— Você sabe quantas pessoas passaram por aqui antes de nós?
Amália pergunta, arrastando pedregulhos com os mocassins pretos.
— Deixe-me pensar.
O sol já evidenciava seus últimos raios, embora ainda fosse demorar a escurecer. Amália caminhava pelas sombras das copas das árvores, e Louise se aventurava a saltar de rocha em rocha no riacho que subiam.
— Nenhuma. — Louise ergue o queixo — Este riacho era inexplorado até agora.
Amália ri, negando com a cabeça.
— Está errada.
Louise fita-a com os olhos esverdeados misturados com certo mel, brilhantes quando colocados contra a luz do sol. Em silêncio, sorri.
— Foram muitas pessoas. — A vampira continua — Neste riacho uniam-se todos os tipos de criaturas algumas décadas atrás. E, antes delas, outras criaturas também.
— E você, com certeza, esteve com todas elas?
Louise gostava de ironizar a imortalidade de Amália. Gostava ainda mais de ser a única de toda sua comunidade a estar em contato com sua realidade.
— Não. Eu os assistia de longe. Para falar a verdade, esta deve ser a primeira vez que estou feliz de estar aqui.
— E por que isso?
— Porque estou com você.
Imediatamente desvia o olhar. Encarava os sapatos, ou a mata densa.
Louise cessa os saltos, ainda com um sorriso esboçado. Contraía alguns músculos do rosto e franzia o cenho, incomodada pelos raios solares que ardiam seus olhos.
— Ei. — Fala baixo, sabendo que Amália a ouviria.
A vampira se vira, já alguns passos à frente, para encontrar Louise surpresa com sua fala. Relaxava os ombros, negando sucintamente com a cabeça e sorria. Encaravam-se.
— Por que não nos leva ao topo da cachoeira de uma vez? Assim, chegaremos lá somente ao amanhecer.
— Talvez devêssemos. Já está ficando tarde.
— E...?! — exclama, deixando as rochas e seguindo em sua direção — Quem, em toda esta ilha, teria coragem de mexer com a grande Amália Pickett?
Amália leva o dedo indicador aos lábios que formavam um meio sorriso. Pedia silêncio: Louise, talvez, a conhecesse bem demais. Com a outra mão, estende-a em sua direção.
— Segure firme em mim.
.
Em um pulo, Amália desperta. Grunhe baixo, voltando a piscar incessantemente.
— O quê? — Sussurra, franzindo o cenho.
Havia se perdido em seus pensamentos, e não gostava disso. Amália suspira, afundando uma das almofadas pequenas do sofá contra seu rosto enquanto se derramava sobre o encosto.
No andar de cima, pode ouvir os pés de Cecília batendo contra o chão. Incessantes, ela parecia perambular por seu quarto. Ouvia os batimentos de seu coração acelerados, e até o som de sua respiração descompassada.
Entretanto, não gostaria de ouvir o que balbuciava. Não para respeitar sua privacidade, e sim porque de pensamentos embaraçosos já bastavam os seus.
Ao se levantar, segue para a cozinha. Abre a geladeira e algumas portas dos armários suspensos na parede. Cecília andou fazendo compras no supermercado.
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sol da meia-noite
FantasiAmália é uma criatura solitária que vive há quase metade de um milênio. Diferente dos outros vampiros, ela foi presenteada com um dom nunca visto antes: Amália não pode ser morta. Cecília é uma jovem tímida, um tanto quanto sonhadora e moradora de...