5. Controvérsia;

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Cameron pressionou o maxilar, sentindo que estava prestes à cometer uma das maiores torturas que poderia cogitar em fazer, o sangue escorrendo do risco no braço doía como se tivesse machucado a mesma ferida dez vezes. Permaneceu distante dos outros, sua mão apoiada ao vidro da bancada da farmácia era vista pela garota, ora juntando todas as forças que conseguia. Observou a faixa coberta pelo vermelho da sua tortura, depois a garrafa de álcool, os algodões, as gases, a tesoura com a ponta repleta de sangue. Havia sido corajosa nas ações, podia sentir a mesma dor dezenas de vezes.

Ela também não conseguia pensar direito, sua cabeça pipocava um turbilhão de emoções e acontecimentos diferentes. A rua escura da noite, as mortes sem compaixão, o desespero de uma simples jovem instrumentista era deplorável. Mas a loira resolveu se desvencilhar daquelas próprias paranoias, agarrou a pinça com força e precisão. Sua mão tremia, não queria fraquejar, mordeu a barra da sua camisa com rigidez. Podia sentir um intruso no meio do corte, um caco extenso repleto de tortura e ausência de convite, e ela queria retirar o indiscreto, era capaz de ver a ponta do vidro para fora da ferida.

Contou até três, mentalmente. Fincou os dentes na camisa e só conseguiu ser valente quando viu que não dava para voltar atrás. Agarrou delicadamente a ponta do vidro, e o sentimento de dor física que aquilo lhe causou foi capaz de fazê-la morder tão forte que pensou que quebraria os dentes. Sua testa suava, quis lançar afora um resmungo berrante, uniu as sobrancelhas e se contentou apenas com um ruído dentro da boca. Puxou devagar, o tamanho do pedaço da vidraça da varanda preso dentro da sua pele lhe instigou a resmungar, a lâmina fina deu a impressão de que cortava ainda mais a sua ferida. Sentiu-se presa em um alívio enorme quando tirou, observou o vidro fixo às duas garras finas da pinça e contemplou a sua postura decair. Tinha o tamanho de um dedo anelar, e se surpreendeu por não ter visto antes.

Sofreu simultaneamente, o álcool posto acima de todo o vestígio de ferimento ardeu dentro da sua alma, não foi capaz de contentar as ofensas que jogou ao vento. Amarrou a faixa nova no final, a mais limpa lhe causou uma sensação de conforto, lavou as próprias mãos com o álcool depois. Ela se sentia exausta, correram tanto e tiveram lutas que ela nem mesma conseguia acreditar que tinham traçado. Respirou profundamente, admirou o curativo novo e se orgulhou dele, em partes. Mas os seus olhos esbarraram no outro lado do balcão, preso na estante junto à distintos remédios. Ela pensou se pagaria, refletiu imensamente se seria prejudicial levando em consideração a situação que se encontravam. Mas o seu vício parecia explorar os seus desejos, as suas ambições. Balançou a cabeça, tentou espantar aquelas palavras que apoiaria as suas obsessões pela brisa da embriaguez.

Em contrapartida, Bruce buscava encontrar refúgio no próprio ser. Pensou que fosse um sonho, que acordaria com os beijos da sua esposa na testa e novamente se viu fraco. Apertou os sapatinhos, admirou uma lágrima despencar acima do tecido, apertou as mãos nele. Entretanto, resolveu se livrar do luto, transformaria toda a sua angústia em ódio, nem que isso lhe custasse a sua sobrevivência. Ele fechou os olhos com força, respirou fundo quando afastou as suas dores do corpo. Transformou-se em um poço de amarguras, suas íris brilhavam a própria ira de um ser humano furioso. Não havia emoção, sentimentos, felicidade, neutralidade, bondade, humildade, respeito. Havia virado um robô, porém, por dentro, sua alma berrava por socorro, imagem da sua mulher morrendo não escapava da sua cabeça nem que lhe lançassem magia.

— Precisamos sair daqui, essa porta de vidro vai nos custar caro depois. — a proposta de Lince causou nos outros uma grande revolta interna, Hope respirou profundamente. Lembrar do sacrifício passado para chegar naquele lugar causava cansaço.

— Estamos aqui há quase duas horas, e nada. Acho melhor a gente ficar nesta área, vamos morrer se sairmos. — disse a Evans, acarinhando os fios do cabelo de Nathan. Ele dormia aos seus braços, o medo havia lhe paralisado tanto que desmoronou no colo da irmã.

Hopeless To Survive - By. LaynB_ E MottxhOnde histórias criam vida. Descubra agora