Capítulo 4

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7 de Maio de 2005

Isso deveria ser impossível. Não deveria ser o Malfoy ali, mas sim Rony. Por que ele me olhava daquele jeito, como se visse algo tão preciso que se piscasse, correria o risco de desaparecer. Algo que se vê apenas uma vez na vida.

Um nó se formou em minha garganta.

Cada passo mais perto.

Perto dele.

Por qual razão parecia tão certo?

Mesmo que só estivéssemos nós dois naquela floresta, parecia tão certo e errado. Uma árvore gigante brilhante, rodeada de borboletas roxas brilhantes que a cada bater de asas deixava um rastro, várias outras borboletas voavam à nossa volta. Meu estômago se revirava e meu coração batia igual um louco contra minhas costelas. Isso era errado, porém, por qual razão parecia tão certo.

Ao chegar no altar improvisado, percebi o quanto tremia. Com cuidado pegou minha mão e a levou até os lábios, direcionando seu olhar ao meu. O buquê desapareceu, não fazia ideia de quem havia tirado, apenas me importei em enxugar a lágrima solitária que escorreu por seu rosto pálido. Seus olhos de perto pareciam a própria prata derretida, os poucos detalhes azulados deixavam-o ainda mais bonito. Havia tanta alegria em seu olhar, bem diferente das últimas que o tinha encontrado.

— Eu prometo, que mesmo que eu me quebre em mil. Farei você feliz.

Como podia falar algo assim e irradiar tanto amor. Algo molhou minha bochecha, seu carinho parecia tão sincero para alguém que me odiava, sentia medo. Medo do que o que quer que fosse isso, causaria. Respirei fundo. Poderia tentar negar, mas jamais. Jamais poderia negar algo que estivesse estampado na minha frente.

Seria tolice negar.

— Sempre estaremos juntos. E lutaremos juntos — Acariciei sua bochecha. — Não poderia permitir que você fizesse tal sacrifício por mim.

Abraçou-me apertado.

— Eu te amo — a sinceridade em sua voz apenas me fez apertá-lo entre meus braços.

— Eu amo você, Draco. Ah... como eu amo! Quando fizermos oficialmente, jamais se livrará de mim.

Se afastou. Com delicadeza beijou cada lágrima.

— Filha?

Olhei em volta. A tenda estendida, o tapete vermelho, Rony. Tinha voltado. Minha cabeça doía.

— Me diga o que sente — Papai estava preocupado, todos me olhavam assim.

Curvada com a mão no peito, parada no meio do caminho ao altar era assim que me encontrava. Olhei Rony, tristeza e compreensão refletiam em seus olhos verdes como a grama na primavera.

Desejos eram desejos. Compromissos eram compromissos. Me comprometi em casar, isso é o correto a se fazer. Não?

— Estou bem, apenas senti uma pontada — Tentei recuperar a postura.

Continuar aquela caminhada foi talvez a coisa mais dolorosa que eu tive que fazer nos últimos tempos. Um conflito interno aumentava ainda mais a dor, parecia que a qualquer momento minha cabeça explodiria.

— Estamos aqui para celebrar a união...

Tremia de dor, respirava cada vez mais fundo. Mentalmente estava sendo afogada quanto mais a dor aumentava, cenas e mais cenas inundavam minha mente. Coisas que eu achava ter acontecido com Rony passaram a ser com Malfoy, até mesmo as brigas idiotas. Coisas que não faziam sentido antes agora faziam. Não conseguia encontrar restos de Ronald naquelas memórias, era como se elas nunca tivessem existido.

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