Capítulo 1 - Farah

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Julho/Agosto

Volto pra casa me sentindo... Vazia.
Não tem outra palavra que me defina nesse momento, na verdade, não acho que essa sensação irá passar algum dia.

"Você precisa seguir sua vida." "É isso que ele gostaria que você fizesse." "Ele não gostaria de te ver triste."

As pessoas repetem incansavelmente esse tipo de frase para mim e tudo que quero fazer é manda-las calarem a boca.

Ninguém sabe o que ele falaria porque ele não está mais aqui para dizer.

Meus pais ofereceram os lanches após o velório em condolências aos Jones, e apesar de querer me esconder no escuro do meu quarto, mamãe disse que seria falta de educação, então me sento no canto da sacada e vejo as pessoas entrarem e saírem da nossa casa, alguns me dirigem um "meus pêsames" antes de entrar, outros pela graça dos céus parecem não me enxergarem aqui.

Em algum momento Evans se aproxima, ele parece ter envelhecido 10 anos nessa última noite.

Acho que todos nós envelhecemos.

- Eu sinto tanto Farah. Se eu soubesse, jamais teria pego o carro. - Ele senta pesado ao meu lado enquanto o vai e vem de pessoas continuam.

- Você não tinha como saber.

A noite vem e com ela inúmeras tentativas frustradas de fechar os olhos. Cada vez que eles se fecham eu ouço o som do metal amassando e vidros se quebrando, ouço os gritos de cada integrante daquele carro e vejo a nossa felicidade escorrer gelada pelo meu rosto como se cada vez se tornasse ainda mais real e me impedisse de sobreviver.

Arthur está aqui, ele voltou da universidade para a minha formatura, era para ser o dia mais feliz e agora se transformou nisso.

E foi assim por todo o mês que se seguiu.

Arth ainda conseguiu ficar em casa por uma semana. Ele sempre foi o irmão perfeito, sempre comigo.

Em algum momento pensei seriamente em cancelar a faculdade, mas ficar perambulando pelas ruas da cidade, lembrando cada boa lembrança que Daniel e eu criamos por ela não me ajudaria a superar.

Se é que tem como superar o que nos aconteceu e a sua falta eterna, então hoje é o grande dia.

- Eu posso te levar no aeroporto filha.

- Está tudo bem pai, eu vou me encontrar com alguns amigos antes de ir, aposto que eles vão querer me levar lá, não se preocupem.

- Mas não deixe de nos ligar, caso precise de carona, não vá se atrasar.

- Tudo bem. Eu amo vocês. - Pego minha mala e saio.

Todas as vezes desde o que aconteceu, sempre que alguém tenta me enfiar dentro de um carro eu arrumo uma boa desculpa.

Só de me imaginar novamente no interior de um veículo pequeno eu começo a entrar em Pânico, o que ainda é algo que eu consigo controlar em ônibus, se a viagem não demorar muito tempo.

Vou andando até o centro e pego um ônibus para o aeroporto, descendo algumas quadras antes pois já não conseguia mais ficar ali e como estou com tempo, ando tranquilamente até lá conseguindo chegar em tempo.

O voo é tranquilo. Tomei o remédio de enjoou e consegui dormir.

Depois pego mais dois ônibus, caminhando entre eles, até chegar ao campus e me alojar no dormitório.

Ainda sou uma das poucas por aqui, as aulas só começam daqui a três dias, então acho que terei algum momento para explorar até lá.

Pela manhã eu caminho pelos corredores, conheço as alas e me familiarizo com a biblioteca.
A noite eu curto o ar fresco e a calmaria do lado de fora dos alojamentos.

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