Eu confesso que já nem sei mais

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    Os próximos dias foram o que pode ser descrito como ''uma completa zona''

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    Os próximos dias foram o que pode ser descrito como ''uma completa zona''. 

    Os quatro, até então desconhecidos, fizeram um acordo silencioso de permanecer juntos durante os treinos e atividades que exigiam grupos. Entre exercícios exaustivos e horários de sono reduzidos, eles conversavam entre si e ao final do dia se encontravam no quarto de Bruna para discutir assuntos, sejam eles aleatórios ou importantes como, por exemplo, a situação em que estavam atualmente.

    Tudo começou com a diminuição das porções de comida, cerca de três dias após o início do treinamento especial. Não foi algo tão alarmante, mas o suficiente para que os burburinhos e reclamações discretas começassem. Teorias sobre racionamento de alimentos circulavam pela área 4, mas logo foi esquecido e todos continuaram suas rotinas normalmente. Nesse mesmo dia Bruna revelou que o número de enfermos havia subido para noventa e oito, cerca de vinte e nove pessoas faleceram até então.

   Algum tempo após esse dia fatídico, os membros do Conselho, ou seja, os ''humildes'' governantes, decidiram tomar uma medida mais agressiva e colocaram uma quarentena obrigatória. Treinos e outras atividades foram suspensos e os tripulantes não eram permitidos deixar seus cubículos sobre quaisquer circunstância, esse privilégio era concedido somente a soldados e alguns outros funcionários especializados na manutenção dos robôs vigilantes e outros apetrechos. Estes mesmo robôs eram enviados de porta em porta para entregar suprimentos e monitorar a propagação da doença, todos deveriam ter suas temperaturas medidas, sem qualquer exceção.

    Isso foi cerca de sete dias após o início do treinamento especial. Através de seu comunicador, Bruna anunciou que o número de casos eram exatas trezentas pessoas em toda nave, dos quais oitenta e seis faleceram.

   — Ei... Vocês já pararam para pensar que nesse exato momento, enquanto vocês estão ouvindo minha voz, as cabeças vocês estão paradas- 

    — É realmente assim?! — ele disse em um tom sarcástico. Os outros quase podiam ver sua expressão de deboche, apesar de estarem tão afastados um dos outros. — Se você não me dissesse, eu poderia achar que estava movimentando minha cabeça.

    — Nicolas, cala a merda da boca. — Uma voz feminina disse. 

    — Continuando! — Ela suspirou enquanto encarava as estrelas pela sua janela minúscula. — Vocês não estão realmente parados, na verdade, nenhum de nós está.

    — Sim. — O som de algo crocante sendo mastigado ecoou pela chamada de áudio. — Aprendemos isso na escola. A terra gira em torno do seu próprio eixo, o que significa que o seu ponto no espaço nunca é o mesmo de um segundo atrás. Além disso, ela orbita o sol, que por sua vez orbita o centro da Via Láctea. Tudo está se movendo, apesar de aparentemente não sair do lugar.

    — Bom ponto, ruivinho. — Uma risada anasalada pôde ser ouvida. — A ponto de curiosidade. Talvez seja por esse motivo que viagens no tempo ainda não existem.

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