O sol acabara de nascer quando Csilla atravessou a rua em direção à casa de Marise. Seus olhos estavam cansados e com enormes olheiras; não tinha conseguido dormir depois que Cleo fora embora. Agora, estava indo atrás de respostas, mesmo que ela preferisse esperar que Karoline às contasse, não sabia ao certo o que teria acontecido com sua mãe, já que nunca havia ficado tanto tempo fora e que coisas assim nunca tinham acontecido antes. Ao chegar na porta ela hesitou por breves segundos, não sabia se Marise estaria acordada, mas era provável que estivesse já que Cleo havia retornado de madrugada, o que era incomum. Ela soltou um longo suspiro e bateu na madeira, seu coração dançava em excitação.
- Está aberta! - a voz de Marise soou como se ela já estivesse esperando-a, o que de fato estava; ao abrir a porta, Csilla deparou-se com Marise, que estava pousando o bule lilás sobre a mesinha de centro. Sempre que Csilla a visitava Marise preparava um chá para recebê-la, como se por alguma razão sempre soubesse a hora exata em que chegaria. Ela entrou fechando a porta.
- Bom dia querida - falou Marise sorrindo com ternura, como sempre fazia.
- Bom dia - respondeu sem jeito. Csilla tinha preparado uma série de questionamentos no caminho até a casa de sua amiga, mas não sabia por onde começar - E Cleo? - indagou olhando ao redor e não vendo a amiga.
- No quarto, provavelmente está acordada, acredito que não dormiu desde que chegou nesta madrugada e a julgar pelas olheiras você também não. Marise era uma mulher incrivelmente direta. O roupão ainda a envolvia por cima da camisola. Ela fez um gesto indicando para que Csilla se sentasse.
- Se quiser posso chama-lá.
- Não precisa - respondeu erguendo o bule e Marise serviu um pouco de chá para ela.
- Camomila, vai te ajudar a relaxar e a dormir um pouco depois - falou com delicadeza.
- Obrigada - respondeu, tomando um gole do chá, que desceu quente e doce por sua garganta, era reconfortante. Marise sempre sabia como fazê-la se sentir à vontade.
- Acredito que já saiba o que me trás aqui.
- Bom, sim - disse Marise com cautela - conversei um pouco com Cleo e ela me contou, por alto, o que aconteceu. Não fique chateada, ela realmente não sabia.
Csilla ergueu os olhos para encontrar os de Marise. Embora sempre tivesse sido gentil com ela, sentia-se intimidada, ela respirou fundo.
- Então me diga, o que realmente está acontecendo? - indagou Csilla.
- Os sonhos que você vem tendo são memórias, que foram escondidas em sua mente enquanto você dormia. Karoline tinha medo de que algo acontecesse com ela ao decorrer dos anos e de que você ficasse sozinha, então decidiu deixar para você algumas memórias para que pudessem te ajudar e te manter segura. Marise bebericou um pouco de chá para fazer uma pausa. Ela colocou a xícara sobre a mesa e se levantou estendendo a mão para Csilla.
- Venha comigo, tem algo que preciso mostrar-lhe. Ela colocou a xícara de lado e a seguiu. Marise a conduziu até o porão de sua casa. Era um cômodo sem janelas, iluminado por algumas lâmpadas embutidas no teto. Estava repleto de prateleiras que abrigavam objetos empoeirados, com algumas teias de aranha aqui e ali. Um longo tapete creme se estendia por todo o lado direito, onde ficava uma mesa de madeira e um vaso contendo uma planta vermelha alaranjada que mais parecia um pequeno sino iluminado com uma luz própria. Marise caminhou até a mesa e deu a volta para sentar-se, Csilla puxou a cadeira que ficava de frente para ela e acomodou-se. Uma pequena fada sorridente saiu voando de dentro da flor balão e, ao ver que Marise não estava sozinha, assustou-se e voou de volta para onde havia saído.
- Tudo bem, Camélia pode vir! - disse Marise abaixando-se ao lado do vaso, onde Camélia estava de cabeça pra baixo dentro da flor, apenas com os olhos para fora. Marise estendeu o dedo indicador para que ela o segurasse e aos poucos conseguiu tira-lá de dentro. Marise a conduziu até Csilla que estava encantada.
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O ressoar das estrelas perdidas
Fantasy⚜️ Finalista do Wattys 2022⚜️ Csilla vive perdida em seus pensamentos, sempre a procura de algo que sequer sabe o que é. Quando sua mãe desaparece, Csilla começa a ter sonhos com ela, sonhos que se tornam cada vez mais vivos até que um dele...