Lídia tem dois problemas.
Ela está apaixonada pela sua melhor amiga.
Ela nunca a viu antes.
Isso deveria ter a impedido, mas ela não conseguiu evitar desenvolver sentimentos pela garota que esteve presente em cada momento da sua vida, durante cinco...
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(05/10/2020)
Descobri que estava apaixonada por ela em uma das nossas chamadas de vídeo costumeiras no fim da noite.
Eu apenas aceitei sua solicitação e tive minha tela preenchida por sua imagem em tempo real não muito tempo depois.
Não foi em um lugar especial, não foi observando-a entrar em um lugar lotado em um vestido super chique e percebendo que a queria para sempre em minha vida, nada disso.
Ela estava linda, mesmo com seu pijama de berinjelas e suas olheiras pesadas abaixo dos olhos. Não que isso a fizesse menos bela ou que ela nunca estivesse bonita... Naquele dia algo estava diferente, eu a estava percebendo de uma maneira distinta, eu podia sentir isso.
E por isso tentei buscar miseravelmente por um piercing novo ou uma mecha colorida, algo que justificasse a nova sensação que se agitava no pé da minha barriga.
Seu cabelo rebelde, longo e flamejante, tinha vida própria, e tomava todo o enquadramento da câmera, exibindo majestosamente os cachos que ela tanto se esforçava em tentar inutilmente domá-los da forma que queria.
Assim que ela me visualizou naquele dia, também tomando sua tela por inteiro, Mônica expôs para quem quisesse apreciar, um sorriso, um lindo sorriso cheio de dentes, que naquele dia me fez desabar da cadeira.
Porque eu soube de antemão que estava ferrada. Totalmente. Completamente.
— Lídia! — Sua voz adotou um tom exasperado, demonstrando a sua preocupação, mesmo estando do outro lado do país. — Você está bem? — Se apressou em perguntar, ao me ver levantando e me ajeitando outra vez, como se nada tivesse acontecido.
Ela claramente reprimiu uma risada, tendo em mente que eu me irritaria com aquilo, pois normalmente era o que eu costumava fazer. A quarentena havia me deixado um pouco rabugenta.
Palavras dela e não minhas.
Eu pude atestar esse fato facilmente, após uma rápida verificada em suas sobrancelhas bem feitas trêmulas pelo esforço que estava fazendo pra não deixar escapulir aquele riso escandaloso que eu tanto amava mais do que deveria ouvir.
Se recompondo em um piscar de olhos, notei que ela também havia optado por agir como se eu não tivesse caído desastrosamente da cadeira de repente.
Sem motivo algum. Bem no momento em que ela sorriu. Casualmente.
Eu era uma idiota burra.
— Uh, sim, está tudo ótimo. — Ri de nervoso, evitando olhar nos seus olhos. — Foi só um mosquito me perseguindo, você sabe como eu fujo de todos eles. — Tentei desviar de assunto, envolvendo a minha alergia a insetos no jogo, como um meio de escapar dessa onda de embaraçamento que me tomou.
— Claro que sei, como poderia esquecer? — Indagou brincalhona, exibindo novamente aquele sorriso que sacudia todas as minhas estribeiras e me causava uma sensação indescritível na boca do estômago.
A mesma sensação que agora é devidamente identificada, como frio na barriga e que me acompanha nesse exato momento, enquanto meus ouvidos apuram cada chamada de embarque, buscando atentamente um anúncio que indique a chegada dela.
Respirando fundo, esfrego uma mão na outra, tentando abafar meu nervosismo com a recapitulação dos acontecimentos recentes.
Inicialmente a ideia era que todos passassem o mês na nossa casa, porém os pais de Môni não se sentiram confortáveis e temeram atrapalhar, por esse motivo, decidiram prezar pela privacidade dos meus pais, escolhendo apenas almoçar conosco hoje e avançar para casa de velhos amigos em seguida.
Não pense que meus pais aceitaram isso facilmente, houveram muitas e muitas chamadas de vídeo debatendo isso, cada família defendendo o seu ponto de vista, mas no fim, depois de tanto conversar decidiram acatar a decisão dos Cesarini's que se mostraram satisfeitos com a nossa compreensão.
Mônica nasceu e foi criada no interior e eu na cidade grande. Ela nunca havia saído do vilarejo que mora, nunca tinha ido a um shopping... Por essa razão, o meu entusiasmo está conseguindo driblar um pouco do meu receio, estou ansiosa para lhe mostrar tudo, para fazê-la conhecer tudo que tiver vontade.
Um toque suave no meu ombro foi o bastante para me despertar rapidamente dos meus devaneios.
Olhei para o lado atordoada, encontrando o mesmo par de olhos castanhos claros que eu possuo me encarando de volta.
— Anunciaram o pouso do avião. — Me explicou, guiando meu corpo através dos passageiros apressados, se esforçando para que sua voz se tornasse audível e nítida, ao notar meu cenho franzido.
Ultimamente temos que nos esforçar para sermos ouvidos com facilidade, ter uma máscara cobrindo metade do nosso rosto dificulta um pouco a comunicação.
Assimilando suas palavras pela primeira vez, me empertiguei, minha coluna tão ereta quanto uma tábua, o aperto dos meus dedos no cartaz de identificação que fiz especialmente para a ocasião, com as minhas canetinhas coloridas, se tornando mais firme.
O arrepio percorrendo minha espinha foi só mais uma consequência do misto de medo e ansiedade que foi injetado com força total nas minhas veias com o aviso.
— Estou com medo, mãe. — Confidenciei com dificuldade, minha garganta obstruída, e a saliva passando por ela com dificuldade, tornando minha voz trêmula e instável.
As pessoas começaram a sair pouco a pouco do portão de desembarque com suas respectivas malas em seu encalço, me fazendo desviar o olhar e engolir em seco por um momento.
— Não existe razão para sentir medo, querida — Respondeu a minha confissão calmamente, suas mãos magras deslizando carinhosamente por entre minhas madeixas onduladas, numa tentativa falha de reverter o meu estado de espírito.
— Ai mamãe... Se você soubesse, você me entenderia perfeitamente. — Rebati em um sussurro quase que inaudível, me calando assim que avistei um corpo esguio e torneado entrar no meu campo de vista.
Sorrindo abertamente com empolgação, ao abaixar momentaneamente a máscara, Mônica se preocupou apenas em admirar sem pressa os arredores com o seu olhar embasbacado e tímido. Ainda sem me encontrar com seus olhinhos curiosos.
Assim não notando quando meu queixo foi ao chão e consequentemente não encontrando a poça que se acumulou sob os meus pés.
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Nesse capítulo foi possível conhecer um pouco mais a Lídia e a forma que esse sentimento a afeta!
Quem nunca esteve apaixonada por uma melhor amiga que atire a primeira pedra!
Espero que estejam gostando. E se estão, não deixem de deixar o seu voto, é muito importante para mim e para história. 💖