2. Decadência;

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A voz da repórter ecoava por toda a casa, alta o suficiente para que Hope Evans conseguisse ouvir de todos os outros cômodos que ela entrava e saía pela sua residência. Toda a sua agilidade se resultou em apenas uma consequência; estava atrasada, e a sua mãe odiava demora, mesmo a jovem olhando ela através da televisão. Ela comia do macarrão no pote apressadamente, enquanto tentava arrumar os cabelos úmidos e cuidar da maquiagem. Céus, era uma tarefa difícil para uma simples garota de vinte e um anos, e ela se via perdida diante à tantas obrigações. Tinha que cuidar de si só quando sua mãe, Kate Evans, saía para realizar reportagens, e como sequela, tinha o belo dever de também supervisionar o seu irmão mais novo. Era uma loucura, mal tinha tempo para respirar, ela esperava arduamente para o dia em que tudo viraria flores, como acontece com a sua mãe hoje.

Uma repórter exemplar, com uma carreira a zelar, tão pontual que fazia as obrigações da maneira mais certeira possível. E Hope, certamente, se inspirava nela e tratava de percorrer pelo mesmo caminho que a mãe foi. Mas, por Deus, a jovem não sabia que seria tão puxado daquela forma, o semestre da faculdade estava a deixando maluca, pensava que explodiria à qualquer momento. Mas era só colocar uma maquiagem no rosto, pentear o cabelo, se vestir com trajes elegantes e tudo daria certo. Afinal, Hope Evans era uma garota britânica, branca, de olhos claros e cabelos castanhos, tinha uma beleza estonteante, quem não iria a reconhecer? Somente um tolo cego incapaz de reconhecer o brilho através das íris daquela jovem, e a melhor parte é que ela sabia exatamente daquilo, e usava ao seu favor.

— Cinco minutos, Nathan! — berrou ela, mantendo-se focada nos livros que jogava dentro da mochila, na bancada da cozinha. Pestanejou os olhos para a televisão na sala, e quando viu a sua mãe com o microfone em mãos através da tela, percebeu que estava mais atrasada do que deveria.

— Eu já estou indo! — respondeu o garoto, com outro berro, ecoando do seu quarto até o cômodo onde Hope se encontrava. A garota revirou os olhos, farta da sua demora diária. Não sabia o que um menino de dez anos fazia de tão importante, mas também, não se preocupava e nem fazia questão de saber.

Ela liberou mais uma dose de resmungos. Sua cabeça não doía, mas o incômodo que sentia por não chegar no horário a deixava maluca. De fato, aquela não seria a primeira vez, mas ouvir mais uma sessão de sermão da sua mãe não estava nos seus planos. Culparia o despertador por não ter tocado mais cedo, ou até mesmo, o seu namorado por ter a impedido de voltar mais cedo da faculdade ontem, alegando que seria bom passarem mais um tempo no parque. E Hope sabia que seria estressante olhar para Kate, ela veria aquela expressão mortal de pura repreensão, e só em pensar naquilo, sentia a sua garganta secar. Foi até o banheiro e escovou os dentes em uma velocidade tão rápida que sequer demorou dois minutos. Se checou através do seu reflexo no espelho, sorriu quando percebeu que, como sempre, estava maravilhosa.

Prendeu os cabelos medianos em um coque samurai, parou à frente do quarto do irmão e praticamente esmurrou a porta. Em resposta, o garoto apenas abriu e passou por si, liberando sobre Hope xingamentos dignos de serem censurados. Se sentia mal por estar fora do horário, mas ora, todos daquele lugar a adorava, menos a sua mãe rigorosa. Eles diziam que Hope era a próxima repórter em progresso, e muitos até brincavam falando que tomaria o lugar da própria mãe. E, quem sabe, isso realmente aconteça, não seria tão péssimo para a jovem quanto ela pensava que seria, poderia provar para a sua mãe que ela estava errada esse tempo inteiro sobre si quando dizia que Hope não estava pronta.

O corpo do modelo Steven Quinn, um jovem na casa dos vinte anos, foi encontrado na saída do túnel central por moradores do local, que chamaram as autoridades assim que foi visto — mesmo que Hope estivesse preparando um sanduíche, ouvia atentamente à reportagem da mãe pela televisão, tão vidrada que nem sequer havia reparado que a geladeira tinha ficado aberta.

Hopeless To Survive - By. LaynB_ E MottxhOnde histórias criam vida. Descubra agora