Capítulo 3

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7 de Maio de 2005

Não conseguia parar de dar voltas pelo quarto. Meu ombro coçava que nem louco, não importava o quanto eu coçasse, não amenizava a formicação irritante. Queria tirar aquela merda daquele vestido desagradável. Meu ombro esquerdo talvez ficasse sem pele.

Olhei meu reflexo. Estava patética. Cabelos presos apenas numa trança normal e aquele vestido esquisito, olho o buquê em cima da cama, rosas amarelas. Parecia que eu iria para o altar com uma rosa que o significado da a ela o aspecto de presente amigável. O presente perfeito para uma amiga importante.

Reviro os olhos. Será que eles não podiam escolher algo com mais paixão, que representasse nossos tempos em Hogwarts? Aumento a intensidade com que esfrego o tecido contra minha pele.

— O que foi filha? — ouço minha mãe.

Ela trajava um vestido leve azul tão escuro que parecia ser preto, os cabelos presos num coque e uma maquiagem leve, tirando o lápis em volta de seus olhos castanhos. Pode enxergar apesar da grossa camada de base e corretivo embaixo de seus olhos os bolsões escuros, demonstrando que não havia dormido bem além dos olhos inchados como se tivesse acabado de chorar.

— Nada, só estou nervosa — e com uma coceira desgramada. — Tem alguma coisa de errado, mãe?

— Por que pergunta? — fitou o próprio cabelo como se fosse mais interessante.

— Mãe?

— Olha... eu apenas tenho medo que meu bebê jamais possa ser feliz.

— Não entendo o motivo para você estar dizendo isso...

Ela se aproximou com um sorriso triste.

— Eu sei que não, mas essa é a mais pura verdade. Tenho medo, medo de que quando tudo voltar — acariciou minha testa. — Você se arrependa de suas escolhas e por não ter percebido o que está aqui — tocou meu coração.

Ela queria dizer que eu não amava Rony?

— Mãe, eu amo o Ronald.

Algo parecia estranho em minha língua ao pronunciar aquelas palavras, parecia... tão errado.

— Sim... Eu sei que ama... — Meu coração afundou em meu peito.

Minha mãe mentia. Ela escondia algo, a sua tristeza ao me ver de noiva me dizia que tinha alguma coisa acontecendo que eu não sabia. Ninguém me avisou e eu sequer percebi. Fiquei tão fechada em casa lendo livros, tentando me refugiar nos romances entre inimigos como Alice Rossi e Marco Montes de E se eu precisasse de você que nem percebi as coisas em minha volta.

Ao ler senti insegurança em casar com Ronald, mas eu o amava, não o amava?

— Você parece tããoo... bonita.

Outra mentira.

— Eu vou me casar com a pessoa que eu amo.

— E ainda assim você não parece feliz como uma noiva, mas sim um viuva indo ao cemitério.

Antes que eu pudesse contrariá-la, meu pai entra. Porque ninguém parecia feliz por mim e em vez disso pareciam que viam meu enterro? O que eles não me contavam? O que ninguém me disse? Meu pai tentou me felicitar, mas ao dizer que me entregaria no altar, minha mãe desabou em lágrimas, e por mais que eu os questionasse, não consegui as respostas para tudo aquilo.

Quando eles saíram do quarto decidi deixar isso de lado e focar em ficar pronta para caminhar até o altar. Meu ombro ardia, com um certo sacrifício abaixei a manga e observei meu ombro. Estava vermelho e algo parecia querer despontar na pele. Suspirei erguendo de volta a manga. Seria pedir demais que o dia que deveria ser o mais feliz de toda minha vida fosse realmente o mais feliz de minha vida... ou ao menos feliz?

Pedir isso era ser egoísta?

Gina sequer passou por meu quarto, o vestido a cada segundo parecia pesar ainda mais. Os sapatos machucavam. O cômodo silencioso acabava comigo por dentro. Me aproximei da porta, não importava se ainda não era hora de entrar, queria apenas sair dali e respirar um pouco de ar fresco. As janelas abertas não bastavam. Tudo parecia sufocante ainda.

Doloroso.

Poluído.

O ar cada vez mais rarefeito.

— Não podemos contrariar nada, Gina! — ouvi a voz de Harry ecoar atrás da porta.

— Harry, deveríamos perguntar pelo... — Gina não pode terminar sua fala antes que Harry a interrompesse.

— Não vamos falar nada. Ela escolheu isso apesar de tudo. E nem venha Gina, sabe que se ela se sentisse diferente não estaria tão empenhada em seguir em frente com isso. Vou respeitar os sentimentos dela em relação a tudo isso.

— E como ele fica? Sabemos que ele não vai estar bem.

De quem eles falavam? Por qual razão pareciam tão preocupados com ele ao mesmo tempo que não podiam contar sobre ele a mim. Não seria o homem do sonho... seria?

— Não tem nada que possamos fazer sobre isso e você sabe. Não era para dar certo e pelo jeito nem foi tão importante assim para que ela não sinta nada por mais ninguém.

— Shhi! Vamos logo para a cerimônia. Tem gente vindo.

Pisquei algumas vezes encarando a porta. Eles escondiam algo de mim, algo que pelo jeito eu deveria saber, mas não sabia. Abri a porta pronta para enfrentá-los apesar da dor de cabeça ameaçando voltar.

— Está na hora. Aconteceu alguma coisa? — perguntou meu pai.

Ele estava na frente da porta assim que a abri, com a mão no ar pronta para bater. Dei um sorriso.

— Nada. Vamos?

Apesar de seus olhos me avaliarem, como se vissem a vontade de correr para longe dali correndo por minhas veias, consumindo meu ser. Cada passo fazia uma pontada atingir meu crânio, cheguei a quase tropeçar por causa da dor. Tudo estava dando errado naquele dia. Vi aquelas fileiras cheias de amigos e familiares. Harry, Gina, Luna, Blás (namorado da Luna) e meus pais pareciam estar assistindo a morte de alguém. Harry tentava sorrir, porém, seu sorriso saia tão forçado que ele desistia.

Porque eu não sentia felicidade irradiando por meus poros? Por qual razão sentia que estava me afogando numa mentira? Olhei Ronald, todas as memórias pareciam se inundar com uma névoa, seu rosto se distorcia, parecia tão errado querer lembrar de momentos entre nós dois.

Rony parecia triste, tenso e perdido. Não tinha felicidade em seu rosto ao olhar para mim, parecia arrasado. As pontadas iam aumentando ainda mais junto a névoa. Pisquei. Apenas pisquei e Ronald foi substituído por Draco Malfoy. Um terno preto feito sob medida, apenas eu e ele na sala precisa.

Me olhava tão intensamente que eu ardia prestes a entrar em erupção. Um buquê de rosas coral e algumas rosas vermelhas discretamente entre elas. Um sorriso idiota quase rasgava meus lábios. Tudo era lindo. Lindo por uma eternidade. Tudo era perfeito. Me sentia feliz. De certa forma me casaria com o amor para minha vida.

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