Capítulo 8

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Órion dormia quando Asclépio chegou no meio da noite. Horas antes, Eros tinha ajudado com a troca de roupa. O rapaz deixou o quarto com uma expressão estranha e Ártemis não conteve a curiosidade.

— O que aconteceu? Ele está machucado em mais algum lugar?

— Não. — Eros respondeu, ainda perturbado. — É só que... não é seguro deixá-lo com você.

— Por que?

Sem rodeios, Eros disparou:

— Ele quer você.

E assim ele saiu. Deixou Ártemis chocada de pé no meio do corredor. Como Eros poderia saber aquilo? Quais as evidências? Isso não estava certo. Era evidente que não se entregaria, tinha que ser, mas esse não é o tipo de coisa que se diz!

As palavras ainda giravam na mente de Ártemis quando Asclépio chegou e ela indicou a porta do quarto onde Órion estava, mas não acompanhou o médico. Era preciso ficar o mais longe possível dali.

Quando o homem saiu do quarto, depois de um bom tempo examinando e conversando com o ferido, carregava um sorriso nos lábios, mas esse era Asclépio: uma presença leve em um mundo opressor.

— Acho que vou contratar você, Ártemis. Fez quase uma obra de arte na pele do homem.

O elogio inesperado a fez sorrir.

— Nunca imaginei que bordar uma toalha e costurar uma pessoa fossem tão semelhantes.

— Órion disse que jogou álcool sobre a ferida sem qualquer ponderação.

Ela assentiu, sem saber qual seria a opinião do médico quanto a isso.

— Ele estava ferido há horas, sangrando em silêncio. Não sabia o quanto a ferida poderia estar contaminada e posso ter pecado pelo excesso.

— Tenho certeza de que fez o seu melhor. Vamos torcer para que ele se recupere sem maiores contratempos. Nice precisa dele.

— Cuidarei bem dele. — Ártemis garantiu.

O médico a fitou de maneira analítica, intensa e ela se sentiu tão examinada quanto o real paciente.

— Eu sei. — Asclépio afirmou com uma tranquilidade desconcertante.

Após a partida dele, Ártemis ficou com a impressão de que o médico sabia de algo que não estava disposto a compartilhar e pior: provavelmente ela seria a última a descobrir.

Ele quer você. As palavras de Eros voltaram a assombrá-la, pois mesmo sem amor, sem qualquer sentimento que garantisse um compromisso, ela começava a imaginar que também o queria. Naqueles dois anos no Refúgio de Ártemis, tinha conhecido muito sobre sexo e desejo e passou a ver as regras da sociedade de outra forma. Seus limites tinham mudado.

Ártemis permaneceu acordada por um longo tempo, o corpo desperto demais para conseguir relaxar. Escreveu uma carta para Madame Aguiar, solicitando uma saia mais apropriada, treinou um pouco, mas assim que deixava a mente livre, as palavras voltavam: ele quer você.

A caminho do próprio quarto, ela escutou a voz de Órion. Ele devia estar dormindo... Sabendo que era sua obrigação ver se ele estava bem, Ártemis entrou no quarto e viu que ele estava dormindo. Interessante... Órion falava dormindo? Isso não era bom. Se ele falasse de Nice e seus planos, poderia estragar tudo. Levou a mão até a testa dele, para se certificar de que não havia febre. A temperatura estava normal. Órion suspirou e se virou, ainda adormecido, enquanto Ártemis se afastava.

Pilar.... — Ele falou baixinho. — Onde estás?

Galego, ela estremeceu. A voz dele ficava ainda mais sedutora. Mas ele sonhava com Pilar. Quem quer que fosse era uma mulher de sorte, Ártemis admitiu. Disposta a dar privacidade ao sonho de Órion, ela finalmente chegou ao seu quarto e se deitou. O sono ainda demorou para tomá-la, mesmo estando exausta. As palavras de Eros, o olhar de Asclépio e o sussurro de Órion... quem era Pilar? O que o futuro estava preparando para todos eles?

O refúgio de Ártemis (completo até 18/09/22)Onde histórias criam vida. Descubra agora