Capitulo 1

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Setenta e dois anos depois...

Sentada à beira do lago, Csilla sentia a brisa leve tocar seu rosto; de olhos fechados deixou que seus pensamentos voassem através da noite tranquila. Ela não conseguia se lembrar da última vez em que havia se sentido assim, em paz. Os últimos meses foram realmente conturbados, como se estivesse em uma montanha russa que, após chegar ao topo, despencou sem previsão de subir novamente, e tudo o que restou foi ser empurrada para baixo enquanto o tempo passava ao seu redor.

A lua saiu tímida detrás das nuvens, iluminando lentamente o crepúsculo que havia entre as árvores, fazendo com que as sombras tocassem o lago. O vento tratou de levar algumas folhas para a superfície da água e, como um beijo, elas o tocaram levemente, o que fez a água se mover em resposta formando pequenas bolas ao redor.

- É maravilhoso – exclamou, inclinando-se para ver a grande bola prateada refletida como em um espelho turvo. Ali onde estava não conseguia ver onde o lago começava, apenas onde ele terminava. Como a proa de um navio, o formato da borda era estranhamente arredondado e inclinado, ao mesmo tempo que mostrava o seu fim, dava abertura para um novo horizonte. E eis que o vento se levantou mais forte que a brisa, trazendo com ele um choro de uma criança, o som ecoava estridente pelas sombras. Csilla levantou-se e estreitou os olhos procurando de onde ele vinha.

"O que faz uma criança aqui a esta hora?", pensou repentinamente.

O choro veio mais intenso que da última vez; sombras se mexiam com certa rapidez detrás das árvores na borda oposta do lago. Csilla começou a se mover tentando acompanhá-las, porém sua visão era limitada devido a distância em que estava. Um arrepio percorreu seu corpo quando, finalmente, conseguiu ver duas mulheres que emergiram do meio de folhas, galhos e sombras. Ela sentiu um desejo incontrolável de ir até elas, então começou a correr na mesma direção para onde o lago acabava.

- Peguem-nas! Rápido! Não deixem que escapem. – Alguns homens haviam surgido logo em seguida. Pareciam estar nesta perseguição há algumas horas, pois ao mesmo tempo que corriam, tentavam puxar o fôlego. Os homens estavam usando grandes casacos pretos com detalhes bordados em linha prata que reluziam ao toque dos raios lunares.

Csilla gritou e acenou para tentar chamar a atenção dos homens e atrasá-los um pouco ao verem que alguém os vigiava, porém, pareciam não ouvir ou sequer ligar para sua presença ali. As mulheres estavam próximas à borda do lago. Csilla correu com mais intensidade para tentar se aproximar. Mas, o que poderia fazer? Nunca esteve em uma situação assim, na verdade ela se considerava uma pessoa bem pacífica; nunca se envolveu em brigas ou conflitos, nem sequer na época da escola quando um menino de sua sala tentou roubar seu lanche. Se não fosse por Cleo, ele teria sido bem sucedido. Finalmente, as duas mulheres conseguiram dar a volta e agora corriam de frente para a luz da lua. Csilla pôde ver que uma delas carregava uma criança, que estava dentro de uma pequena rede presa ao redor do corpo. A primeira mulher tinha cabelo escuro e seus olhos de um castanhos muito intensos, usava um longo vestido preto com um colar fino em seu pescoço; já a segunda mulher tinha longos cabelos loiros, usava um vestido verde escuro com um decote em v e pequenos brincos em forma de coração. A mulher de cabelos castanhos tropeçou e pisou na barra de seu vestido e, cambaleando, caiu de joelhos perto o suficiente do lago para molhar parte do tecido. Ela gritou de dor, pois quando caiu se apoiou unicamente em sua mão direita e ela absorveu todo o impacto de seu corpo evitando que caísse por completo.

- Alice! - gritou a de cabelo loiro, estendendo a mão para levantá-la, porém ela não olhou para cima, uma vez que estava abraçando a criança em seu colo que chorava devido ao susto que havia tomado.

- Vamos, levante-se! Eles estão perto!

Csilla finalmente as alcançou, estava quase sem fôlego. Ela olhou através delas para comparar a distância e realmente os homens estavam muito perto! Se elas não se apressassem, eles com certeza as pegariam. Csilla virou-se para avisá-las de que estava ali mas ao abrir sua boca não saiu ruído algum. Ela se assustou ao tentar gritar mais uma vez, porém, sem sucesso, era como se nem ao menos soubesse formar palavras, som ou qualquer ruído naquele momento, estava completamente sem voz; tentou então tocar no ombro da mulher loira que estava de costas para ela mas sua mão passou por ela como se Csilla fosse apenas uma ilusão.

O ressoar das estrelas perdidasOnde histórias criam vida. Descubra agora