Foi em uma tarde de sexta-feira que recebi a notícia que mudaria o destino de minha vida completamente.
O sol brilhava em seu esplendor e esquentava-me em seu amor. Pássaros cantavam em harmonia e sintonia com os outros seres que habitavam meu quintal; a cidade. As nuvens rosas pintavam com felicidade juvenil o céu calmo. No silêncio natural, bebia um café comum, sem muitos requintes, encontrando-se à sacada de muitos segredos. Lá, jazia o pequeno lugar que um dia sonhei.
Tudo se fazia em calma e solitude, estando no perfeito equilíbrio de sempre. A calamidade humana me observava de longe, mantendo-se quieta ao espreitar da noite. Cativa ao dia, sonhava com seu poder, podendo apenas desejar pelo sabor delicioso.
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Sentado, já pressentia que a premissa do paraíso seria curta demais; esburacada... E assim aconteceu, interrompendo o belo momento com uma ligação desconhecida.
— Se for cobrança... Juro que quebro esse telefone! — Disse ao correr para o banquinho que segurava o objeto escandaloso. Sentei-me ao seu lado. — Alô, quem é? — Enrolava meu dedo indicador ao fio do telefone ansiosamente.
— É sua tia, amor — sua voz estava trêmula, indecisa.
O alívio por não ter que lidar com ignorância foi se dissipando, criando espaço para a ansiedade de algo estar errado. Não era normal receber ligações que não fossem dos meus pais, ainda mais de minha tia! Ela morava em Goiânia, torta e doente, então já imaginei o pior.
Com uma mistura de preguiça e medo, resolvi manter em segredo a habilidade de ignorá-la.
— Tia... Karen? Está tudo bem com a senhora? — Do outro lado, recebi um "uhum" como resposta — Hum — Esperei por alguns segundos, aproveitando para olhar a paisagem exorbitante do sol entre os prédios. A tentação de desligar aquela besteira era enorme, mas tinha que me manter firme! — Alô?
— Oh netinho... Estou com dor como sempre. Morta por dentro e por fora — respondia com a frase que guardava em seus lábios há anos. — Sobrinho querido, posso lhe contar uma coisa?
— Claro! Pode contar — o silêncio da velha me contorcia a ampla, arrebitando os dedos do pé.
— Sabe aquele seu amiguinho? Ah, era tão fofinho. Sinto tanta saudade dos dias em que minhas pernas eram capazes andar, do tempo em que respirava...
— Que colega? — Cortava seu diálogo pois sabia que nada iria "prosseguir" se não o fizesse.
— Ah, desculpa a tia... Você sabe que eu sou assim! Quando vejo já estou reclamando de minha artrite, osteoporose, diabetes, hipertensão e osmose generalizada.
— A senhora sabe o que é osmose?
— É aquela ruga que aparece no c...
— AHEM! Desculpa tia, vou ter que desligar. Tem gente batendo na porta.
— Ma-mas o Samuel sumiu! — Meu coração congelou e minha respiração cessou com a notícia — Gabriel, você ainda está aí? Eu já tentei falar com alguém, mas parece que estou enterrada!
— Sim, eu... — Senti o mundo girar e cerrei meu maxilar — eu só estou tentando entender o que você me disse — segurava minhas lágrimas e apertava meu peito como um bebê segura seu brinquedo, com medo de cair. — Quando posso ir aí?
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A ideia de voltar para minha cidade natal era de fato agonizante, inquietante e repleto de nostalgia. Não queria retornar tão cedo, mas também não podia negar o ser que morava no meu coração gritando de felicidade.
Havia deixado Samuel em Goiânia por volta de 4 anos na tentativa de encontrar um bom emprego. Desapareci da vida daqueles que eu tanto recusava; fugi dos olhares maléficos que me cercavam e de toda fofoca retorcida de escanteio que ouvia.
Não sabia com exatidão o porquê meu amigo nunca me respondia ou atendia o celular, mas acreditava que precisava de espaço para aceitar tudo que ocorrera... Apesar disso, acredito que o deixei correr sozinho mais do que podia.
Sem hesitar, preparei uma pequena mala e fui em rumo ao destino.
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O centro da cidade ainda ressoava as velhas dores e amargores, com leves salpicadas de momentos passageiros de felicidade. O céu cinza contrastava com o amarelo das casas e castrava a vida aérea que ali passava. A rua percorria longos caminhos tortuosos entre a nuance da calçada e o asfalto cinzento decaído.
Já a sujeira acumulada, escancarava a verdade imunda que era encoberta por todos na cidade, sendo arrastada para debaixo do tapete às pressas. Tentavam de tudo para esconder sua podridão, apesar de nunca demonstrar remorso relacionado às suas atitudes.
As casas inabitadas, por aqueles que as deixaram com o mesmo propósito que tive em mente há alguns anos, cantavam lentamente o resto de alma que deixaram, emitindo a dor e o amor que receberam pelo decorrer dos anos.
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Ao me distanciar do pequeno aglomerado da cidade, cheguei ao lago que um dia chamei de meu. Suas águas me descreviam uma paz inexistente dentro da área urbana, repleto de um ódio específico que foi diluído nas escolas, igrejas e praças públicas.
Lembro bem de quando o amor se tornou marca de grife desejada por todos, porém, a maioria só conseguia ter em suas mãos a falsa ilusão de acolhimento e reconhecimento. Com ondas calmas e compassivas, convidava alegremente a entrar e flutuar pela sua superfície, tão atraentes como jovens em seus melhores anos.
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Por onde você anda - Degustação
Conto~ Leia a historia completa na Amazon! ~ Gabriel recebe a trágica notícia de que Samuel, um amigo querido, havia desaparecido. Voltar para sua cidade natal não será fácil, mas até onde vai a determinação humana? Somos culpados por aqueles que "tocamo...