4 O tapete manchado

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Eu estou deitada no tapete da sala olhando para a mancha de vinho que você deixou, já tentei de todas as formas tirar essa maldita mancha, mas simplesmente não consigo. Talvez seja como minha psicóloga uma vez disse, que eu não consigo retira-la porque ela está marcada em um lugar muito profundo. Dentro de mim. Como eu te odeio por ter marcado esse tapete. Por ter me marcado.

Ainda lembro da sensação de ter suas mãos percorrendo todo o meu corpo e o incendiando, ou de quando fazia cosquinha até eu implorar para parar. Perdi as contas de quantas vezes me peguei te amaldiçoando por causa disso, mas hoje, até esses momentos me dão saudades. Hoje posso deitar na minha cama tranquilamente, sem me preocupar dela estar molhada porque sua maldita toalha estava em cima dela. Quando saio do banho logo pela manhã, não sinto mais o cheiro de café e por sua culpa passei a gastar dinheiro comprando café pronto. Não entendo como o meu nunca ficou igual ao seu, então simplesmente desisti de tentar.

Aliás, saudades do seu café.

Saudades de você.

Quando faço macarronada, ela dura uns três dias porque não tem mais você para come-la toda. Toda vez que vou ao mercado acabo pegando as torradas que você tanto gostava, é automático, mas então lembro que preciso tira-las do carrinho. Ainda tenho o hábito de olhar para a porta quando o ponteiro do relógio marca 19h, fico com a esperança de que a maçaneta vai girar e você irá entrar dizendo que trouxe comida japonesa para o jantar.

O relógio marca 20h e o ponteiro dos segundos continua funcionando.

O relógio não quebrou.

Talvez... eu esteja quebrada.

Levanto e tiro o tapete do chão, levo ele para a caixa de doação junto com os restos das suas coisas. Olho uma última vez para aquela mancha de vinho, em uma tentativa falha de te ter mais uma vez comigo.

Cartas aos (des)apaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora