1︱?

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           Antes eu estava completo,
              Agora eu transbordo.


Minha mão está tremendo pra caralho, mal consigo segurar a maçaneta da porta. Respiro fundo várias vezes, o que pode ter demais? Talvez o Milo não goste de me ter como colega de quarto ou talvez ele me odeie.

para com isso... ─ sussurro para mim mesmo, não tem como ser ruim, Milo parece incapaz de odiar alguém! Ok, mas e se eu for uma exceção? ─ acho melhor eu... É. ─ tiro o palito do pirulito da boca.

─ nem vem com essa muleke. ─ sinto algo segurar o meu ombro, olho para a pessoa. É óbvio que é Amelie, ela está com o semblante sério. ─ você não vai pedir pra trocar de quarto. ─  ela aperta meu ombro, sinto um cala-frio percorrer o meu corpo.

─ Mas Amelie... ─ choramingo jogando meu corpo sobre o dela, tenho certeza que ela revirou os olhos depois disso.

─ mas nada, nem parece que tem dezenove anos, caralho. Você vai abrir essa porta, da o seu sorriso mais bonito e conversar com ele. Você já fez isso antes. ─ ela levanta o meu corpo, eu reviro os olhos.

Não é tão fácil, antes não estaríamos dividindo o quarto, antes não existiria a possibilidade dele me ver mais feio do que eu já sou, antes ele não notaria tanto a minha presença, antes ele não iria perceber que eu estou ali. Ou seja, antes ele não percebia que eu existia, até eu ir falar com ele ou fazer qualquer idiotice.

─ para de pensar tanto! ─ Amelie da um tapa na minha nuca, ela bufa. ─ vamos, abre logo isso ai e entra. ─ ela cruza os braços.

─ e você só vai ficar parada ai? ─ ela assente que sim com a cabeça, eu respiro fundo e coloco a mão na maçaneta, abro a porta lentamente, bem devagar mesmo.

─ enfim irmãozinho, não se esqueça de me falar sobre a música que você está fazendo! ─ Amelie diz sorridente, parecendo animada. Olho para ela erguendo uma sombracelha, o que era garota tá fazendo?

Minha resposta logo aparece, assim que eu olho para frente vejo Milo sentado na cama, olhando para a porta. Parece assustado, claro, eu abri essa merda devagar demais.

─ Oi! ─ seu semblante relaxa e logo se forma um sorriso em seus lábios, eu apenas dou um sorriso fechado entrando no quarto e fechando a porta. Que os jogos comecem, eu vou sair correndo antes de falar qualquer coisa. ─ Olivier, não é? Tivemos várias aulas juntos, mesmos amigos e tals. ─ ele continua animado, assenti que sim com a cabeça, seu sorriso não some, droga de sorriso amarelado.

─ Milo né? ─ pergunto, eu sei que é Milo obviamente estava no papel, e obviamente eu também sei pelas nossas conversas.

─ sim! Milo Castello. ─ ele disse sorridente, Milo para de sorrir, eu não consigo focar em outra coisa além disso. ─ você toca piano não é? Já ouvi você uma vez. ─ ele diz cruzando as pernas, me sento na outra cama.

─ é, e você toca banjo, né? ─ não tenho certeza se o nome do instrumento é banjo, talvez eu esteja passando vergonha. Pode ser só um violão com formato estranho.

─ sim! Ai meu Deus, pela primeira vez alguém não disse "violão com formato estranho" ─ ele solta uma risada baixa, meu rosto esquenta. Eu quase falei isso. Obrigado Deus, me salvou maneiro agora.

O dormitórioOnde histórias criam vida. Descubra agora