A manhã seguinte à visita de Margô trouxe não só chuva, mas o luto da família de Geórgia.
Garoava fraco desde que o sol se pusera ao céu, e as nuvens cinzas vêm o tampando desde então.
Margô estava estática sobre um rochedo íngrime, encarando o mar agitado. Atrás dela, acontecia o funeral de Heloá.
— Você deveria experimentar olhar para o outro lado. — Fala Amália.
— Eu estou bem assim. — Responde, analisando a onda do mar que se chocava contra uma rocha próxima.
— Venha se despedir, Margô.
— Eu já... — Há rispidez em sua voz quando ela se vira para Amália, irritada.
Quando seus olhos se encontram, Margô aproxima o punho da face, e seus dedos brincavam com um pedregulho.
Amália estava em silêncio, com as mãos dentro dos bolsos do terno que vestia, e ela pouco se aflige quando Margô atira o pedregulho contra um tronco.
A pequena pedra, por sua vez, se desintegra em pedaços menores, e a madeira da árvore lasca. Margô encontra certo reconforto nisso.
— Eu já me despedi.
O silêncio paira entre as duas até que Amália a acompanhe, indo até a beira do rochedo. Acalantando a voz, ela sabe que pisa em ovos neste momento.
— O que você está planejando fazer?
Margô lança uma encarada por cima do ombro, mas não dura mais que poucos segundos.
— Não te interessa.
— Margô. — Suspira — Nós duas sabemos quem são os principais suspeitos, e você melhor do que ninguém saberá onde...
— Se você sabe que os Caçadores são responsáveis por isso, vá e conte a elas. — Margô inclina a cabeça em direção à cerimônia, onde o bando das licantropas se reunia.
— Você não vai fazer nada? — pergunta, tão ofendida quanto surpresa.
— Dá um tempo, Amália.
— Ei. — Fala uma voz calma. Kai, como havia se apresentado para Amália — Nós vamos enterrá-la agora, se quiser participar.
A troca de olhares entre as duas dura o suficiente para que Amália não encontre mais Margô quando volta a olhar para onde ela estava antes.
— Estou indo. — É o que diz, voltando ao local da cerimônia.
Margô estava não muito longe dali. Estava longe de Amália, e caso se concentrasse bastante, poderia ouvir o final de cerimônia, o que era suficiente. O barulho constante da água que desabava da Nascente tranquilizava sua mente e, de forma mínima, seu coração.
Até que um som desconexo da Nascente e tampouco da mata ganha atenção de seus ouvidos. Um passo pesado, deslocado, que incomoda não só os galhos secos sendo quebrados como toda a fauna ao redor, que estranha e se esconde da visita indesejada.
Margô tinha a visão fixa à direção de onde vinham os barulhos, que se aproximavam mais e mais. Cada galho quebrado, cada folha balançada mais abruptamente do que deveria, cada som de respiração alto demais... Tudo isso crescia aos ouvidos da vampira até que conter seus impulsos se tornasse impossível.
Cabelos ruivos, então, se esticam para fora da sombra formada pela mata fechada. Geórgia, era Geórgia. Margô abaixa a guarda, um tanto quanto decepcionada.
— Você! — grita com a fala enrolada — Eu conheço você!
Margô não responde, analisando.
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sol da meia-noite
FantasyAmália é uma criatura solitária que vive há quase metade de um milênio. Diferente dos outros vampiros, ela foi presenteada com um dom nunca visto antes: Amália não pode ser morta. Cecília é uma jovem tímida, um tanto quanto sonhadora e moradora de...