Capítulo 6

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Piranha.

Vagabunda.

Mimada.

Fútil.

Nojenta.

Eram muitas as palavras que podiam definir Marina Ferraz, provavelmente palavras ruins. Definitivamente era mimada, e talvez até mesmo um pouco fútil, mas não era uma piranha como todos pensavam. Ou talvez fosse.

A garota de cabelos ruivos sempre teve essa vontade de ser o centro das atenções, talvez porque nunca teve a atenção de ninguém, ou talvez só por mais um capricho. Nunca teve uma mãe, apenas um pai que trabalhava demais, era um bom pai, mas não dava toda a atenção que a menina precisava.

Seus pais eram muito novos quando sua mãe engravidou, ela tinha apenas 15 e ele 17, eram apenas adolescentes e ela era muito covarde para aguentar os olhares de julgamento. A mulher teve a filha e a abandonou, deixando a menina com o pai. Desde então a pessoa mais parecida com uma mãe para a garota foi sua babá.

Não era preconceituosa, e estava longe de ser racista, a mulher que a criou era negra e ela não se envergonhava disso. Não tinha um coração ruim, era apenas manipulável demais.

—Está triste? - perguntou Pedro, olhando a (quase) amiga, que permanecia quieta.

Marina se encontrava em um bar com alguns "amigos" da escola, entre eles jogadores do time de futebol e líderes de torcida.

—Pensativa - respondeu arrumando seu cabelo e dando um leve sorriso.

—Pensando em quem? Kale? - perguntou, e Marina apenas olhou para ele e abaixou o olhar, bebendo algo que viu pela frente e nem sabia o que era.

—Eu disse que não deveria aceitar o desafio. - disse o garoto de olhos azuis, pegando o copo da mão de Marina e bebendo. - E também disse que não deveria ser tão... como posso dizer? Piranha com as outras pessoas.

—Precisava fazer aquilo, era isso ou ser a covarde que não cumpriu um desafio idiota como esse. E além disso, não falei nenhuma mentira, aquela garota é uma nojenta e... - disse, sendo interrompida por Pedro.

—Pobre? Esperava mais de você, Ma. - realmente, ele a conhecia bem o bastante pra saber que ela não era preconceituosa, podia até ser uma pessoa horrível, mas não era homofóbica, gordofóbica e muito menos racista.

Continuaram conversando sobre assuntos banais, por muito tempo, e só foram embora porque a mãe de Pedro mandou ele ir pra casa.

A garota chegou em seu prédio e pegou o elevador, junto com uma mulher que morava perto dela. No momento tudo que havia falado começou a mexer com ela, como se naquele momento percebesse a pessoa horrível que era. E mesmo tentando ser forte diante de outra pessoa, desmoronou naquele momento.

—Você está bem? - perguntou a senhora, vendo a garota chorar desesperadamente. - O que aconteceu?

—Eu fiz algo que não deveria ter feito. - disse se atrapalhando nas palavras, devido ao choro.

—Querida, todos erramos. - disse se aproximando de Marina.

—Mas eu fiz uma coisa muito ruim.

—Está tudo bem. - disse abraçando a ruiva, que foi se acalmando aos poucos.

Depois de algum tempo foi pra casa, seu pai não estava em casa, e sua babá, que ainda trabalhava para eles, a pedido de Marina (agora como empregada), estava de folga. A garota se sentou no sofá e voltou a chorar.

Ouviu a porta abrir e rapidamente olhou para ver o que era, vendo seu pai se beijando com uma mulher que nunca tinha visto.

Seu pai olhou para ela, sem se desfazer do beijo, que apenas deu um sorrisinho, e viu os dois subirem as escadas, provavelmente para o quarto do homem. Aquilo não era novidade para Marina, não era a primeira vez que aquilo acontecia e não seria a última, a garota já estava acostumada com aquilo.

Foi para seu quarto e pegou uma foto que guardava em uma caixinha, uma foto que seu pai havia dado, pois sempre a pegava olhando para ela em um álbum antigo da família.

Era uma foto de sua mãe grávida, a única que tinha, já que quando ela a abandonou, seu pai pegou todas as fotos dela e as queimou, mas não teve coragem de se livrar daquela.

Flashback

Uma mulher jovem, de cabelos ruivos e aparência de 15 anos, ria junto de seu namorado, que falava sobre assuntos aleatórios.

—Gustavo, você é uma pessoa horrível. - disse, ainda rindo.

—Sendo assim, tomara que nossa filha puxe o seu jeito. - o homem disse se deitando. Os dois estavam em um campo, fazendo um piquenique.

—Não sei a quem ela vai puxar, mas sei que vai ser muito amada. - disse Flávia, acariciando a barriga.

O homem viu de longe um casal tirando fotos do parque, e puxou a namorada até lá.

—Vem comigo, temos que registrar esse momento. - disse puxando Flávia.

Pediu a câmera emprestado e começou a tirar fotos deles juntos.

—Espera, fica parada.

—O que foi?

—Um dia nossa filha vai querer ver como a mãe estava linda grávida, temos que ter uma foto para mostrá-la.

Gustavo começou a falar as mesmas coisas que a estavam fazendo rir alguns minutos atrás, e quando ela começou a rir novamente, tirou a foto. Sempre amou aquela foto, pois não era um sorriso falso, era algo verdadeiro, e de todas as coisas em Flávia, seu sorriso era a que mais gostava, assim como em Marina.

CAN LOVE BREAK YOU?Onde histórias criam vida. Descubra agora