— Eu já tô na esquina, pelo amor de deus, PARA! — mentiu Taehyung, em entonação crescente de irritação suprema.
Eram oito e alguns quebrados da manhã de quinta e não era segredo para ninguém que ele não era uma pessoa muito matinal. Contudo, Jungkook parecia fazer questão de não dar a mínima para aquilo, ligando a cada cinco minutos para o celular do teacher Kim, como se quisesse fazê-lo se arrepender de ter lhe dado o número pessoal.
Para não se aborrecer mais do que o limite que o impedia de cometer crimes de ódio, Taehyung rejeitou todas as sete ligações que vieram nas cinco quadras seguintes até a casa do professor fundador dos looks monocromáticos com orgulho. Tinha sido exatamente assim todos os dias naquela semana — somente um pouco diferente na terça porque Taehyung estava mais ranzinza do que nunca e decidiu desligar o celular.
— Você não queria tanto que eu chegasse?! — gritou Taehyung, buzinando enquanto Jungkook trancava a porta do prédio bonitinho de três andares em que vivia, com toda calma do universo concentrada na mão que girava a chave. — Eu vou embora!
— Ah, você não é nem maluco — disse o Jeon, com um sorriso debochadíssimo no rosto enquanto descia a escadaria como se fosse a própria Beyoncé. Então, o Kim ameaçou, dando uma arrancada com o carro. Na mesma hora, o sorriso do outro se desmanchou, os olhos arregalaram e ele passou dos primeiros degraus no topo ao último tão rápido que parecia que a escada não existia.
— Bom dia, você sabia que da minha janela dá pra ver a esquina da rua quando você diz que tá virando né? — Jungkook comentou, enquanto colocava o cinto de segurança.
— E daí? Eu não sei pra que essa perturbação se você nunca nem tá na porta quando chego — rebateu, carrancudo.
— Porque, se eu deixar por sua conta, nós chegamos lá mais atrasados do que já chegamos todo dia — disse, franco, e era verdade. Tinha acontecido na segunda-feira, quando aparentemente o Jeon se traumatizou.
— Que exagero!
— Eu nunca vi um ser humano que consegue se atrasar como você, Taehyung. Aposto que você fica no limite das advertências de pontualidade todo mês. — Era verdade também, mas o Kim nunca admitiria.
— Mais alguma acusação injusta?
— Nossa, não precisa ser assim, sweetie! Ainda bem que eu pensei na música perfeita pra começar o dia de hoje com a melhor energia. Vamos manifestar coisas boas, Teacher Tae! — Jungkook falou, cheio de empolgação e Taehyung revirou os olhos para não rir porque aquela alegria era tão genuína que ele não podia evitar achar uma graça.
Então, Don't Worry, Be Happy começou a tocar e a gargalhada do Kim foi inevitável diante de um Jeon McFerrin Jungkook encarnado. Quando o carro foi dominado pelo som de Is This Love, Taehyung já se sentia menos contaminado pela energia do proletariado em dia de semana e mais contaminado pela energia do reggae internacional. Quando o estéreo começou a reproduzir I'm still in Love, ele já não tinha mais estrutura de rigidez para impedi-lo de cantarolar mais contidamente ao lado do espirituoso amante da música Jungkook. Aquilo também acontecia todos os dias — cada dia com um gênero diferente, alguns dias com uma mistura absurdamente eclética.
A verdade é que, àquele ponto da semana, o professor Kim já não sentia o peso de detestar estar com Jungkook como o mesmo de antes. Havia ainda uma revolta, o estresse e, havia de se convir, o novato era um ser humano consistentemente irritante. Mas, também havia de se convir, ele não era o pior ser humano do mundo. Na verdade, Jungkook tinha um espírito um tanto quanto interessante e transmitia ao mundo uma energia naturalmente calma e pacífica. No fim, ele até que era suportável. E, até aquele momento, era o máximo que Taehyung admitiria se perguntassem.
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Teachers' room [Taekook]
FanfictionA Purpura English School de Seul contava com excelentes professores e, com certeza, Taehyung não era o mais exemplar deles. Atrasos, problemas com prazos, uma seleção de roupas bem alternativa e um método de ensino ainda mais alternativo eram só alg...