3︱confusão.

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To escrevendo na fé

Sonho com você porque não posso
Acordar ao seu lado.


Eu corri daquele lugar, eu não olhei para trás por nenhum segundo. Mas em certo momento minhas pernas não queria mais me obedecer, eu ficava cada vez mais lento, até cair no chão com força.

Eu nem sei em que momento eu cheguei na sala de música, a sala está escura e eu demoro para me acostumar com o escuro.

Meu celular vibra no meu bolso, eu não quero olhar. A minha visão começa a embaçar, meus olhos estão cheios de água e eu as permito sair. Tudo vai piorar, eu sei que vai. Eu não devia ter ido, devia ter seguido minhas paranoias e não ter ido.

Estúpido, nojento.

Eu me encolho no canto da sala, minha respiração está desregulada, meu corpo treme e eu não consigo parar de pensar no rosto de Milo, nas pessoas sussurrando, rindo. Elas estavam rindo de mim, sussurrando sobre mim, Milo estava com nojo de mim.

Eu abraço meus joelhos, meu coração doi, o meu corpo dói. Eu soluço baixo, Milo estava com nojo de mim. Nojo, como eu vou para o dormitório agora? Eu quero os braços da minha mãe, ela ficaria comigo até eu ficar bem.

Com minhas mãos tremendo eu tento pegar meu celular, eu desbloqueio a tela com dificuldade. Estou cheio de notificações de Amelie e alguns números desconhecidos, ligações perdidas. Eu estou preocupando eles, eu...

Alguém me liga outra vez, espero que seja algum tipo de cobrança. Haha, super engraçado né?

Minhas lágrimas caem descontroladamente enquanto eu arrasto para atender, levo o telefone ao meu ouvido.

─ Oli! Está me ouvindo? ─ alguém me pergunta pelo telefone, parece a voz de Milo. Eu fico em silêncio, minha voz some. ─ Oli? ─ a voz parece mais baixa, eu retiro o telefone de perto do meu ouvido. Encaro a tela, aperto o botão vermelho desligando a chamada.

Eu não quero conversar com ninguém, prefiro ficar... Não, eu quero conversar mas não com ele.

Eu procuro entre os meus contatos um específico, aperto o botão para ligar. O telefone toca até ser atendido, recebo um murmuro de sono. É lógico, está tarde.

filho? Está tudo bem? ─ mamãe me pergunta, sua voz parece sonolenta, isso me faz eu me sentir culpado.

─ não... ─ respondo tentando esconder a minha voz de choro, o que obviamente não dá certo. Escuto alguns barulhos de panos, ela deve estar se sentando na cama.

o que houve? ─ ela me pergunta, eu procuro uma resposta, algo não tão nojento.

─ eu estava... Com a Amelie na festa dela. Jogando um... Jogo, eu, o Lucas ele... ─ eu embaralho as palavras, escuto ela falar um "respira" bem baixo. ─ ele mostrou uma foto, uma foto onde me expor de uma maneira que... Eu não queria ser exposto. ─ tento respirar fundo, mas não consigo. O choro me impede de respirar, a cada segundo eu soluço.

ah querido... ─ ela está falando coisas, coisas que estão me acalmando lentamente.

Parece que ela está construindo um muro, um muro que irá me proteger temporariamente de tudo e todos. As lágrimas saem cada vez mais lentas, umedeco meus lábios.

Olho para a porta, meu corpo congela quando vejo Milo passar correndo pela porta. Bárbara, Amelie e Helena estão logo atrás dele, o muro parece se quebrar em questão de segundos. Me sinto péssimo, eu desligo a ligação com mamãe.

Eu me arrasto até perto do piano, olhando para a porta enquanto me escondo atrás do grande instrumento. Eu quero tocar, colocar tudo para fora. Mas assim eles irão me ouvir, saber aonde estou. Irei vê-lo sentir nojo de mim de novo.

O dormitórioOnde histórias criam vida. Descubra agora