Errar é inevitável, menos quando você quer

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 Três dias se passaram após aquela confusão, três dias como qualquer outro dentro da Grande Embarcação, com regras rigorosas, treinamentos exaustivos e comida plastificada e sem gosto

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 Três dias se passaram após aquela confusão, três dias como qualquer outro dentro da Grande Embarcação, com regras rigorosas, treinamentos exaustivos e comida plastificada e sem gosto. Aulas repetidas sobre o básico dos primeiros socorros e o que fazer em caso de contaminação, relendo os mesmo malditos livros digitais e respondendo as mesmas malditas perguntas. Dias de merda nesse lugar de merda onde viviam essa vida de merda, se permitem que Rafaela diga. Mas, para não ser injusta, tiveram algumas coisas legais, como sua prima ter conseguido um poste ruivo como escravo. O garoto Benjamin, ou como Bruna gosta de chamar, o número 02478, é muito diferente dos outros do grupo amarelo. Ele não faz muito e só fala quando necessário, não é bajulador mas também faz o que é pedido com perfeição. O escravo perfeito, na opinião de Rafaela, talvez por isso sua prima tímida e distante insista em mantê-lo por perto.

Rafaela dá um sorrisinho de lado.

A de cabelos escuros estava perdida em pensamentos, havia acordado mais cedo que o normal mas não se sentia nem um pouco disposta, apesar de ter aproveitado bem suas cinco horas diárias de sono. Então simplesmente decidiu atualizar seu diário mental de como foi sua péssima semana até que escutou a porta se abrindo e passos apressados ecoando dentro de seu quarto. Bruna havia entrado em seu dormitório no exato momento que o alarme soou, pontual como sempre.

— Vamos, levanta. - Ela puxou o travesseiro de Rafaela e tacou no rosto da garota com força, mas ela nem se mexeu. Bruna revirou os olhos e chutou a cama. — Animação, Rafaela! É melhor levantar logo.

— Não quero. — Rafaela disse com a voz rouca, retirando uma mecha de cabelo que entrou em sua boca. — Me deixe dormir.

A garota se revirou na cama, escondendo a cabeça debaixo do travesseiro, que logo em seguida foi puxado novamente o atirado contra seu rosto com uma força desnecessária, apanhar de travesseiro não deveria doer tanto assim, mas esse ataque deixou Rafaela tonta e com raiva. Para piorar, Bruna ainda puxou o cobertor para longe.

Rafaela grita contra o travesseiro.

— Por que você está fazendo isso? — Ela pergunta com uma sincera voz de choro. — São seis da manhã. SEIS E TRÊS!

— Respondendo à sua pergunta, é porque você tem que acordar. Agora. Temos algo importante para fazer. — Bruna respondeu sem enrolar, o que fez Rafaela se perguntar que tipo de psicopata que esconde cadáveres no armário é capaz de fazer uma coisa tão cruel quanto retirar o cobertor de alguém que ainda está na cama. — E você tem que comer, já que não jantou ontem à noite. Acho que vou te levar na enfermaria também, isso é muito estranho.

Cansada de ouvir toda aquela falação, Rafaela se força a levantar, se arrastando por seu pequeno quarto à procura do uniforme espalhado pelo lugar, como botas debaixo da cama, cartão de identificação na mesa do canto e macacão azul no chão em um canto, e depois de alguns minutos ela já estava pronta para sair do quarto, onde Bruna a esperava com uma pastilha para mau hálito. Rafaela agradeceu e se deixou ser guiada pela prima, já que ainda não se sentia focada o suficiente para andar sozinha por aí sozinha, então a garota seguia Bruna, perdida em um mar de pensamentos, hora ou outra olhando para o lado de fora através das janelas, se perdendo na imensidão do espaço e seu infinito de estrelas, planetas e galáxias, assim como nebulosas e incontáveis formas de vida diferentes e peculiares.

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