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Era uma verdade universalmente conhecida que Tsukishima Kei não se importava com concorrentes. Para ele, desde criança, jogar golfe tratava-se somente de uma relação íntima entre ele, o taco e a extensão enorme de grama milimetricamente aparada que o separava do buraco no qual tinha de acertar um birdie, um par, ou, se estivesse de bom humor, um eagle. Fama, dinheiro, fãs e ditos "inimigos" eram meras consequências de seus dias intensos de treino. Nem mesmo seus caddies não passavam de uma sombra desconhecida para ele que, todo torneiro, possuía um novo adolescente atrás de si, carregando sua mala para cima e para baixo e tentando acompanhar seus passos, os quais se inscreviam ao cargo apenas para ganhar créditos e pagar a faculdade.

Mas não Yamaguchi. Yamaguchi Tadashi foi como um tornado, surgindo sem aviso e devastando seu mundo estável de vitórias consecutivas e postura inabalável.

A primeira vez em que ouviu seu nome, Tsukishima havia acabado de conquistar seu primeiro ouro no Phoenix Open. Na saída da premiação, ele segurava o troféu de vidro com certa dificuldade nas mãos (por que diabos essas porcarias tinham de ser tão grandes e pesadas?) e o suor escorria pelas laterais de seu rosto após uma longa tarde sob o sol ardente do Arizona. Antes de poder se retirar aos salões do TPC Scottsdale, encontrar uma garrafa d'água e mergulhar embaixo de um chuveiro gelado, ele teve de parar para conversar com a imprensa – odiava essa parte, mas, infelizmente, fazia parte do contrato. Bastou colocar o pé para fora do campo para que fosse cercado por câmeras e microfones em poucos segundos. Os jornalistas perguntavam várias coisas ao mesmo tempo, mas parecia haver um consenso em deixar representantes de jornais maiores fazerem grande parte delas. Tsukishima reconhecia alguns rostos entre eles – pessoas que o acompanhavam desde seu início de carreira, quando ganhou destaque no U.S. Kids Golf, aos sete anos –, mas, como usual, não fazia ideia de quem eram.

– Tsukishima, é verdade que você vai tentar um Grand Slam esse ano? – perguntou um dos homens mais velhos, de cabelo grisalho, da CBS Sports.

– Eu vou. – disse com simplicidade.

– E não está nenhum pouco receoso? Apesar de seus ótimos resultados nas últimas edições do US Open e da British, o Masters e o PGA Championship sempre se demonstraram um desafio ao seu jogo longo. Alguma nova estratégia debaixo da manga para nós dessa vez?

Foi preciso muito esforço para que Kei colocasse um sorriso no rosto. Era descaradamente falso e arrogante, mas, pelo menos, era um sorriso. Seu pai não poderia reclamar disso depois.

– Vocês terão de esperar para ver. – falou em falsa simpatia. Na boca, havia um gosto amargo de repulsa.

Após responder a mais quatro questões da imprensa (cinco era seu máximo permitido), Tsukishima já se preparava para ir embora quando foi impedido por uma voz feminina destacando-se entre os ruídos de conversa:

– Sr. Tsukishima, uma última pergunta: qual é sua opinião a respeito do novato da Califórnia que quebrou seu recorde de 261 pontos no John Deere Classic?

Aquilo foi tão repentino e inesperado que o pegou de surpresa. De início, pensou que não havia escutado corretamente. O quê? Entretanto, assim que se voltou para ela, a seriedade em seus olhos e a sede por um furo de reportagem escancarado em seu rosto juvenil o fez entender que era verdade.

– Eu não estava ciente disso. – falou ele, e se sentiu idiota ao proferir aquelas palavras. Que tipo de pessoa não era notificada a respeito de um recorde quebrado? Ainda mais seus notórios e inalcançáveis 261 pontos. Quando fez aquela marca histórica aos vinte anos, falou-se por meses da provável impossibilidade de superá-lo no futuro. Aquele desconhecido tinha feito quanto? 259? Impossível.

Um sorriso levemente malicioso ocupou os lábios da jornalista.

– Bom, ele vem fazendo uma campanha sensacional no Norte e críticos de todo mundo estão ansiosos para ver seu desempenho nos Majors. – falou ela, animada por ter conseguido a atenção de Kei; provavelmente tratava-se de alguém de um jornal pequeno e esta seria sua primeira oportunidade de ganhar destaque no noticiário. – Está com medo do que vem por aí? Thomas Nyter quebrou a tradição e não conseguiu se classificar à vaga no PGA Tour por conta de Yamaguchi, que o bateu no par 71. Talvez os ares para seu Grand Slam não estejam tão favoráveis quanto acha que estão.

FAIRWAY FOR TWO ; ( 𝒕𝒔𝒖𝒌𝒌𝒊𝒚𝒂𝒎𝒂 )Onde histórias criam vida. Descubra agora