Capítulo 7 - parte 2

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Ele estava de volta naquela maldita praia. Preso em seu próprio corpo, com um grito agarrado em sua garganta. Onde ela estava? Porque não deixaram que ficasse ao seu lado? Quando recuperou o controle de seu corpo, tentou se levantar, mas uma dor aguda no torso o fez parar, assim como uma mão espalmada sobre o seu peito.

— Nada de movimentos bruscos!

Órion abriu os olhos e viu uma mulher, Ártemis, fitando-o com aqueles olhos cor de chocolate e o cabelo rebelde demais para permanecer em um penteado. A mão em seu peito era delicada, mas firme e quente. Estranhamente reconfortante.

— Tive um pesadelo.

Ela não aparentou nenhum sinal de compressão. Porém, tinha se aproximado assim que escutou Órion resmungar e ficou ao lado dele observando sua agonia, pronta para intervir.

— Todo mundo tem. Não é mais sortudo ou mais azarado por isso. Porém, se quiser manter os pontos intactos é melhor tentar ter apenas sonhos.

Órion não estava com disposição para discutir. Tinha se lembrado da cena que protagonizou enquanto Ártemis tratava de sua ferida.

— O que aconteceu comigo? — Ele perguntou mesmo desconfiando já saber a resposta.

— Você desmaiou.

Ele ficou grato por ela não ter rido ao falar. Era fácil caçoar de uma situação daquelas.

— Não posso garantir por Hades, mas guardarei seu segredo. — Ártemis aproveitou o silêncio dele para completar.

Eles esperaram a chegada de um dos muitos coches que iriam passar por ali e seguiram para a casa onde Ártemis estava.

— Você tem casa? — Ela perguntou quando estavam finalmente instalados no interior do veículo e já não havia nenhum ouvido atento por perto exceto os deles.

Órion fechou os olhos. Não sabia se era a dor ou o balanço do coche na posição semideitada na qual se encontrava, mas seu estômago não parecia muito bem.

— Minha casa está longe daqui... — E foi vendida, ele pensou em dizer, mas isso só aumentaria as perguntas.

Ártemis percebeu que não tinha mais qualquer abertura para continuar naquele assunto, mas Órion era um mistério por completo. Ainda não tinha descoberto de onde seria aquele sotaque que deixava sua fala ainda mais peculiar, aliada à voz grave, deixando-a ainda mais envolvente.

— Ser aliado de Nice pode ser bastante perigoso. Sugiro que fique mais atento da próxima vez ou repense se está apto para essa caçada. Ela é diferente do que a guarda geralmente faz.

— Posso tomar minhas decisões sozinho, Ártemis. — Ele respondeu friamente.

Fazia tempo que alguém a tratava daquela forma, isso Ártemis precisava admitir. Contudo, até aquela reação mostrava muito mais de Órion do que ele pretendia. Havia um propósito maior.

— Ótimo. — Ela respondeu, disposta a não demonstrar qualquer tipo de fraqueza ou mágoa. — Não pretendo costurá-lo outra vez.

O comentário fez com que o semblante dele suavizasse.

— Faz muito tempo que uma mulher não agia com tanta avidez para remover as minhas roupas.

O comentário fez com que ela corasse, algo que a incomodou profundamente. Aquilo não era um flerte e tolo seria Órion se tentasse transformar uma urgência em uma oportunidade. Ele estava sangrando! Tudo o que Ártemis queria fazer era cuidar dele, o que faria com qualquer homem, mulher ou criança que encontrasse em estado semelhante. Mesmo reparando no corpo bem esculpido do homem, não havia tempo para qualquer tipo de admiração com segundas intenções.

O refúgio de Ártemis (completo até 18/09/22)Onde histórias criam vida. Descubra agora