Capítulo 14 - Farah e Leon

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Farah

Então subitamente sou sacodida para a frente e uma luz branca me cega.

Pisco algumas vezes e ainda o chamo mas as mãos que encontram as minhas e me puxam para um abraço não são as dele.

- Ei Farah, está tudo bem, você estava sonhando...

A voz doce da Lucy e seu abraço quente me trazem novamente para a realidade, mas as lágrimas que escorrem pelo meu rosto me dizem que a dor que senti também foi.

Me afasto de seu abraço, olhando desesperada para a janela e vejo, o jeep está exatamente onde esteve durante toda a noite, mas agora o sol já está muito alto no céu.

Três meses.

Já estou aqui a três meses e nem as paisagens diferentes ou o novo ar foram capazes de arrancar da minha mente as imagens daquele dia infeliz.

- Lucy, o Leon... Ele está... - sou incapaz de terminar de pronunciar.

- Ele te ligou á algumas horas. Farah, o que tá acontecendo.

Caio novamente no travesseiro encharcado, com as mãos nos olhos e soluços enquanto as lágrimas caem desoladamente pelo meu rosto.

Lucy espera pacientemente até que eu me acalme e me traz um copo de água voltando a sentar ao meu lado.

Ao me erguer, encosto na parede dando espaço para que ela se acomode ao meu lado. Ela, delicadamente me olha e aguarda com seu olhar compreensivo.

- Você quer me contar o que te deixou tão agitada?

Suspiro e inclino a cabeça para o teto, sinto que preciso conversar com alguém ou irei explodir e a Lucy me parece ser a pessoa ideal para isso.

Reúno coragem e a conto o que aconteceu no dia da minha formatura. Repasso cada momento como se tivesse sido ontem e as mesmas sensações de meses atrás continuam fortemente gravadas em mim.

Quando termino de contar mostro a ela algumas fotos do último ano do colégio, entre lágrimas de tristeza e alívio ela me abraça apertado, e chora comigo.

- Então é por isso que você não dorme... E que recusa categoricamente entrar em carros...

- Os pesadelos continuam a me assombrar, eles simplesmente não desaparecem. - explico.

- Oooh, Farah, eu não tinha idéia de como você se sentia quando me via saindo, me perdoe.

- Você não teria como saber, Lu. É só que... Parece que essa culpa vai me perseguir para sempre.

- Amiga, que culpa? Foi um acidente.
Sentir saudades do Daniel é totalmente compreensível, mas você não pode deixar de viver por causa disso.

- Como eu posso viver se ele não teve essa chance? Isso é tão injusto, Lu. Era para estarmos aqui juntos, era pra estarmos vivendo a melhor fase das nossas vidas. Eu não sou melhor que ele, então por que eu tive essa chance e ele não?

- Ouça, eu não sou uma pessoa religiosa, mas acredito que não temos inteligência para compreender os planos de Deus Farah, porém caba a nós aceitar.

Suspiro derrotada, eu não me conformo que ele tenha ido e eu não, se tem alguém que deveria estar aqui era ele, não eu.

No entanto não irei discutir com a Lucy sobre isso.

- Você já pensou em conversar sobre isso com alguém? - a ouço perguntar.

- Estou conversando com você, não estou?

- Quis dizer alguém profissional, alguém que possa te ajudar a superar.

- Eu não preciso superar isso Lucy. Daniel era meu melhor amigo, eu não vou simplesmente viver como se ele nunca tivesse existido.

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