Nada é tão bom quanto parece

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Any Gabrielly

Estou trancada nessa casa já fazem exatamente 1 semana, Sina vem e vai do trabalho, sempre traz comida, e eu garanto estar tudo pronto quando ela chega, uma troca justa. Desde aquele dia que os caras saíram daqui do apartamento procurando por mim eu não tenho ficado em paz, a tv sempre fica ligada nas câmeras, e fico por horas olhando quem sai e quem entra do prédio. Um medo me corroe por dentro, eu sinto que a qualquer momento algo muito ruim pode acontecer.

Estou deitada tentando pegar no sono, mas o barulho da porta bater me desperta, Sina nunca chega esse horário da madrugada, me levanto depressa e olho pela fresta da porta. Não vejo ninguém, merda, eu escuto uns passos lentos, merda, merda, merda. Devem ter descoberto que estou aqui, pegaram Sina e ela se foi obrigada a contar. Então devagar eu pego uma faca que tinha na minha instante, e fico a espreita, ele pode conseguir me pegar, mas vai sair machucado daqui. Sinto a porta do meu quarto se abrindo, e então coloco a faca na posição para atacar, quem quer que seja vai se arrepender de entrar aqui. A porta vai se abrindo devagarinho, até que por impulso ataco a faca na pessoa, que começa a gritar, me desperto e percebo que é um grito conhecido, não acredito, merda, merda, merda. Me apresso para pegar ela e colocar ela deitada na minha cama, pego uma toalha limpa e tento estancar o sangramento. Como a Sina chega assim de mansinho? É doida!

— Por que você entrou assim de fininho Sina? - questiono.

— Eu não queria... te acordar - sua voz sai entrecortada.

— E por que veio em direção ao meu quarto?

— Só... - ela tosse e continua - queria saber se estava tudo bem - ela já está muito pálida - Eu estou com sono.

— Você não pode dormir, eu preciso te levar pra um hospital, me fala o nome de algum por perto, vou chamar um Uber - a palavra Uber soa como uma ameaça pra mim, que me faz revidar - Ou melhor, você sabe se algum vizinho tem carro? Vou dirigindo mesmo - minha fala sai muito apressada, e percebo Sina tentando assimilar tudo.

— Eu tenho carro Any, não precisa de vizinho e nem de Uber - sua voz sai como um sussurro, e eu me sinto aliviada dela ter um carro - a chave está do lado da porta, e tem uma foto do carro do lado - ela faz uma força enorme para falar - Procura no GPS... do carro um hospital mais perto - ela fala e fecha o olho, isso me faz pensar que preciso me apressar, peguei sua bolsa, as chaves, peguei uma troca de roupa, o seu celular, e coloquei tudo na bolsa.

Coloquei Sina no colo, e tranquei a porta, agora preciso ter força para levar ela até o primeiro andar. Ela é tão pesada. Já estamos no terceiro andar e meus braços estão todos dormentes. Estamos quase lá, estamos quase lá, força Any. Respiro pesado, já sem fôlego, mas a visão da saída do prédio me faz ficar mais tranquila. Lá fora estava uma noite bonita. Não tinha uma alma viva na rua. Estou a procura do carro, até que meu olho pousa no carro vermelho igual que estava na foto. É esse. Me apresso para chegar, abro a porta, coloco ela no banco de trás deitada, e vou para o banco do motorista, coloco o cinto, ligo o carro, coloco no gps para ir ao hospital mais perto, e dirijo. Fazia muito tempo que não dirigia, tinha esquecido do quão bom é a sensação de dirigir. É libertador. Algumas vezes olho no retrovisor para ver como ela estava, e seu rosto pálido não me dá uma sensação boa.

Já consigo avistar o hospital, e em minutos estamos na frente da emergência, paro o carro de qualquer jeito, olho para Sina, saio do carro e adentro no hospital pedindo ajuda. Uma enfermeira e um médico se aproximam do carro junto comigo, pegando Sina e colocando em uma maca.

— A senhora precisa ir na recepção fazer a fixa dela, daremos notícias assim que der. - a enfermeira fala em inglês comigo, e percebo no gps do carro de Sina que esse hospital é bem na divisa do México com os Estados Unidos.

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