apenas o começo

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Pego meu celular e vejo várias mensagens da Robin me perguntando o que houve, se estou bem..

Eu começo escrever mas olho para meu pulso marcado e então apago as mensagens e jogo celular na cama

Me jogo para trás na cama também

Sinto meu corpo afundar no colchão, vejo o teto fazendo ondas como o mar

Nem lembro a última vez que comi
Só de pensar em comer já me dá ânsia

Nunca fui de negar comida mas eu sinto como se estivesse cheia, satisfeita.. mesmo sem comer nada

Fecho meus olhos e sinto meu corpo balançando

Tento me imaginar no mar

Na época que eu e Steve éramos novos
Íamos surfar todo fim de semana

Ele me ensinou tudo que sei sobre o mar

Eu amava isso

Acho que nunca vou sentir isso de novo

Me levanto e olho embaixo da minha cama

Puxo a caixinha de lembranças e me sento no chão

Abro e fico olhando nossas fotos juntos

As flores murchas que ele me deu, cartões de aniversário, pacotes de presentes que ele me deu, cartinhas, desenhos

Sinto minha garganta embolar

Respiro fundo limpando a lágrima que escorreu na minha bochecha

Eu estraguei tudo, eu nunca devia ter deixado ele falar aquelas coisas, ou então devia reagir de outra forma invés de ficar com ele...

Ele já estava conformado em ser meu amigo

E eu estraguei tudo

O Jonathan me avisou e eu não escutei

Eu sinto falta do meu amigo

Das noites em que assistíamos séries, comendo pipoca e brigando pelo refri

De dormir com ele sem nenhuma maldade na mente

Da minha mãe nos carregando como irmãos pra todo lugar

Dos natais e viradas de ano juntos

Como eu estraguei anos de amizade em menos de três meses????

Eu sou ridícula

Eu fecho a caixa e começo me perguntar o quanto eu apanharia se o Billy achar essa caixa...

Eu pego a caixa e um maço de cigarro e saio do quarto

Minha mãe está na sala

Ela tenta falar comigo mas eu pego um isqueiro na cozinha e saio

Me sento na calçada

Fico olhando a casa do Steve no fim da rua, as luzes apagadas

Risco o isqueiro e acendo um cigarro

Eu começo andar pela rua em direção sua casa

Seu carro está parado para fora

Eu o conheço, aposto que está aberto

Puxo a porta e ela se abre

Dou um sorriso, coloco a caixa no banco do passageiro e fecho a porta

Ando para minha casa e me sento na calçada novamente

Meu cigarro começa queimar meus lábios, eu deveria apaga-lo pois já acabou

Mas eu sinto um certo conforto em senti-lo me queimando

Sinto alguns pingos caindo em mim

Me levanto, jogo a bituca no chão e entro

Passo por minha mãe e ela segura meu braço

- Filha.. deixa eu explicar, senta comigo. Vamos jantar juntas

- Não estou com fome

Respondo puxando meu braço e subindo as escadas

Tranco a porta de meu quarto e começo procurar alguma coisa

Nem eu sei o que eu procuro

Alguma coisa que eu possa quebrar talvez

Vejo um copo na minha estante

Eu o arremesso contra parede

Um barulho seco ecoa pelo quarto enquanto os cacos voam em minha direção

Um deles corta minha bochecha levemente

Cubro meu rosto e o restante pega no meu braço

Olho aquela bagunça

Escuto minha mãe perguntando o que aconteceu

Me deito em baixo da coberta e pressiono o travesseiro contra minha cabeça

Abafando qualquer pensamento e barulho de fora

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