Capítulo 27

60 8 0
                                    

Assim que eu saí da diretoria, voltei para a sala a fim de buscar minhas coisas. Todo mundo estava em silêncio, e eu senti toda a atenção voltada a mim. Sina e Noah me olhavam como se não estivessem entendendo o que estava acontecendo, já Mary me olhava com desdém.

Eu me sentia extremamente envergonhada, mas não arrependida. A Mary não deveria achar que pode me tratar do jeito que ela quiser, muito menos pensar que eu não faria nada de volta.

3° Lei de Newton: Toda ação gera uma reação.

Logo depois que saí da sala, fui para a portaria. Respirei fundo e peguei meu celular e disquei para Joshua, porém acabei não ligando, eu não sabia se estava afim de entrar na sede e me deparar com a Lili lá, então resolvi apenas ir para casa, a pé mesmo.

Quando cheguei, notei um carro preto estranho do lado de fora, achei meio estranho então apenas tentei entrar em casa sem fazer muito barulho.

Abri a porta e logo percebi que havia cerca de 5 homens desconhecidos conversando com meu pai. Estes, quando notaram minha presença, interromperam o assunto e apenas se despediram do meu pai. Olharam-me de cima a baixo e saíram. Eu senti meus pelos se arrepiarem de medo, eram mau encarados.

Meu pai parecia meio surpreso por eu estar lá, certamente não esperava, porém veio me abraçar e eu o abracei de volta, as lágrimas acabaram se manifestando. Ele passou a mão pelos meus cabelos e deu um beijo em minha testa.

- Aconteceu alguma coisa, filha? Chegou mais cedo em casa.

- Briguei na escola, mas nada que tenha que se preocupar... Quem eram esses homens?

- Ah, querida, amigos do papai. Mas me diga, por que brigou na escola? - puxou-me para sentar no sofá da sala

- Pai... a verdade é que... eu não aguento mais. Eu estou cansada de tudo, tudo que tem acontecido... Sabe, eu quero que vocês abram o jogo para mim, onde está Yuna? Eu tenho o direito de saber onde está a minha irmã!! Vocês chegaram para mim, disseram que ela estava doente e que seria melhor ir para Nova York. Meses se passaram, e nunca mais me disseram nada. Fica por assim mesmo? - levantei-me do sofá e fiquei andando de um lado para o outro

- Bem... sabia que em alguma hora, esse momento chegaria. - suspirou e eu arqueei a sobrancelha

- Momento? Que momento?

- Filha, a Yuna não estava nada bem. Infelizmente, eu não queria ter que dar essa notícia, mas sua irmã estava com um câncer.

- Cân...câncer? Mas, como? Como assim? Eu não acredito nisso. A Yuna?

- Sim, um câncer gravíssimo que logo atingiu o pior estágio de todos, simplesmente espalhou por todo o corpo, e não tivemos muito o que fazer. - seu tom de voz ficava cada vez mais baixo, porém algo me chamava a atenção

- Por que está usando o verbo no passado? "Estava"? "Atingiu"? "Não tivemos muito o que fazer"? Não me enrole, papai, me diga logo de uma vez por todas!

- A Yuna morreu.

- O quê? Impossível! Vocês levaram ela daqui super bem, era apenas alguns exames... exames frequentes mas... Eu não acredito, eu não posso acreditar. A Yuna?

Me senti em choque, várias coisas passavam pela minha cabeça. Aquilo não fazia sentido algum! Morta? A Yuna estava morta? Impossível, apenas...

Morta.

Sem muito esforço acabei chorando. As lágrimas começaram a descer em velocidade alta, senti meu coração despedaçando, a pior dor que já senti em toda a minha vida.

- Me passa o número do hospital agora! Ou me manda a localização, eu preciso ver minha irmã! Eu vou até Nova York e ninguém vai me impedir. - falei subindo as escadas e ele veio atrás de mim

- Heyoon, me escute. - dizia pacificamente, como se não se importasse tanto - Isso já tem um mês. Nós já enterramos o corpo.

E foi aí que eu senti puxarem meu tapete.

Já haviam a enterrado, a minha irmã passou por tudo isso sozinha, e as pessoas que deveriam ter me contado tudo... simplesmente...

Não era possível, ele não tinha falado aquilo. 1 mês? 1 mês que a Yuna tinha morrido? E ninguém me falou? E... e eu não passei esse tempo com ela e... eu nem pude me despedir da minha pessoa favorita... da minha pessoinha. Aquela que eu peguei em meus braços quando nasceu, que vi seus pés pequeninos e ouvi seus choros de madrugada. Que eu pegava no colo e cuidava como se fosse minha filha.

- Desculpa não ter contado antes, eu e a sua mãe não sabiamos como fazer isso, ela está em estado de negação até hoje.

- Não minta para mim, papai. Eu jamais imaginaria isso se o senhor não me contasse, a minha mãe não liga, ela não demonstrou se quer um sentimento de tristeza ou negação. - eu chorava a ponto de soluçar, ele apenas me abraçou de novo mas eu me soltei e o empurrei para sair do meu quarto

Eu apenas me tranquei dentro do banheiro e fui tomar banho. O sentimento de angústia me perturbava. Pensava em todos os momentos com Yuna. E então eu já estava no chão do banheiro, o chuveiro permanecia ligado e as gotas de água caíam sobre mim. Eu passava a mão pelo rosto, e abracei as minhas pernas.

Impossível. Isso não estava acontecendo.

A Yuna não morreu!

Eu sei disso!

Eu sinto isso!

Fiquei lá por muito tempo, não sei quanto, porém depois eu abri a porta, e vagarosamente saí do banheiro. Peguei qualquer roupa que vi no armário, eu precisava sair de casa um pouco, tomar um ar, não sei, fazer qualquer coisa! Não arrumei meu cabelo nem nada.

Eu ainda chorava, estava mais calma, mas as lágrimas ainda insistiam em sair.

Eu desci as escadas devagar e notei que meu pai estava distraído no escritório, então eu aproveitei a oportunidade e saí, sem ele ver.

Comecei a caminhar na rua, sem um rumo definido, apenas caminhar, era disso que eu precisava.

Estava de calça moletom cinza, camisa regata branca e o cabelo solto, todo molhado. Qualquer pessoa que me visse na rua, pensaria que eu era louca. E de fato, eu estava.

O Inquilino - Heyosh (Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora