanto eu podia jurar escutar risada dos meus amigos, sentir aqueles abraços carinhosos e aconchegante. Ah, eu amo esse lugar.

Mas o odeio ao mesmo tempo.

⎯⎯ pretendo me encontrar com a minha mãe, antes de irmos encontrar nossos amigos. ⎯ a voz de Joshua interrompeu meus pensamentos.

Me ajeitei sobre o banco e o encarei, que mantia seus olhos focados na estrada.

⎯⎯ tudo bem, não me importo.

E realmente não me importava de encontrar a mãe dele primeiro. Na verdade eu amo a mãe dele, ela é a melhor pessoa desse mundo inteiro, o tipo de mãe que eu queria ter tido.

Me pergunto como uma mulher tão maravilhosa, pode ter feito e criado um filho tão... ah, desprezível e insuportável como o Joshua. Gosto de pensar que ele é adotado.

⎯⎯ se você preferir, pode ficar no carro  ⎯ franzi o meu cenho pra ele ⎯ prometo ser rápido.

⎯⎯ de jeito nenhum! Que ideia é essa? ⎯ ele revirou os olhos e eu logo entendi. ⎯ ciúmes porque sua mãe prefere a mim do que a você!?

⎯⎯ ah, por favor, Gabrielly... Cala a boca.

Soltei uma risada fraca, ainda o encarando. O silêncio tomou conta do ambiente mais uma vez, mas dessa vez eu fui a primeira a quebrar e a iniciar a nossa atividade.

⎯⎯ esse corte ficou bom em você. ⎯ elogiei o seu cabelo recém cortado.

Seus olhos saiu da pista por um segundo apenas pra me encarar. E então seus ombros relaxaram, e sem desviar o olhar da estrada ele disse:

⎯⎯ amo quando seu cabelo está natural. ⎯ não consegui evitar de revirar os olhos.

Mas de todo o modo, desviei o meu olhar para o retrovisor, encarando o meu reflexo. Levei minha mão as pontas cacheadas do meu cabelo e as toquei levemente.

𝘼𝙥𝙚𝙣𝙖𝙨 𝙉𝙚𝙜𝙤𝙘𝙞𝙤𝙨 ⟶ 𝗕𝗲𝗮𝘂𝗮𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora