Sem dor

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Depois de algumas horas do amanhecer foi quando nós decidimos sair de casa, esperamos a rua estar devidamente vazia para isso.

—Tem certeza de que estão mortos? Desculpa, mas eu tenho que perguntar uma última vez.

— Estão mortos, a não ser por uma coisa no cérebro que os faz levantar e sair andando por aí, comendo qualquer coisa que se mexa. — Eu o tranquilizo

E como se esperasse a deixa, um dos mortos se levanta no meio fio e vai na direção de Rick, que está armado com um taco de basebol.

Depois de várias tentativas, finalmente Rick consegue matar o zumbi, mas é claro que a força dos golpes o fez se machucar também.

— Acho que vou precisar de um tempinho.

— Ok. — Digo tentando conter uma risada que insistia em vir.

Não era engraçado. Para qualquer um com o mínimo de bom senso, aquilo não era engraçado, mas ver Rick todo desajeitado tentando desesperadamente matar um zumbi era meio hilario para mim.

Porra, eu não podia evitar.

Após a tentativa de Rick de matar o zumbi, nós quatro fomos até sua casa, ela era grande, linda, eu conseguia imaginar uma família feliz vivendo aqui.

Com certeza eu amaria ter crescido nesse tipo de casa.

— Estavam vivos, minha mulher e meu filho, pelo menos estavam quando eu saí.

— Como pode ter tanta certeza? — perguntei olhando ao redor.

—É, pela aparência desse lugar... —Morgan dessa vez

—Achei gavetas vazias no quarto, levaram umas roupas, não muitas.

— Qualquer um pode ter entrado na sua casa e roubado roupas, eu mesma já fiz isso.

—Está vendo fotos nas paredes? Eu também não. Algum ladrão teria pegou fotos? Você já pegou fotos?

Olhando ao redor, agora eu via, sem fotos nas paredes, pelo menos nenhuma da família de Rick.

Mas não significava que não estavam mortos.

Discutimos durante algum tempo sobre a possibilidade da família de Rick estar em Atlanta, mas eu tinha minhas dúvidas, o exército não parecia lá essas coisas quando comparados com um exército de mortos vivos.

O xerife pegou algumas chaves e nos levou a delegacia onde ele trabalhava, estava tudo escuro, e se não fosse pela rosquinha mordida que agora estava mofada em cima de uma mesa eu poderia jurar que este lugar nunca fora habitado.

Rick nos levou direto para o banheiro e descobrimos que o gás ainda funcionava.

— Vou esperar vocês lá fora, não acabem com a água quente!

Depois de um tempo os três saem e me dão acesso ao chuveiro.

Soltei um suspiro de alívio assim que senti a água quente atingir meus ombros e relaxei, ou pelo menos tentei.

Demorou um tempo, mas elas vieram, as memórias da vida bem no começo dessa merda. Normalmente elas apareciam como sonhos, mas ultimamente elas têm aparecido toda vez que eu abaixo a guarda.

Eu pensava nela. Em como ela era feliz, como a risada dela parecia algum tipo de animal engasgado e de como ela era sempre irritantemente otimista e empática. Como nós éramos opostas em tudo...

Eu me lembrava de quando estava magoada ou com raiva em todas as malditas vezes ela conseguia me tirar um sorriso.

Mas nada disso era ruim, o ruim vinha depois, quando eu me lembrava do dia em que ela morreu. Eu me lembrava de seu sangue por toda parte. De suas lagrimas doces e um sorriso fraco para me tranquilizar mesmo que estivesse agonizando de dor. Isso era ruim, essas lembranças eram a pior parte do meu dia.

Running up that hill | Rick Grimes(REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora