No dia seguinte, Adelaide saiu outra vez para ir até a modista. Porém, naquela manhã entraria pela primeira vez no Atelier de Madame Aguiar. Apesar de ainda não ser famosa entre as aristocratas, o trabalho da modista era promissor e constantemente elogiado. Por sempre imaginar que Madame Aguiar fosse uma mulher afetada e provavelmente de meia-idade, Adelaide foi surpreendida.
Madame Aguiar era uma jovem sorridente, com uma beleza genuína. Tinha as mãos hábeis para medir, cortar e costurar, olhos inteligentes que se inspiravam com quase tudo. Porém, assim que viu Adelaide, sua postura mudou. Ela não era uma cliente e sim uma convidada importante.
— Senhorita Adelaide! Que deleite sua presença em meu atelier. Venha, sei exatamente o que procura.
A modista solicitou que sua ajudante distraísse Bibiana enquanto guiava Adelaide por uma escada que levava ao piso superior. Ao que tudo indicava, madame Aguiar trabalhava e vivia ali. A sala onde chegaram era uma profusão de cores. Cortinas leves e fluídas pareciam formar um arco-íris. Adelaide se sentiu entrando no esconderijo de uma fada. Uma parede era tomada por desenhos com modelos de trajes para todas as ocasiões, cada um mais encantador que o outro. Era possível ficar muito tempo ali, apenas admirando, mas uma figura estava de pé, longe da janela. A condessa de Ipanema já aguardava a chegada da jovem.
— Está entregue. Fiquem à vontade. — Ela sorriu na direção de Adelaide e deixou o cômodo.
Leonor também sorriu.
— Agradeço por vir, Adelaide. Sei que é estranho receber uma carta como aquela, mas não poderíamos conversar livremente na presença de sua mãe. Ao menos foi o que me pareceu.
— Minha mãe ignora os acontecimentos perturbadores. Ela está dando o seu melhor para garantir que o nome da família seja salvo e que algum cavalheiro consiga me aceitar como esposa.
Sem rodeios, a condessa olhou diretamente nos olhos da jovem.
— E ela também está preocupada com a sua felicidade?
Surpresa com a pergunta, Adelaide deu de ombros.
— Deve estar, afinal, ela é minha mãe.
Leonor queria ajudar Adelaide, apesar de não saber ao certo como. Ainda estava descobrindo seu potencial, trilhando sozinha um caminho secreto que se mostrava ao mesmo tempo perigoso e libertador. Assim que os mexericos sobre a ruína da jovem pela mão de um visconde nada confiável chegaram aos seus ouvidos, ela esteve atenta. Depois do breve encontro com a mãe da jovem, estava evidente que a mulher se parecia muito com o pai de Leonor. A felicidade dos filhos nem sempre era prioridade, infelizmente. Ela, a pobre condessa de Ipanema, sabia disso.
— Quero ajudar você, Adelaide. Estou farta de ver moças serem guiadas por suas famílias para vidas vazias e miseráveis por causa de ganância ou orgulho. O nome de uma família é feito por aquilo que ela representa, isso é fato. Mas não seria a alegria uma referência melhor do que a falsidade? Todos sabem que aconteceu alguma coisa, mas a forma como julgam é parcial. Você recebeu toda a culpa, desaparecendo da sociedade, enquanto o visconde conseguiu uma noiva e se casou. Acha isso certo?
Ajuda. Adelaide precisou tantas vezes de uma mão amiga, de alguém que a escutasse e protegesse... e a ajuda chegava tarde. Ela queria auxílio para explicar seu relacionamento com o visconde ou então, pelo menos, ajuda para não ter a filha levada para longe. A condessa não poderia ajudá-la e ela tinha conseguido tirar boa parte do peso de seus ombros após desabafar com Diana.
— Não é certo, senhora, mas devo dizer que não preciso de ajuda. Agradeço por sua atenção e lamento todo o trabalho que teve para nos proporcionar essa conversa.
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O refúgio de Ártemis (completo até 18/09/22)
Historical FictionAdelaide cometeu um único erro: amar a pessoa errada. Abandonada pelo homem com quem acreditava que um dia se casaria, sufocada pela família disposta a tudo para manter as aparências e impossibilitada de tomar suas próprias decisões, ela busca vinga...