8 Conheci alguém

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Eu conheci alguém – Foi assim que ele iniciou a conversa.
– A gente conhece pessoas o tempo todo, faz parte da vida – Levantei do sofá fingindo não ligar.
– Eu sei, mas não quis dizer dessa maneira – Escutei ele puxar a respiração como se estivesse tomando coragem – Eu quis dizer que estou gostando de alguém.
Silêncio, foi assim que ficou.
Eu paralisei por alguns segundos e tentei buscar algum traço de mentira no rosto dele, como se fosse algumas daquelas brincadeiras bobas do tipo “peguei você”. Porém, tudo que eu encontrei foi um olhar de medo e compaixão, como se estivesse esperando um grito de raiva e entendesse meu surto.
E, caramba. Como eu odiei aquele olhar.
Então apenas segui para a cozinha e coloquei água na panela para fazer um macarrão, buscando uma maneira de me distrair.
– Diz alguma coisa.
– Tipo o quê? – Pergunto ainda sem reação.
– Não sei, pode ser qualquer coisa – Ele parecia nervoso – Grita, me xinga de todos os nomes possíveis e impossíveis. Faz qualquer coisa, só não deixa ficar nesse silêncio.
Eu tinha uma pergunta pairando sobre a minha cabeça, acho que qualquer pessoa teria se estivesse na mesma situação que eu estava. Apenas precisava de coragem para faze-la, e principalmente para escutar a resposta.
– Você me traiu?
– Não. Nunca.
Ele levanta e fica parado com as mãos dentro do moletom, apenas me olhando. A bancada da cozinha nos separava, mas parecia que existia km de distância.
– Eu jamais te trairia.
– Carnal talvez não, mas traiu.
Silêncio, foi o que restou.
Eu não gostava disso, não era só pela situação. Era que nunca fomos um casal assim, que brigava e ficava sem se falar. Pelo contrário, a comunicação sempre foi o ponto alto do nosso relacionamento. E saber que aquilo mudou era como se tivessem enfiado uma faca no meu peito.
Peguei alguns ingredientes na geladeira e comecei a cortar para preparar o molho. Precisava me preparar para o que estava por vim.
– Como vocês se conheceram?
– Tem certeza que quer falar sobre isso?
– Certeza eu não tenho de nada, mas é isso ou a gente pode ficar nesse silêncio constrangedor que se instalou.
– A gente se conheceu na faculdade através de alguns amigos em comum, acabamos nos aproximando e foi isso.
– E você a ama?
– Acho que amar ainda não é a palavra certa, mas eu gosto dela.
– Mas e eu?
– Como assim?
– Você me ama?
Silêncio novamente.
Gostaria de não o conhecer tão bem, de não o entender pelo olhar, ou que quando está nervoso morde a bochecha esquerda. Eu não queria saber essas coisas porque talvez assim, não doeria tanto.
Ele poderia não ter me traído, mas era como se tivesse. Eu sabia que no momento em que a conversa terminasse e a porta fosse fechada, ele não seria mais meu. E eu queria agarrá-lo e trancar aquela porta com sete chaves para que ele não pudesse sair, mas sabia que não poderia fazer isso.
Então respirei fundo, sabendo que não teria mais volta e repeti a pergunta.
– Você me ama?
– Não.

Cartas aos (des)apaixonadosOnde histórias criam vida. Descubra agora