Capítulo 1

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  — O que ela está fazendo aqui? — Verônica perguntou surpresa e com certa irritação. 

  Para início de conversa ela não estava feliz por ela mesma estar ali. Sabia que Glória estava tentando afastar ela da ação e não estava nada feliz com isso. Sabia que o círculo estava se fechando em sua volta, prender Matias foi apenas o começo, no fim das contas sua prisão só acarretou ainda mais problemas. O homem se recusava a falar e com ele estando em prisão domiciliar (o que Verônica achou muito pouco para um monstro como ele) não havia muito que elas pudessem fazer, não é como se Verônica pudesse andar por aí em público, embora tivesse convencido o mundo de que estava morta o mesmo não se aplicava a máfia que agora queria ver seu corpo carbonizado de verdade.

   — Ela está aqui porque você estava certa. — Glória respondeu firme. — Ela quer ajudar.

  Verônica fica momentaneamente surpresa. Ela não esperava que a loira realmente atendesse ao seu pedido, ou melhor, seu desafio.

  Flashback on

  Três noites atrás…

 "Na minha casa em meia hora, escrivã." 

  Assim que ouviu a voz firme saindo do telefone, sem nem dar tempo de ela responder, Verônica soube que obedeceria. Ela riu consigo mesma assim que se viu ligando a moto  e desistindo do que ia fazer, para fazer exatamente o que a mulher mandou. Era engraçado como ela sentia essa necessidade de obedecer a delegada mesmo que as duas não trabalhassem mais juntas e sequer tivessem jamais se gostado.

  Verônica até tentou ser gentil com a loira no início, mas após dois meses levando patadas e sendo humilhada no trabalho a admiração que tinha pela mulher se transformou em raiva. Anita era o diabo em forma de gente, sempre a tratava mal, a subestimando na frente de todos, até mesmo quando ela era uma peça chave em algum caso, Verônica não conseguia entender isso. O que ela tinha feito de tão ruim para merecer esse tipo de tratamento? 

  Foi só há alguns dias que ela viria a descobrir que, na realidade, não foi nada que ela fez, mas alguém que ela admirava, seu próprio pai. Seu mundo caiu ali. O pai dela tinha feito Anita entrar nessa vida, era por causa dele que ela tinha se tornado essa mulher fria e sem coração. Verônica não conseguia deixar de se sentir um pouco culpada, a raiva ainda existia, mas parte dela agora também estava ressentida e um pouco magoada. Ela não tinha nada a ver com os negócios de seu pai. Anita o odiava tanto para não saber separar isso? Ela não conseguia aguentar ver Verônica sem lembrar do homem que teve uma participação tão significativa para destruir sua vida?

  Ela não conseguia parar de pensar enquanto apertava as mãos em volta do guidão da moto e o vento batia em seu cabelo. Seus pensamentos frenéticos raramente as deixavam agora, não era fácil descobrir que tudo que você acreditou a vida inteira era mentira.

  …

  Verônica suspeitou assim que viu Matias na porta da casa da mulher, ela parou a moto há alguns metros da casa e quando se aproximou viu o homem batendo. Ele estava tão tranquilo quanto das outras vezes em que ela o viu. Verônica ficou furiosa. Anita a chamara  aqui para uma armadilha? Para ela e Matias a pegarem? 

  Não. 

  Algo martelou na cabeça de Verônica, ela conhecia Anita, mais do que gostaria de admitir. Seu tom no celular era de ordem, mas havia algo mais nele, ela podia jurar que quase um tom de cooperação misturado, o mesmo que Anita usava quando se dirigia aos colegas ao definir seus papéis em alguma missão. Imperativo e firme, mas ainda cooperativo.

  E tinha algo errado com Matias, algo muito errado. Ele estava usando luvas, por que precisaria de luvas para visitar alguém? Verônica não se lembrava de vê-lo usando luvas uma única vez. 

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